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A brincar às sondagens

por DBH, em 04.05.09

Perante a última sondagem - que nos media e em alguns blogues tem passado como duas sondagens diferentes, em vez de duas perguntas da mesma sondagem - do CESOP da Universidade Católica, tem havido dois tipos de reacções: a primeira, mais óbvia, de surpresa e estupefação perante uma estimativa que dá o mais baixo resultado de sempre ao CDS (2%!); a segunda, mais Marcelo Rebelo de Sousa, que tenta confirmar neste estudo a velha ideia que o CDS não existe, não faz sentido ou não oferece nada de bom à política portuguesa.

 

Como seria de esperar, e ainda bem, esta estimativa, o seu método e  as conclusões têm sido alvo de debate até no blogue do Director do CESOP. Pedro Magalhães, como de costume, tem sido generoso na atenção que dá a quem o questiona (eu, entre outros) e a quem o critica.

 

O problema da substimação do CDS nas sondagens não é recente. O Próprio Pedro Magalhães já questionava, em 2005, honestamente:

 

"Por que razão tendem as estimativas de resultados publicadas antes das eleições pelas diferentes empresas de sondagens a subestimar aquela que acaba por ser a votação do CDS-PP? A primeira e única resposta categórica a esta pergunta é simples: não sei. "

 

A razão que avança para esta questão, referente ao voto em urna, é simples: os inquiridos mentem - no fundo, a "ocultação diferencial" é o mesmo que a frase do Dr. Greg House, "everybody lies".

 

O problema com esta explicação - que serve, igualmente, para a não utilização da recordação de voto como meio para evitar desvios da amostra - é que a mesma explicação inutiliza qualquer sondagem: se se mente em relação ao CDS, não se mentirá, também, em relação à certeza de ir votar (isso sim, com uma carga de responsabilidade cívica e social relevante, especialmente em certos estratos da população?), que é a forma como a estimativa do CESOP é realizada?

 

Na transparência com que responde às questões, Magalhães apresenta um quadro que mostra os desvios do CESOP em relação aos resultados do CDS. O meu coração de militante, rejubila com tamanha atenção, mas pede ainda mais dois esclarecimentos...

 

Como Pedro Magalhães bem sabe, as sondagens a três ou  quatro meses das eleições são inverificáveis, mas não deixam de ter consequências políticas - condicionar o voto útil, criação de factos políticos, aumentar ou diminuir a vontade de ir votar, etc. - mais ainda quando "estimam" o desaparecimento da representação parlamentar de um partido fundador da deocracia portuguesa, como nesta última estimativa da Católica. Claro que se pode voltar a dizer que o CDS tem um late surge, mas se isso ocorrer sempre não há que rever o método da estimativa?

 

O esclarecimento que se pede, é saber qual o resultado que foi estimado para o CDS, pelo CESOP, nos meses anteriores (e não só na última semana) aos actos eleitorais. Em 2005 e 2002, por exemplo.

 

E, já que estamos no âmbito da boa-vontade e da transparência, seria relevante saber quais as freguesias testadas, para se conhecer a amostra.

 

A importância desta questão para um partido, ao contrário do que Pedro Magalhães afirma, não é apenas para "fins de consumo interno". Uma capa de jornal que preconiza o fim da representação de um partido não pode ser "só uma sondagem", como afirmou. É uma questão de responsabilidade cívica.

 

 

Disclamer: Sei muito pouco sobre sondagens, algo do que aprendi foi através de artigos e livros sugeridos no blogue de Pedro Magalhães. Presumo, no entanto, que se há um padrão de subvalorização do resultado de um partido por um método de sondagem, o normal será questionar o método? É que as alternativas, que aqui não faço, são questionar o instituto e o trabalho feito.


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De Pedro a 04.05.2009 às 17:11

A realidade é que muitos votantes do CDS, sobretudo no litoral e nas grandes regiões urbanas têm «medo» de assumir a intenção de voto num partido considerado de extrema-direita, com medo de levarem uma «coça» como aconteceu recentemente ao Avô Cantigas.
Com a quantidade de «extremistas» de esquerda que povoam essas regiões, todo o cuidado é pouco.
Por outro lado, é um facto que é um partido considerado «elitista» e como tal, muitos dos seus eleitores receiam que ao assumir a intenção de voto no partido estejam a considerarem-se, eles próprios, elitistas.
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De DBH a 04.05.2009 às 17:18

Caro Pedro,

Não sei se a explicação é essa. Mesmo que a questão seja a "mentira" em relação à intenção de voto, a minha questão é que se se nota um padrão - de um determinado método, para não dizer instituto -, quem realiza a sondagem deve tentar descodificá-lo e corrigir.

Dizer que quem não acredita está preso a uma "crença" que os números desmitem é não olhar para os resultados eleitorais que é suposto estimar. Invertendo o argumento, não será antes uma crença acreditar num método que é desmentido pelo histórico dos resultados?

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