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Geração Quê?

por Francisco Mendes da Silva, em 12.02.07

Eu percebo que o Bernardo Pires de Lima tenha ficado satisfeito com o resultado do referendo. Mas nada justifica a conclusão abusiva - fruto do seu incontrolável optimismo liberal - de que há toda uma geração, orfã de representatividade partidária, que "quer ser dona da sua vida privada"

A maioria das pessoas da "geração" de que o Bernardo fala quer apenas o que todas as outras quiseram e quererão: identificação com os valores maioritários e "correctos" do seu tempo, integração no grupo e exteriorização (nos costumes, na roupa, no apetrechamento tecnológico, na "ideologia" professada) da ideia vigente de "modernidade".

É óbvio que a geração mais nova (aquela que, não por acaso, é o alvo preferencial da publicidade - que juveniliza e infantiliza cada vez mais todos os produtos, toda a realidade, todos os horários) votou conforme o progressismo acrítico que é o espírito do tempo. Só que, para sua desilusão, o espírito do tempo nada tem a ver com o do Bernardo. Até parece que não os vemos na rua e na Universidade. O que a "geração" mitificada pelo Bernardo quer é o colo seguro do estado, um contrato de trabalho eterno, trezentos contos até ao fim da vida, culpar os americanos pela desgraça do dia e encher a boca de proclamações vazias.   


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De Anónimo a 12.02.2007 às 22:47

Pelo contrário, parece-me ser uma geração que descobre que pouco pode esperar do Estado, que cresce a ouvir que a Segurança Social não dá para todos, que o Sistema Nacional de Saúde está falido, que não há empregos para a vida, que trabalhar com recibos verdes até nem é mau (porque há quem nem isso). Esta geração enfrenta outro degrau de alheamento, talvez um pouco mais perigoso, mais individualista (não necessariamente mais liberal), que se traduz nos grandes números de jovens que nem sequer recenseados estão.

E parece-me um pouco básico classificar de "acrítico" algo que vai contra aquilo em que acreditamos. A crença religiosa pode ser acrítica, a escolha de uma lado político pode ser acrítico, gostar de DiCaprio pode ser acrítico, ou não. Se nos vamos congratular e dar palmadas nas costas pelo facto da campanha ter decorrido num nível esclarecedor e tantas coisas boas, e depois dizer que as pessoas votam consoante vigências acríticas da "modernidade", parece-me um pouco... acrítico. Como nota, acho que esta geração já nem da palavra "modernidade" gosta, diz que soa a coisa de velho.
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De João a 13.02.2007 às 09:21

Ui...quanta acidez...quanto ódio aos jovens.
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De Ana G a 13.02.2007 às 11:04

Muito pelo contrário, meu caro. Esse "jovem" de que fala, morreu (ou está a morrer) com a geração dos meu pais. Já ninguém tem essas ilusões! E é como o Sr. Pires de Lima fala, eu sou órfã partidária. Sinto-me cada vez mais identificada com políticas de direita, mas vamos pensar Portugal , a única direita que existe é adoradora dos três pastorinhos. Amante da igreja católica e consequentemente "invasora" daquilo que só a mim me diz respeito. Fiquei a saber recentemente, que o Sr. Paulo Portas vai voltar. Não posso votar nele, e até gostaria. Apercebam-se de uma coisa, não há nada mais dissuasor do que um estado que use a sua força repressiva para se intrometer na minha vida privada. Adoraria ter uma direita com que me identificasse em Portugal e estou convencida que mudaria o nosso país para sempre.

Viva o Hayec !!!!

Um abraço

Ana G
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De Daniel MP a 13.02.2007 às 23:30

De facto, ao texto do Francisco Mendes da Silva só faltou mesmo a referência ao temor da ida para a guerra para me certificar que estaria a falar de uma outra geração (considerando a mandatória desvalorização da moeda).

Embraqueça o Dr. Paulo Portas o que quiser, continuarei a ter para contigo que ele será sempre um pouco mais baixo que El-Rei D. Sebastião.
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De fbarragao a 18.02.2007 às 20:29

Caríssima Ana (creio não ser necessário mencionar o G),

Percebo a sua reclamação relativamente a uma "direita" mais "liberal". Hayek (é mesmo com "k ") é uma referência interessante. Gostaria, porém, de recordar que Burke , o pai do conservadorismo moderno, era "whig " (liberal, portanto). Por vezes, até os paladinos da mudança temem coisas que vão longe demais, depressa demais.
E depois, que fazer com dois em cada cinco portugueses? Foi a quantidade de gente que votou no Não. Como Caminhante pela Vida, vi por lá imensa gente nova. Futuros eleitores. Acho prudente não lhes cercear um futuro programa político com uma ou outra causa conservadora. Afinal de contas, ainda aqui estamos e a tomada da Bastilha já foi há muito tempo.
Compreendo que a liberdade individual é um valor a preservar. Mas pense nisto: deve a lei encorajar a virtude (por assim dizer) ou apaparicar os caprichos? Desejo leis que tenham autoridade ética para dizer ao cidadão que deve ser punido caso cometa um crime (e os crimes, normalmente, começam por ser "pecados" ou acções pouco decentes). Caso contrário, se o que é ou não crime é com o próprio, qualquer coisa pode ser admissível. Em última análise, até a pedofilia. "Apeteceu-lhes", está a ver?
É esse o desafio: como casar liberdade com virtude? Liberdade sem virtude é libertinagem; virtude sem liberdade é tirania. Saibamos, pois, ser mais livres porque mais responsáveis. Se bem se recorda, a geração Woodstock também só fazia o que lhe dava na gana para chatear a moral tradicional. Deu no que deu. Até porque, se os liberais quiserem fazer algo neste país, terão de vir aliados aos conservadores. Já cá estávamos, e seremos bons anfitriões. Agora, que jamais se diga que todas as escolhas valem o mesmo ou merecem o mesmo respeito. Relativizar valores não é próprio de direitistas.

Esperando feedback da sua parte, e louvando a sua frontalidade e convicção,

Cordialmente,
Fernando Barragão.

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