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dá para não sermos tão politicamente certinhos?

por Rodrigo Moita de Deus, em 13.02.14

O instituto da democracia portuguesa fez ontem um indignado comunicado sobre a expulsão de António Capucho. Lendo até fiquei sensibilizado. Quase convencido. Juntam-se mais umas quantas notícias e comentários sobre a indignidade da “nova mocidade portuguesa passista, de fardeta neo-liberal”. Sou dirigente do PSD. E isso faz de mim a “nova mocidade portuguesa passista, de fardeta neo-liberal”. Mocidade, passista de fardeta ainda vá que não vá. Neo-liberal põe-me doente.

 

Vamos por partes para ver se a gente se entende:

 

“Considera o IDP que a aplicação cega do regulamento de disciplina, em vez da sagaz negociação com um fundador e dirigente histórico que deu continuadas provas de lealdade e prestou 40 anos de serviço à Pátria e a um Partido”

 

A contrario. Todos são iguais perante os estatutos. Todos menos António Capucho e qualquer outro que se tenha distinguido. Os estatutos não se aplicam a pessoas com o “estatuto” de António Capucho. Pois. Há qualquer coisa aqui que não bate certo.

 

“Que um partido expulse de modo cego um seu fundador é situação que só tem paralelo nos anos 30 do século XX, nos comunistas europeus.”

 

Anos 30 do século XX? Bom. Admito falta de letras do autor. 1989. Era eu pequenino. O militante número 6 do PSD “que fundou o partido com Sá Carneiro” é expulso por causa de uma entrevista em que criticava um governo do PSD. Assim. Sem processos nem formalidades. Diz a wikipedia que Cavaco Silva era presidente do partido e António Capucho seu vice-presidente. Cavaco nunca foi jotinha. Capucho também não. Decorem o nome. Carlos Macedo. Uma entrevista. No caso de Capucho deu dezenas e mesmo assim foi preciso candidatar-se contra o próprio partido para lhe acontecer qualquer coisa.

 

“Dificilmente encontramos em Portugal e na Europa, quem tenha desempenhado tantos cargos e com coerência: ministro, parlamentar, autarca e dirigente partidário.”

 

Verdade. Especialmente na parte “tantos cargos”. Ser profissional da política é uma opção tão respeitável como outra qualquer. O PSD abdicou de um dos seus mais ilustres e antigos profissionais da política.

 

Por tudo isto, não estamos perante um assunto interno do PPD/PSD mas perante um assunto de vida ou a morte da democracia portuguesa, enxovalhada com este ato, e a exigir uma reparação e um novo impulso.

 

Vida ou morte da democracia? Caramba. Se gostam assim tanto de Capucho até deviam agradecer. Ficam com ele só para vocês.

 

Uma nota final. António Capucho entra para a galeria de autarcas que, por uma razão ou por outra, discordaram com decisões dos seus partido e decidiram fazer as suas próprias candidaturas. São centenas. De quatro em quatro anos e em todos os partidos. É assim. É legítimo. E vai continuar a ser assim. E legítimo. E os estatutos aplicam-se a todos por igual. Um dia pode acontecer-me a mim. E lá estarei para entregar o cartão de sócio. No meio das centenas de cidadãos que fazem estas escolhas há uns mais conhecidos. Falo de Narciso Miranda em 2010 e Avelino Ferreira Torres em 2013. No caso do PSD de Valentim Loureiro e Isaltino Morais em 2006. É óbvio que António Capucho não é Valentim Loureiro ou Isaltino Morais. Até porque Valentim e Isaltino tiveram outra dignidade. Não esperaram por ninguém. Saíram pelo próprio pé. Vai daí "cessão de militância" é eufemismo. Isto foi mesmo expulsão. 


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

Sem imagem de perfil

De am a 15.02.2014 às 14:10

Mais um mártir Panteável!

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