Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
ECOS DE UMA CERTA ESQUERDA VESGA
Alertado por um amigo deste blogue, acabo de ler no Blasfémia, que desconhecia, uma pretensa resposta ao artigo de opinião publicado num diário on line, que subscrevi. Antes mesmo de uma contra-resposta, queria frisar duas coisas.
A primeira é o selo de direita que me é colado por defender a Monarquia e destacar a má-fé/ignorância de alguns dos que a atacam com chavões falsos. Que eu saiba, os defensores da Monarquia não são necessariamente de direita. Ainda recentemente, aqui mesmo ao lado, quem saiu a defender a Monarquia espanhola, atacada pela extrema-direita franquista e pelos independentistas, foram, em primeiro lugar, o Ministro da Defesa Bono e o Presidente do Governo Zapatero, que são socialistas. As monarquias europeias têm sido governadas por longos períodos por governos sociais-democratas que nunca puseram em causa o regime, facto que é incontestável, mesmo para quem tem mais do que “um acervo histórico de café”. Em Portugal o próprio PS tem inúmeros apoiantes monárquicos e teve um destacado dirigente histórico e anti-fascista reconhecido, José Luís Nunes, já falecido infelizmente, que sempre se afirmou monárquico. Eu sou de centro- direita, afirmo-o sem rebuços, mas não é por isso que sou monárquico. Conhecemos todos muitos republicanos convictos que pertencem à direita ou à extrema-direita. Como os há da esquerda e da extrema- esquerda. Uma coisa são os regimes, outra as ideologias que com eles convivem.
A segunda observação prévia é que cada um tem o nome que tem e que é pelo menos deselegante e pelo mais bastante rasca, usar como argumento político a forma de grafar um apelido. E se o Sr. Blasfemo se chamasse Zé dos Anzzóis, com dois zz?
Passando ao texto “blasfemo”. Não me referi a João Franco tanto por em 1910 o ex-Presidente do Conselho estar afastado desde 1908, por decisão do novo rei, D. Mnauel II, sucedendo-se desde então governos constitucionais em plena normalidade constitucional, como por a chamada “ditadura” de João Franco ter sido apenas o pretexto usado pela propaganda republicana para lutar contra o regime. Já em 1894 Hintze Ribeiro governara em “ditadura”, sem que se tivesse querido matar o rei para lhe pôr fim. Será comparável com as ditaduras republicanas de Sidónio, a Militar e a do Estado Novo (que até tinha parlamento eleito e tudo) e que somadas duraram mais de cinquenta anos, contra a de menos de um ano de João Franco? Claro que sei que muitos dos chefes de partidos da monarquia se opuseram a João Franco e o acusaram de ter sido a causa do regicídio. Sobretudo por inimizades políticas e pessoais e interesses partidários. Como sei que o governo da “acalmação” do Almirante Ferreira do Amaral não acalmou nada, mesmo cedendo aos republicanos, porque o objectivo era deitar abaixo o regime, fosse qual fosse o governo.
Quem parece não saber nada é o Sr. Blasfemo, que parece desconhecer que as prisões “em massa” e as deportações – prática corrente também nas I e II Repúblicas – , que foram sustidas pelo crime do regicídio, se deveram a uma abortada “intentona”, em 26 de Janeiro de 1908, em que os revolucionários estavam metidos até ao pescoço, não por serem apenas republicanos, porque entre eles havia também alguns opositores monárquicos de João Franco e que a expulsão dos republicanos António José de Almeida e Alexandre Relvas das Cortes, por dois meses, em 20 de Novembro de 1906, se deveu aos ataques soezes ao Rei D. Carlos e ao apelo à revolta dos militares, por parte do futuro Presidente da República. Os factos são os factos, por mais voltas que se lhes dêem.
João Mattos e Silva