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hardcore

por Rui Castro, em 30.11.07

Na rádio oiço diversos dirigentes sindicais regozijarem-se com o sucesso da greve geral. Ou porque há escolas encerradas ou porque em alguns hospitais, tirando os serviços mínimos, a greve atingiu os 100%. A incontida alegria, manifestada publicamente, não pode deixar de chocar. São milhares as pessoas afectadas pela não prestação dos referidos serviços públicos, com o adiamento de consultas marcadas há meses ou a necessidade de faltar ao trabalho para ficar em casa com os filhos. Aconselha o bom senso que os sindicatos tenham pudor na forma como apreciam os resultados do protesto, até porque, em bom rigor, os transtornos causados são um meio e não um fim. A satisfação, a serem verdadeiros os motivos invocados para a realização da paralização, ocorre (ou devia ocorrer) com a aceitação por parte do Governo das pretensões dos grevistas e não com o "mero" incómodo causado nas vidas de quem nada tem a ver com o assunto.


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De Eu a 30.11.2007 às 11:30

Já agora, como é que seria a ideia de greve para si ?
Ir trabalhar para não levantar muitas ondas mas, na afirmação plena das convicções, gritar bem alto :
"Estou a trabalhar, mas estou de greve !!"
É assim ?
Ou se calhar melhor : restringe-se de vez o direito à greve. Como de resto se tem feito com outros direitos.
E já agora, a talhe de foice, já que pretendemos acabar com direitos, que tal acabar com a liberdade de imprensa ? e com a liberdade de opinião ? E que tal impor de novo o condicionalismo industrial ?
Certamente, se tal acontecesse, a maioria dos neo-liberais que se fartam de debitar opiniões "sábias" sobre a sociedade e a economia, acabariam, no limite, por ficar sem os seus bem remunerados empregos.
Eu sou funcionário público, mas até nem estou em greve. Estou a trabalhar. Mas sabe, eu até gostava de não me preocupar com greves, se tivesse os mesmos direito e regalias que tem a maior parte das pessoas que conheço e que trabalham nas grandes empresas privadas de Lisboa. E estou aqui a comparar o que é comparável, ou seja, vamos ver de entre aqueles que são licenciados e estão acima dos 40 anos de idade, portanto, com alguma carreira já construída, quais são de facto as grandes vantagens de se pertencer a essa "cambada de exploradores" que se pretende que sejam os funcionários públicos.
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De Rui Castro a 30.11.2007 às 11:48

Meu caro Eu,
Porventura expressei-me mal. Não pus em causa a greve, nem sequer as razões que estão na base da mesma. Limitei-me a criticar os dirigentes sindicais que aparecem muito satisfeitos a dizer que há não sei quantas escolas fechadas ou hospitais a cumprir serviços mínimos. Por uma questão de decência.
Cumprimentos
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De Pedro Conde a 30.11.2007 às 13:20

Há que distinguir a liberdade do uso da greve, de libertinagem (não gosto da palavra, mas não me lembrei de outra) no uso da mesma. Se a greve é um direito assim tão fundamental é-me estranho que suceda sobretudo na função pública. Porque é que não me é familiar ver empregados de uma qualquer empresa privada, suponhamos, uma fábrica têxtil, em greve? Greve de trabalhadores protegidos pela lei, ok, mas esses trabalhadores não prejudicam outros senão os seus patrões. Os funcionários públicos em greve não prejudicam o seu patrão, prejudicam a população geral, e têm liberdade para o fazer quantas vezes quiserem. Não é um dos lemas primários no que toca a liberdade o de "a nossa liberdade acaba quando infringe a de um 3º"? Foi assim que me ensinaram na primária. E o porquê da greve? Porque se diz que, ao uniformizar os direitos com a generalidade da população (note-se que os funcionários públicos não são a maioria da população activa, convém frisar este facto) se infringe a liberdade, os direitos adquiridos de este preciso grupo! Direitos adquiridos cujo a maioria da população não dispõe, (daí muito boa gente lhes chamar de privilégios, o que eu concordo). Sei o que digo porque a minha situação familiar mo permite, tenho um membro no meu agregado familiar que é funcionário público e um no sector privado, sem bem as diferenças, e como surgiram.
No passado, a função pública (não havia falta de emprego para pessoas com formação) não era apelativa para os jovens e por isso se criaram os tais "direitos adquiridos" para chamar trabalhados que normalmente iriam para o sector privado atrás dos melhores salários. Ora como a situação se modificou de tal maneira (o passado a que me referia era em plena década de 60) que agora esses privilégios (não consigo chamar-lhes direitos desculpem) não têm razão de ser.
Hoje ouvia a TSF de manha, onde muitos funcionários públicos participaram, e ouvi uma senhora já de certa idade dizer "No sector privado, quando um trabalhador está descontente com as suas condições, não faz greve, procura novo emprego". Não me conotem como anti-grevista, não sou, a greve permite um importante equilibrio nos poderes, agora tenho pena que venha sempre associado a interesses partidarios.
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De David Silva a 02.12.2007 às 12:47

Meu caro, há algumas coisas que ainda não percebeu.
Vou tentar ajudar. Compreendo o post original - os sindicalistas deveriam ter algum cuidado com o que dizem e como dizem - mas a partir daí, nada mais.

Se os "privilégios" deixaram de fazer sentido (na sua comparação com o privado), porque é que os funcionários públicos estão preocupados? Com a sua experiência, certamente encontrariam lugar no sector privado!
A greve não é contra a perda de privilégios de uma minoria, mas contra a falta de condições de trabalho para uma boa parte da população activa - incluem-se vários profissionais que trabalham para o Estado e não são funcionários públicos (como eu, que sou professor contratado), falta de condições que geralmente leva ao transtorno dos utentes de cada serviço.
Para terminar, o seu argumento é tipicamente português: os funcionários públicos estão melhor que os outros, então acabe-se com essas "regalias". Porque não exige melhorias para o privado? Não sabe que o sector privado segue sempre a tendência do público?!
Se a sua vida pessoal permite ter conhecimento de causa, deveria raciocinar melhor acerca disso.

com toda a consideração,
David Silva
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De António a 30.11.2007 às 14:18

"Porque é que não me é familiar ver empregados de uma qualquer empresa privada, suponhamos, uma fábrica têxtil, em greve? Greve de trabalhadores protegidos pela lei, ok, mas esses trabalhadores não prejudicam outros senão os seus patrões."

Claro. As greves nas empresas privadas de transporte, por exemplo, só prejudicam o patrão. E por aí fora. Há quem ainda não tenha percebido bem o verdadeiro objectivo da greve. Mas pronto, apesar de não perceberem o que é uma greve, e ficarem muito admirados com o facto de os grevistas se regozijarem com os seus efeitos, vá lá, vá lá, que ainda concedem que os trabalhadores mantenham o direito à greve. Mas com muito respeitinho, cum pudor, decência e sem libertinagens... isto daria vontade de rir, se não fosse sério.
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De Pedro a 30.11.2007 às 18:46

Já agora agradecia um comentário às razões da greve, e a minha ultima afirmação, porque o "com pudor e sem libertinagens" como disse em bom tom de ironia, está muito ligado exactamente ao associativismo com certa força politica. Esse associativismo é que lhe tira a "decência" a meu ver. Estarei a ser assim tão radical? Será o bom senso um valor assim tão conservador? Se sim então realmente devíamos exportar esses valores por essa Europa fora que enfim vive sob jugo dessas faltas nas liberdades.
Mais uma vez volto a frisar que a função pública não é uma maioria. A maioria não tem por hábito as duas greves ao ano. Mas a maioria não expressa a vontade dos trabalhadores, pelo menos não tão bem como estes sindicatos de grandes dimensões nacionais (que também podíamos exportar, já que não são assim tão comuns).
Estou de acordo que se façam as greves, agora não como regra. Principalmente para defender privilégios que a maioria (quero mesmo frisar esta palavra) não dispõe. A democracia e todos os valores sociais em que acreditamos, ainda se regem pela maioria, ou não?
Acredito como já disse, no direito a greve, agora acredito igualmente na responsabilidade, bom senso e racionalidade aquando utilização da mesma, o que não sucede na função pública.
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De jal a 01.12.2007 às 01:47

«incómodo causado nas vidas de quem nada tem a ver com o assunto.» esta frase diz tudo sobre o pensamento do autor.
Ele acha que os «outros» não têm que ver com a defesa de direitos e interesses dos trabalhadores da Administração Pública. Aliás, para alguns nem era preciso existir Administração Pública, pois na sua liberal visão do mundo o Serviço Público é coisa de pobre e de sub-desenvolvido.
A realidade é que os «outros» têm tudo a ver com as razões da greve: emprego com direitos, melhores condições de trabalho, melhores salários, melhores serviços públicos.

Já agora: sou funcionário público, fiz greve e não admito que me digam que tenho regalias ou que não trabalho. Essa é a conversa de quem não tem argumentos para esconder as suas reais intenções acerca da suposta reforma da função pública - vender o país a retalho, privatizar tudo e navegar ao sabor do santo mercado e da vontade e interesse do patrão, sempre com os capatazes de serviço prontos para atacar esses malvados dos trabalhadores que só querem estar estendidos ao sol.

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