Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Deixando de lado as respostas mais panfletárias, raramente percebo bem o que move, em concreto, um político norte-americano. Com excepção das eleições de 2004 - nas quais, por clubite, publicitei conspicuamente o meu desejo de "four more years" para George W. Bush -, a política do lado de lá sempre me provocou mais enfado que comentários. Suponho que isso se deva ao mesmíssimo facto pelo qual por ela tanta gente se sente atraída: a retórica grandiloquente de uma nação líder e invejada; os propósitos messiânicos de um povo corajoso e exemplar; a constante presença do Bem, do Mal e de tantos outros conceitos puros que povoam as nossas consciências idealistas.
Talvez a coisa não pudesse ser de modo diferente. A América é um país gigantesco, que não só instiga esses sentimentos tonitruantes, como impede que de Washington se tratem todos os problemas circunstanciais de cada estado, condado ou cidade. De tal forma que o Presidente não tem competências decisórias sobre grande parte dos assuntos. Seja como for, verdade é que, habitualmente, os candidatos a Presidente - por comunhão com a predisposição colectiva ou resignação ao relativo vazio constitucional da sua função - se dedicam a discursos vagos sobre a "unidade", a "mudança", o "futuro" ou a "liderança". E eu, que aprecio gente articulada e inspiradora, prefiro ver esses dotes aplicados a discussões concretas. Gosto de debates ideológicos e acesos sobre os serviços de saúde, sobre os investimentos públicos, sobre as opções económicas, sobre a devolução de poderes, sobre as competências das escolas. Nas eleições americanas, dificilmente há uma discussão pública com verdadeiro interesse (se é que podemos chamar discussões àqueles festins sensaborões de pergunta-resposta-tem quarenta e cinco segundos) - ao contrário, diga-se, da opinião publicada. Percebe-se que algumas questões específicas são colocadas nas agendas dos debates apenas para uma mais fácil contagem dos pontos conquistados pelos participantes e, no final de contas, assistimos sempre aos mesmos discursos ocos e circulares sobre os mais belos sentimentos e qualidades da Humanidade.
No entanto, ainda há algumas surpresas. Por exemplo:
1. Que sentido fazem os ataques de alguma direita blogosférica portuguesa à retórica alegadamente alarmista e populista de Giuliani, só porque o homem tem lembrado a guerra contra o terrorismo como inacabada? Compreendo que a forma como os EUA governaram a transição no Iraque possa envergonhar; mas por acaso a Al-Qaeda e as agremiações suas afins depuseram as armas e foram reformar-se para a Flórida?
2. Muito me espanta que, em tantos aplausos a Obama por parte meus amigos direitistas (todos analistas atentos e cínicos sofisticados), nenhum deles tenha referido o factor mais decisivo da recente subida da sua popularidade.