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convidado especial - Valupi

por Rui Castro, em 23.04.08

O meu 31

O Rui Castro surpreendeu-me com o honroso convite para esta presença no 31 da Armada, e começo por saudar o crescimento da família do Rodrigo Moita de Deus, o qual também fecundou o Aspirina B com o seu humor marialva durante um breve, mas desopilante, período.

O meu primeiro problema, ainda antes da escolha do tema, é relativo à extensão dos vossos postes. São telegramas, quase todos, equivalendo cada um, em média, a um terço dos meus mais curtos parágrafos. Têm razão: a preferência pelo fast reading facilita a produção e o consumo. Mas essa dietética intelectual, podendo reclamar-se da insigne tradição epigramática, corre o risco de falhar alguns nutrientes necessários à vitalidade das discussões. A menos que seja a inevitável adaptação a uma audiência composta maioritariamente por hiperactivos com acentuado défice de atenção; perfil coerente com a feérica actividade de gestores e profissionais liberais, e também com as dinâmicas partidárias do PSD e CDS.

O desafio do Rui, o meu 31, implica tentar o registo provocatório. Pelo que comecei a escrever um texto, intitulado Cavaco 2.0, onde faria o panegírico de Sócrates. A tese era a de que José é cópia de Aníbal, mas em bom. Onde o filho de Boliqueime falhou, nomeadamente na criação de uma verdadeira cultura empreendedora e na deglutição de bolo-rei, o indígena de Maçada até irrita: acabou com a hipocrisia dos abortos hipócritas, conseguiu evitar a construção do aeroporto na OTA, aliou a táctica de José Mourinho com a técnica de Cristiano Ronaldo na presidência da União, salvou o BCP de cair no poço do Jardim, ajudou milhares de infelizes fumadores a livrarem-se do vício, fechou Urgências onde outros nem ousariam fechar frascos de água-oxigenada, mostrou que o professorado é a actual geração rasca, conseguiu cobrar impostos e congelar salários como ninguém antes e continuar a ser o preferido da populaça, tornou Público que José Manuel Fernandes é o novíssimo Homem SONAE, foi o primeiro governante a afrontar o Bokassa da Madeira, recebeu o apoio declarado de Proença de Carvalho para uma nova maioria e ainda o apoio encapotado de Rui Rio para as reformas. Como dizem os franceses, os de refinada erudição e, portanto, conhecedores do vernáculo português, Foda-se!

Desisti a meio, pois a temática não seria capaz de provocar mais do que um cansado sorriso complacente. Porque não seria nada de novo num blogue como este, apreciador de um líder às direitas. Pelo que vou chocar os estimados leitores contando a história da Crispin Porter + Bogusky, agência de publicidade que nasceu em Miami. Em 1988, Chuck Porter contrata Alex Bogusky como director de arte. Este, em 1993 chega a director criativo, a sócio em 1997. Depois saltamos por cima de um período em que se descobriu que uma agência em Miami – o análogo português seria relativo a uma agência de Faro – conseguia competir pelas maiores contas, ganhado às enormes e famosas agências de Nova Iorque e Los Angeles. Nisto, já chegámos a 2006. Este é o ano que nos interessa, pois regista a inauguração da CP+B em Boulder. Ora, a parte escabrosa desta história, como já todos adivinharam, é Boulder e nada menos do que Boulder. Para começar, a cidade fica no Colorado. É um Estado que nenhum ilustre visitante do 31 da Armada visitou ou quer visitar (e, se há quem me possa desmentir, que tenha a delicadeza de fazer cerimónia com a visita). O Colorado é a Beira Interior dos Estados Unidos, que leva para lá uma empresa que vende a criatividade mais sofisticada do Universo?

Em 1899, Boulder começou a controlar o crescimento urbano estabelecendo zonas de protecção. Em 1959, proibiram a instalação de água canalizada acima dos 1.800 metros, para preservarem o espaço das montanhas livre de habitações. Desde 1967, cobram uma taxa para aquisição de terrenos à volta da cidade. Esses terrenos são comprados para que permaneçam desabitados. Com isso também pretendem conter o avanço urbano de cidades vizinhas. Em 1972, com o objectivo de preservar a contemplação da paisagem a partir da cidade, rodeada de montanhas, impôs-se um limite da altura dos edifícios. E poderíamos referir ainda outras características que os estúpidos dos imperialistas americanos desenvolveram nesta cidade, como a protecção ambiental, a erradicação de pesticidas químicos, a qualidade do sistema de transportes públicos e a promoção do uso de bicicletas e dos passeios a pé. A população tem menos de 100 mil pessoas e uma idade média de 30 anos.

Foi para aqui que veio uma parte da CP+B. Para um local que é um hino ao municipalismo, glória da inteligência na política. Afirmar em Portugal que existe, algures no Mundo, uma relação possível entre poder autárquico e qualidade de vida, entre política e criatividade, eis a maior provocação que consegui desencantar.

Muito obrigado, escusam de se levantar.

Valupi


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De Marco Alberto Alves a 24.04.2008 às 14:59



Muito a dizer. Entre inteligentes e imbecis, prefiro os primeiros como amigos, mas já prefiro os segundos como inimigos.


Entre Esquerda e Direita, prefiro a Esquerda na vida pública. Mas reservo-me a ter uma vida privada às direitas.


Quanto a Boulder, só pode ser um sonho. Se o não for é para lá que eu quero ir morar quando for grande, desde que evoluam ainda mais, no sentido descrito pelo valupi: mudar-me-ei para lá, sem armas e com poucas bagagens, no dia em que a Assembleia Municipal aprovar uma Deliberação da Câmara Municipal que interdite a publicidade em todo e qualquer espaço público (ou que seja visível a partir de espaço público) entre o nascer e o pôr-do-Sol, para mais tarde ir gradualmente restringindo até ao zero, nada, nula.

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