por Laura Abreu Cravo, em 03.01.07
A maldade é das poucas coisas na vida que tem de ser mesmo boa.
Não bastam as imitações reles ou contrafacções vistosas como nas malas falsas. A maldade, para ser coisa que valha a pena, tem de ser pensada, maturada, bem erigida e dirigida. Tem de ser preparada com o mesmo grau de empenho que se consagra a uma surpresa para o ente mais querido, no mesmo enlevo sigiloso de quem busca aquele (tão especial) momento e não outro (comum). Tem de ser oferecida olhos nos olhos, desafiando, aguardando e acatando a retribuição. Deve, contudo, ser ofertada com o pudor dos actos realmente grandes, e não alardeada da forma desabrida das coisas comezinhas.
Se a maldade cozinhada não se mostra adequada a produzir os resultados pretendidos, deve voltar ao estirador, com a paciência e entrega devotados à educação dos que estão a nosso cargo. Devem ser previstos todos os riscos e escapatórias possíveis (como aquelas saídas para os veículos pesados sem travões nas auto-estradas).
Planear uma maldade deve, no limite, confundir-se com a preparação dos actos de amor primeiros. Porque se não admitimos ser amados ao largo do critério de excelência não podemos aceitar que nos dediquem maus sentimentos pé-de-chinelo. Se querem atirar-nos ao charco (e há sempre quem queira) tenham a cortesia de fazê-lo em grande. Porque a pequenez não chega a ser maldade, é apenas o fardo de palha dos tolos.