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Desenganem-se aqueles que pensam que o vício dos telemóveis é um problema dos adolescentes. Ou, melhor, desenganem-se aquelas que pensam que os homens aos quarenta se tornam, finalmente, adultos. É que, ir jantar com um amigo nesta faixa etária, torna-se um exercício exasperante comparável a uma aula de um nono ano, daquelas surreais noticiadas na comunicação social.
Não há coisa mais irritante que, estando nós a meio de uma eloquente frase, à luz das velas e ao sabor de um delicioso tornedó Wellington, sermos interrompidas pelo beep de um sms a entrar no telemóvel do nosso interlocutor e vê-lo, ansiosamente, qual imberbe teenager, agarrar-se àquilo com sofreguidão, esquecendo-se da nossa presença na sala. E se pensamos que a coisa fica por ali, é vê-los durante todo o repasto, num ping pong de mensagens invejável a qualquer campeão da modalidade.
Se isto numa mulher seria aceitável, imperceptível, até, pois é conhecida a nossa capacidade de nos concentrarmos em várias actividades ao mesmo tempo, num homem a coisa torna-se um descalabro total. Incapazes de prestar atenção ao diálogo, incapazes de gerir as duas acções, o jantar torna-se um monólogo aborrecido, pontuado com hilariantes cenas cómicas quando, em pânico, os ouvimos exclamar desesperados, que se enganaram na destinatária da mensagem.
E se, qual professora do mediático 9º C, pensamos conseguir persuadi-los a desistirem de tal brincadeira, temos o maior choque das nossas vidas, quando vemos o nosso cavalheiro amigo, o nosso gentil companheiro, sempre disposto a ir buscar-nos a casa, abrir-nos a porta do carro e pagar-nos o jantar, quase capaz de nos chamar "peixona" e de nos berrar descomposto de cólera “Dá cá o telemóvel! Já!”.