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Em Portugal, sempre que se anunciam ou vislumbram medidas draconianas (leia-se cretinas) para refrear a utilização do automóvel nos grandes centros urbanos, fico sempre com a sensação de que os cérebros por detrás destas fantásticas iniciativas têm muito pouco respeito pelo seu semelhante. E das duas, uma: ou moram relativamente perto do seu local de trabalho ou nunca se aventuraram no mundo dos transportes públicos. Dito de outra forma: as pessoas não são estúpidas. Ou, pelo menos, não totalmente estúpidas.
Qualquer medida restritiva que não seja acompanhada, a montante, de medidas que melhorem radicalmente a qualidade e quantidade dos transportes públicos – ao nível do conforto, da rotatividade, da cobertura territorial e da diversidade – peca por insultar a inteligência alheia de forma rebuscadamente primária. É ponto assente que o futuro das grandes cidades passa pela implementação de sofisticados e eficientes sistemas de transportes públicos, e pela gradual substituição do actual parque automóvel por viaturas «amigas do ambiente» (peço desculpa pelo cliché) que consumam e poluam cada vez menos (desejavelmente nada). Mas até uma criança percebe qual destas medidas pode ser mais rapidamente implementada e qual produzirá mais efeitos secundários benéficos (a utilização dos transportes públicos ou semi-públicos permite, também, retirar mais carros das estradas, ruas, passeios, etc., quer poluam ou não muito).
Falar em introduzir ou agravar portagens no sentido de castigar quem utiliza – livremente, diga-se – o seu automóvel particular sem mudar aprioristicamente o que tem que ser mudado, é conversa imoral de pseudo-moralistas que, muito provavelmente, chegaram a um ponto das suas carreiras que homenageia de forma convicta o princípio elaborado por Laurence Peter.