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Não me lixem

por Carlos do Carmo Carapinha, em 08.08.08

Em Portugal, sempre que se anunciam ou vislumbram medidas draconianas (leia-se cretinas) para refrear a utilização do automóvel nos grandes centros urbanos, fico sempre com a sensação de que os cérebros por detrás destas fantásticas iniciativas têm muito pouco respeito pelo seu semelhante. E das duas, uma: ou moram relativamente perto do seu local de trabalho ou nunca se aventuraram no mundo dos transportes públicos. Dito de outra forma: as pessoas não são estúpidas. Ou, pelo menos, não totalmente estúpidas.

Qualquer medida restritiva que não seja acompanhada, a montante, de medidas que melhorem radicalmente a qualidade e quantidade dos transportes públicos – ao nível do conforto, da rotatividade, da cobertura territorial e da diversidade – peca por insultar a inteligência alheia de forma rebuscadamente primária. É ponto assente que o futuro das grandes cidades passa pela implementação de sofisticados e eficientes sistemas de transportes públicos, e pela gradual substituição do actual parque automóvel por viaturas «amigas do ambiente» (peço desculpa pelo cliché) que consumam e poluam cada vez menos (desejavelmente nada). Mas até uma criança percebe qual destas medidas pode ser mais rapidamente implementada e qual produzirá mais efeitos secundários benéficos (a utilização dos transportes públicos ou semi-públicos permite, também, retirar mais carros das estradas, ruas, passeios, etc., quer poluam ou não muito).

Falar em introduzir ou agravar portagens no sentido de castigar quem utiliza – livremente, diga-se – o seu automóvel particular sem mudar aprioristicamente o que tem que ser mudado, é conversa imoral de pseudo-moralistas que, muito provavelmente, chegaram a um ponto das suas carreiras que homenageia de forma convicta o princípio elaborado por Laurence Peter.



(publicado igualmente aqui)



lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De Comendador Antunes de Burnay a 08.08.2008 às 17:28

Caro CCC, não quer partilhar com este seu fiel admirador (do ponto de vista estritamente intelectual, bem entendido...) a sua visão de "eficientes sistemas de transportes públicos"? E, caso esteja mesmo em dia de explicações, não quererá partilhar que medida "pode ser mais rapidamente implementada e qual produzirá mais efeitos secundários benéficos"?

Pululam ainda na minha mente algumas questões em relação a este magnífico post, mas não desejo aborrecê-lo com pormenores.

Antecipadamente grato.
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De Carlos do Carmo Carapinha a 08.08.2008 às 18:54

A expressão (“eficientes sistemas de transportes públicos”) pode ser foleira (de facto, é) e sintacticamente obtusa, mas estou a pensar, sei lá, em… não lhe responder. Está calor. Mas posso aconselhá-lo a sair de Portugal rapidamente e em força. Visite alguns países europeus lá mais do norte. Retire da equação as idiossincrasias cívicas daquela gente e perceba onde está a diferença no que respeita aos «sistemas». Se quiser, até lhe dou o contacto de portugueses que trabalham nessa área nesses países. É gente simpática. Depois, sem sarcasmos encapotados e perguntas retóricas, falaremos. A não ser que o caro Comendador seja daqueles para quem a «manada» só lá vai com chicote porque só com o chicote aprende qualquer coisa (ou, em alternativa, só com o chicote e a repressão se põe na linha).

Abraço.
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De Comendador Antunes de Burnay a 08.08.2008 às 19:48

Caro CCC, sem stress. Na verdade, gosto de o ler, por isso estranhei este post redondo, sem nada lá dentro. Considere o meu comentário como um cumprimento, normalmente não me dou ao trabalho de dizer que não gosto. Aliás, será do calor, o seu comentário também vai na mesma linha, com a remissão pelo que se passa lá nos países nórdicos (e há tanto para dizer sobre os nórdicos, mesmo descontando as tais idiossincrasias).

Mas, repito, sem stress...

E, claro, retribuo o abraço.

E não, não gosto de chicotes

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