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E de repente todos se lembraram de dizer mal do futebol. Esse glutão do desporto que não partilha atenções nem dinheiros com os coitadinhos das modalidades. Eu percebo. O futebol é coisa pouco higiénica e até irrita. Mas por uma vez tentemos afastar esses preconceitos para estas breves linhas.
O futebol português tem atletas e quadros a competirem em todo o mundo. Nos campeonatos mais mediáticos, como a Itália ou a Inglaterra, aos outros, como o Vietname ou a lituânia. O futebol português tem dos melhores sistemas de formação do mundo. O futebol português tem uma das selecções mais competitivas do mundo.
Não temos os milhões de habitantes do Brasil nem os milhões de euros de Itália. E contra todas as probabilidades a nossa selecção soube-se impor entre as melhores e os nossos clubes continuaram a vencer troféus. Ninguém estranha que o Sporting ganhe à Roma. Estranhamos todos se perder. Mais do que estranhar, chateia-nos. E a probabilidade do Sporting ganhar à Roma, nas contas que fazemos para os jogos olímpicos, é ainda menor que a probabilidade do Nelson Évora ganhar uma medalha de ouro.
Ao longo dos anos o futebol português teve e soube compensar a escassez populacional e a escassez financeira. Mais prospecção. Mais formação. Que remédio. Mas fez. O futebol em Portugal tinha todas as condições para acabar como o futebol belga, romeno ou irlandês. E não foi isso que aconteceu. E não foi isso que aconteceu porque, bem ou mal, investiu-se tempo e trabalho. Com o tempo e com o trabalho veio gente e veio dinheiro.
Não temos que lamentar que uma empresa como a Sagres invista milhões no futebol. Temos é que perguntar o que é necessário fazer para a Sagres gastar os seus milhões também nas modalidades. Não temos que lamentar os milhares de jovens que todos os anos vão a provas no Benfica. Temos é que perguntar porque não vão fazer provas ao Sport Algés e Dafundo. Não temos que lamentar os estádios cheios do futebol e os pavilhões vazios. Temos é que perguntar como é que o futebol os enche. Não temos que lamentar a atenção dos media ao futebol. É só consequência não é causa. Como tudo o resto.
E até nisto é uma questão de mentalidade. É que eu não quero que o futebol desça ao nível das modalidades. Quero é que as modalidades passem para o nível do futebol.