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Grandes esperanças

por Francisco Mendes da Silva, em 03.09.08

Se bem percebo o texto de João Miguel Tavares sobre os cães que ladram enquanto a imparável caravana de Barack Obama passa, um comentador de política não pode ser só cepticismo; deve preservar sempre um sopro de benefício da dúvida que o permita entusiasmar-se com o eventual aparecimento de um tipo mais ou menos fora do comum. Não discordo e até vou mais longe: um comentador de política, se quiser manter um nível apreciável de imparcialidade analística (e, já agora, se não quiser forçar demasiado os naturais instintos humanos), deve exercer a sua função com 50% de cinismo e 50% de ilusão. 

 

O problema é que, do que tenho visto, muitos dos que se deixam enamorar por Obama fazem-no apenas pelos discursos do candidato (e, claro, por este não ser português; alguém imagina o mesmo comentariado a tecer semelhantes loas a um político cá da terrinha?). Ora, longe de mim insinuar que Obama é um político oco. O seu passado e os seus textos pressupõem algo com mais patine intelectual que um qualquer José Sócrates. E longe de mim também desmerecer a importância das dimensões estética, emocional e lúdica da política (logo eu, um churchilliano militante). Sem verve e inspiração, não há debate político que se suporte. No entanto, desde logo, a escrita dos discursos não é nada de verdadeiramente excepional (por exemplo, quantas frases historicamente simbólicas - daquelas que, numa síntese lapidar, definem para a posteridade o momento em que são proferidas - podemos neles encontrar?). Depois, com a excepção do progressismo estatista para consumo interno, a retórica da mudança não é muito mais que um logro. Aos admiradores estrangeiros (nomeadamente aos europeus), presumo que interesse essencialmente a política externa. Mas aí o que devemos constatar é que, não só os EUA deixarão alguma vez de pensar apenas nos seus interesses e, nessa medida, não existem propriamente cortes muito profundos na tradição da política externa americana, como, em consonância, Obama tem vindo a limar de tal maneira as arestas das suas posições iniciais que se tem aproximado bastante das polticas do segundo mandato de Bush.

 

As esperanças dos obamistas europeus parecem-me claramente exageradas. E isso, sim, entusiasma o meu cinismo.


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De blogdaping a 03.09.2008 às 15:28

E eu a julgar que quem manda nos "States" é a Coca...... Cola !
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De João Moura a 03.09.2008 às 15:49

Declaração de interesses: simpatizo com Obama, mas não sou obamaníaco, e sempre tive uma boa impressão de McCain. Boa impressão que caiu por terra com a escolha de Palin.

Como fica McCain no meio disto? Defeitos e virtudes? Como se destaca de Obama? O que nos diz a sua escolha por Sarah Palin? O que nos diz como foi conduzido o processo de veto de Sarah Palin? O que nos diz o facto de McCain ter tomado uma decisão importante, a sua maior decisão até à data, com base num encontro com Palin? O que nos diz sobre McCain o facto de ela ter sido escolhida não pelas suas virtudes, mas por ser mulher e de isso eventualmente poder ser benéfico em termos eleitorais?
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De Francisco Mendes da Silva a 03.09.2008 às 16:16

"O que nos diz sobre McCain o facto de [Palin] ter sido escolhida não pelas suas virtudes, mas por ser mulher e de isso eventualmente poder ser benéfico em termos eleitorais?"

Diz qualquer coisa não muito agradável sobre McCain e todo o sistema político americano. Aliás, diz mais ou menos a mesma coisa que o facto de Biden ter sido escolhido por ser branco e católico diz sobre Obama.
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De João Moura a 03.09.2008 às 16:44

Eu gostava muito de comparar as posições de Palin com as de Biden em segurança nacional ou economia ou política externa, como gosto de comparar as posições de Obama com McCain nos mesmo quadrantes, mas na verdade não sei que pensa Palin sobre nada de relevante - a não ser sobre o aborto ou sobre armas ou sobre famoso criacionismo.

E se o processo de veto de Biden demorou meses, o que mostra pelo menos cuidado na matéria, o de Palin demorou dias ou horas, o que mostra descuido e em dois ou três dias temos cinco ou seis casos a assombrar Palin. Para candidato a presidente, ainda para mais com a bandeira da experiencia atrás de si, McCain sai-se muito mal.

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