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Os efeitos nocivos dos absurdos do Governo

por Sofia Bragança Buchholz, em 04.09.08

Maria tem 27 anos e é licenciada em arquitectura. Há três anos que Maria procura trabalho e não encontra. O mercado está mal e pior ainda para quem não tem experiência. Entretanto, Maria dá explicações. Tirou também um curso de Formação de Formadores e dá formação: quando a há e a consegue arranjar.

Maria nos meses de férias ganha zero. Nos meses de aulas ganha 150 euros com os seus explicandos. Nos meses em que existe formação, um pouco mais.
Maria passa recibos. Toda a gente tem – e deve – passar recibos. Para isso Maria tem, obviamente, de ter actividade aberta. Mas por esta razão Maria é obrigada a pagar à Segurança Social. Maria pede isenção. A isenção é negada porque o governo, há uns anos, decidiu que todos os profissionais liberais têm de contribuir para a Segurança Social independentemente do que ganham. Consegue apenas a redução da base de incidência, uma vez que ganha menos do que o salário mínimo nacional (bastante menos, note-se) e tem de pagar “apenas” cerca de 50 euros por mês. Maria ganha 150, relembre-se.
Maria ainda tem esperança de arranjar emprego e tem vontade de trabalhar, mas começa a ponderar a ideia de fechar actividade. Fechando actividade Maria não pode mais dar formação, nem explicações, nem fazer outro qualquer trabalho – precário – que lhe apareça e só lhe resta pedir o Rendimento Social de Inserção ao Estado. É que Maria tem contas para pagar.
 
Maria é uma personagem fictícia mas podia ser qualquer – dos muitos – cidadã ou cidadão deste país, na mesma situação que ela.
 
Parece-me absurda esta lei do Governo de todos os Profissionais Liberais terem de contribuir para a Segurança Social e de já não haver isenção para aqueles que auferem de rendimentos abaixo do Salário Mínimo Nacional. Se esta lei foi criada para combater a fuga ao fisco de pessoas que ganhavam mais do que o que declaravam, parece-me que ela está a ter um efeito muito mais nocivo e a empurrar as pessoas com trabalhos precários para o parasitismo do Rendimento Social de Inserção. É que as primeiras, ainda eram cidadãos activos que contribuíam para a economia do país. Já as segundas, tendem (mesmo que, como a Maria do exemplo, não queiram) a tornarem-se cidadãos parasitas, desmotivados e sem um futuro activo pela frente.
 

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lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De blogdaping a 04.09.2008 às 16:37

Um amigo... arquitecto, tinha exactamente o mesmo problema.
Foi para Angola, abriu um estaminé e faz uma "pipa"... diz.....!
Isto é que vai uma crise.... ( Ivone Silva + Camilo )
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De al kantara a 04.09.2008 às 17:08

Há uma imprecisão nesta história : É que a Maria, ao ganhar 150,00 euros por mês durante onze meses, ganha um total de 1.650,00 euros anuais o que não perfaz 6 x IAS, o que dispensa a Maria de pagar contribuição. (É verdade que a presente lei pode levar a situações injustas e absurdas mas a esta história falta que o pouco mais que a Maria ganha nos meses de formação faça com que os seus rendimentos ultrapassem 6 x IAS...)
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De Sofia Bragança Buchholz a 04.09.2008 às 17:25

A história foi só para ilustrar, não se prenda a pormenores, al kantara . Se bem que nem seriam 11 meses (nos de férias ela não ganhava e tantas vezes estes podem ser 4 meses, se os explicandos forem estudantes universitários, por exemplo). E a formação, depende da duração dos módulos (pode haver módulos de 4 horas e ser um desses apenas o que a Maria consegue) e nos últimos anos, quase nem tem existido (vai agora novamente entrar, com o novo POPH ).
Existe imensa gente em situação mais precária do que a Maria da história. Que consegue apenas trabalho esporádico e que ganha uma ninharia e ainda por cima tem de contribuir (injustamente) para a Segurança Social. E que, mesmo assim, querendo tentar a sorte, continuando a trabalhar, é empurrada para a única solução de ter de fechar actividade.
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De Ze de Fare a 04.09.2008 às 20:24

Acho que o erro é o principio da estória. Maria não devia ter estudado para arquitecta, por muito que gostasse de o ser. A vida não é poesia...

Além disso a Maria não devia ter vergonha de trabalhar noutras coisas. O currículo também se faz com profissões menores...
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De Sofia Bragança Buchholz a 04.09.2008 às 21:33

Se preferirem, imaginem que a Maria é costureira, empregada de limpeza, padeira… o que quiserem. O que interessa é que o que faz, ou melhor, o que consegue arranjar para fazer, não lhe permite rendimentos fixos (pois pode até haver meses que não tenha trabalho) suficientes para viver.
Ainda no outro dia, me falavam de um rapaz nesta situação que trabalhava no MacDonalds. Como era trabalhador estudante não conseguia trabalhar o número de horas suficiente para ter um salário decente. Para além disso, ainda tinha de suportar a contribuição para a Segurança Social. No fim ficava com uma ninharia.

Faz sentido uma pessoa que ganhe, por exemplo, 500 euros por ano, ter de pagar à Segurança Social, todos os meses, cerca de 50? Façam, as contas e vejam quanto elas ganham por mês: zero. E ainda têm de pagar por cima!
É melhor, então, dar-se ao luxo de recusar essa oportunidade de ganhar algum dinheiro por ser tão pouco?
É que, com a nova lei, não há isenção para nenhum montante, por mais pequeno que seja.
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De Dr. Etc. a 04.09.2008 às 17:16

Pois. Esta, como outras leis, só beneficiam, uma vez mais, os mamadores de serviço. Essa Maria, que se chama Manel, João, Sousa, Paulo, e mais não sei quantos nomes, é apenas o reflexo da pretensa justiça social dos nossos governos. Pois, eu, minha cara, até lhe dava um exemplo bem real. O meu. Recentemente, tive conhecimento de uma entidade formadora que precisava de um formador de português. Concorri. Chamaram-me. Recibos verdes. Honorários: sensivelmente 120 euros por mês. Ora, pago 90€ à Seg. Social... É, como dizia o ex, fazer as contas. Sendo certo que, para além disso, teria de me deslocar de Braga a Guimarães, local onde decorreriam as formações. É bonito, sim senhor. Tenho um mestrado em Literatura Portuguesa (daqueles à séria, que duram pelo menos dois anos, com tese à séria, com arguição à séria, daqueles tiradas depois de pestanas queimadas, costas vergadas -sem propósitos homossexuais-, de dedos gastos em teclas de computadores) e ando há dois anos sem emprego. Sem trabalho, sem direitos, sem ordenado. Sobrevivo de quê? Dos pais, pois claro. Tenho 27 anos e estou enfiado em casa dos meus pais. Já trabalhei numa imobiliária, num bar, numa livraria... Lembro-me que tinha mais dinheiro quando andava no secundário e trabalhava nas férias de verão. É bem verdade! Ganhava 10 contos por dia para andar a distribuir Sumol nas praias, a publicitar a Optimus, a oferecer Gilletes para as senhoras.Trabalhava um mês e ganhava 300 contos!!! Hoje, nem por ano ganho isso... Hoje, para ganhar uma miséria, concorro a colégios e há sempre alguém com melhor CV. Pode ser. Mas será, realmente? Concorro para a Fnac e não tenho o "perfil adequado" porque como tenho "carreira académica" posso a qualquer altura "ser chamado para algo melhor e a empresa quer estabilidade nos recursos humanos". Portanto, foda-se! Percebe? Portanto, caga-se para a reforma e fazem-se PPR. Portanto, caga-se para a Seg. Social e fazem seguros de saúde e de trabalho e mais o caralho! Portanto, trabalha-se sem contrato, à criminoso (sim, já que quem me mandou a mim tirar um curso de português-latim neste cantinho de intelectuais e bem-falantes? Neste país sem analfabetos e com uma considerável massa crítica, não é? Mais me valia ter continuado a dar Sumol nas praias até ter 21 anos, depois ia a um centro de novas oportunidades e, após rigorosíssimas averiguações, tirava o 12º ano como quem bebe uma Frize ou uma Snappy e aproveitava a mama de Bolonha para fazer a vidinha tranquila! Mas não. Caralho é que me deu que decidi estudar. Que puta de lorpa em que me fui tornar!), com luvas e prémios em cash e assobia-se para o lado. Ou, então, vou para um call-center! Será que os filhos do Zé vão para um Call-center? "Estou sim? Fala Joãozinho Sócrate, em que posso ajudá-lo?"
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De José Manuel Faria a 04.09.2008 às 19:25

O Doutor etc , do Fontes do Ídolo numa prosa usual e bem conseguida ao ataque. Foda-se para este País de merda .
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De Fernando Vasconcelos a 05.09.2008 às 01:35

Esta lei é um absurdo e um abuso de poder além de ser anticonstitucional. A razão é a que aponta mas os fins nunca justificam os meios.
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De zedeportugal a 05.09.2008 às 11:01

Tenho lido muita estupidez ao longo da minha já longa vida, mas nunca cesso de me surpreender com algumas afirmações.

Maria não devia ter estudado para arquitecta, por muito que gostasse de o ser. A vida não é poesia...

Como é que alguém pode escrever tal coisa? Então o que é a vida, ó Ze de Fare Ze de Fare ?)?

Além disso a Maria não devia ter vergonha de trabalhar noutras coisas. O currículo também se faz com profissões menores...

Então a Maria não está a trabalhar noutras coisas? Que profissões menores lhe aconselharia o Ze de Fare Ze de Fare ?)? Empregada de limpeza na casa do Ze de Fare ? Ze de Fare ???



Se querem ler muitos casos reais de sub-emprego , de exploração dos jovens, de injustiça social e laboral, CASOS REAIS, repito, basta ir aqui:
http :/ fartosdestesrecibosverdes.blogspot.com /



O meu conselho para a Maria, para todas as Marias, é que vá até ao Reino Unido ou à Dinamarca (só menciono estes 2 países porque, de entre os que conheço melhor, serão aqueles em que é mais fácil neste momento arranjar imediatamente trabalho), instale-se, aprenda, goze a sua vida como uma poesia e, se tiver saudades de alguém cá por esta terrinha ingrata, passe por cá de vez em quando, instale-se num bom hotel em Fare , perdão, Faro, e faça-se servida por um esperto chamado Ze (de Fare ).
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De Ze de Fare a 06.09.2008 às 11:39

Obviamente que vou usar este espaço para responder a insultos... Discordar é uma coisa, insultar é outra bem diferente...
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De Frederico Roque a 05.09.2008 às 11:26

Porque é que a Maria passa recibos?!

As contribuições fiscais são muito bonitas, mas sejamos realistas, nisto das andanças contributivas vale a máxima "para esperto, esperto e meio."
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De Rui Cruz a 26.09.2008 às 08:39

Com todo o devido respeito, a história é a mesma. Eu vejo call centers a ignorarem o facto de haver emprego para quem quer trabalhar.

A Maria é licenciada. A Maria, espera-se, sabe por os parentes na lama e ir ganhar 300€ num part-time de call center mais os 150€ da explicação.

Cara Maria, o que não falta é opurtunidades de empregos. Podemos ser selectivos, mas nunca andar dois anos a seleccionar.


Rui

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