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Por acaso, Bernardo, a mim parece-me discutível.
Se tiramos os números musicais e olharmos para lá da sabujice do painel permanente da CNN, a convenção republicana está a ser melhor e – desconfio - bem mais eficaz que a democrata. Isto apesar do furacão e da obsessão de Wolf Blitzer pela menina Bristol. O efeito Sarah Palin, pelo menos por ora, está a resultar em pleno: a novidade e a curiosidade mudaram de campo, e o discurso vivíssimo da hockey mom (elogio), em vez de as esvaziar, veio fixá-las no lado republicano para o que resta da campanha. Já se sabe que Sarah Palin veio mobilizar a ala religiosa, sem a qual, goste-se ou não (eu gosto), nenhum republicano ganha eleições nacionais. Já se sabe que Sarah Palin vai caçar alguns votos nas mulheres e nos indecisos e democratas da middle America (aquela que aparece nos primeiros segundos de Blue Velvet), o que numa eleição renhida pode ser decisivo. Mas a governadora funciona sobretudo como o fôlego que faltava ao ticket encabeçado por um McCain septuagenério e meio perdido. Factores que até agora faziam desequilibrar a balança para o lado de Obama passaram a estar repartidos: a “História”, o “Futuro”, a retórica messiânica que provoca êxtases de tipo religioso; a própria “inexperiência”, vista aqui de um ângulo positivo, como frescura e imunidade ao sistema. É uma espécie de regresso à linha de partida, para uma corrida onde McCain tem agora o papel de senhor experiente, sereno, encarregue de arrumar a casa quando o foguetório terminar e os americanos voltarem a viver habitualmente. O herói americano (nós por cá rimo-nos das manifestações patrióticas, mas na América isto dá votos), com décadas de serviço ao país em várias frentes, capaz de fazer pontes improváveis, tomar decisões arriscadas, deixar-nos dormir descansados e atender a chamada das três da manhã.
Também neste ponto a NRC tem sido exemplar: o leit motiv “Country First”, encaixado com precisão e propósito nos vários discursos e vídeos, enquadra na perfeição o guião de McCain e toca mais fundo a alma do americano médio do que o clubístico “yes, we can”. McCain não tem a verve nem o sentido épico de Obama, mas tem um currículo com vários anos de serviço público. Giuliani explicou-o ontem, enquanto desmontava a personagem Obama sem dó nem piedade.
Depois há os valores e a ideologia. A trilogia “Deus, pátria, família” tem pairado sobre St. Paul (para grande horror da Europa dos Tratados), mas a ideia de liberdade, a insistência na liberdade das pessoas, das empresas, das famílias e das comunidades decidirem sobre a sua vida e o seu futuro como valor essencial a preservar, foi o que mais se destacou. E com algumas medidas concretas, para que se perceba que as ideias têm consequências: aumento da produção de petróleo para libertar o país da galopante dependência externa; diminuição da despesa pública e consequente adequação (redução) da administração; desregulamentação; não aumento de impostos; política externa autónoma das instituições supranacionais. Na convenção democrata falou-se de quê? De mudança. Do renascer do “sonho americano”. De esperança. Ok, pela quinquagésima vez foram esmioçadas as vantagens de um sistema nacional de saúde.
O que mais me agrada no Partido Republicano - e esta convenção é disso exemplo - é a capacidade de união política: de Lieberman ao evangélico mais reaça, todas as direitas americanas se juntam quando chega a hora da verdade e, no meio de diferenças por vezes fracturantes, encontram sempre um denominador comum: o interesse nacional. A nação “excepcional”. A "shining house on the hill". E o princípio de que, por regra, as suas ideias são melhores que as ideias dos outros. Tomara nós ter pretexto parecido onde nos agarrarmos.