por Henrique Burnay, em 17.01.07

Este blog não tem vocação para ser sítio do Sim ou do Não. É, felizmente, demasiado heterogéneo para isso. Mas como é aqui que escrevo, aqui fica o meu Não, porque:
Para lá da gritaria, da confusão, da agressividade gratuita, há uma coisa em causa no próximo referendo: saber se a Lei que temos deve ser alterada, se o aborto deve passar a ser livre até às dez semanas. Se uma mulher pode abortar, sem qualquer limite quanto à razão pela qual o faz, até às dez semanas.
Compreendo que a vida é cheia de contradições, de dilemas, de regras que violamos, de princípios que não somos capazes ou nem sempre queremos cumprir. Acontece que aqui a discussão não é a dos casos excepcionais, entre a violação e o bebé, entre a vida da mãe e o bebé, entre um bebé com viabilidade de vida ou não. Aqui é aceitar a banalidade do aborto. Sim, não interessa porquê, desde que seja nas primeiras dez semanas.
Voto não, porque entre a Lei que temos e a Lei que propõe, a minha noção de civilização está mais protegida por esta Lei que aceita excepções que compreendo, mas recusa liberalizações sem causa.
Quanto aos julgamentos, os tribunais estão, felizmente, cheios de gente inocente, e de gente que é julgada para poder não ser condenada.
Penúltima coisa. Cabe aos defensores do Sim demonstrar quantos dos julgamentos que houve (podia ser demagogo e pedir condenações) seriam evitados com a alteração da Lei.
Última coisa. Dizem-me que prever uma sanção criminal para quem aborta é intolerável, que os julgamentos são uma humilhação, uma vergonha. Mas sabem o que acontecerá, se vencer o sim no referendo, quando o aborto for depois das dez semanas, não sabem? Julgamento, claro. Que é a melhor forma que as sociedades têm resolver os seus problemas.
Sem comentários, porque anda por aí demasiada fúria e insensatez. O mail está operacional.