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A CAUSA

por Rita Barata Silvério, em 19.01.07
Henrique, dizes que votas não porque "esta Lei que aceita excepções que compreendo, mas recusa liberalizações sem causa". Ai, a causa. Claro que a vontade de uma mulher não é uma causa suficientemente válida quando se confronta com a potência de uma vida. Pois. Deixa estar. Se o NÃO ganhar podes ficar descansado: o inocente será salvo, o Estado não pagará assassinatos e todas essas mulheres que abortam poderão continuar a fazê-lo em Mérida. Sem causa, claro está. Porque uma mulher, quando aborta, é porque está na boa, nem sequer tem uma razão aparente para o fazer. Pronto, parece que há umas quantas miúdas de treze anos, analfabrutas e sem mínima capacidade intelectual para educar um filho que engravidam, o que é chato, mas isto não me parece uma causa sólida para abortar. Também há aquelas que acabam de separar e nunca trabalharam, ou as outras a quem a pílula não funcionou, ah!, e umas que simplesmente não querem ser mães. São só mulheres sem causa que merecem ser punidas por esta Lei que tanto gostas.


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De rita barata silverio a 19.01.2007 às 18:05

Henrique,
Enganas-te: o que neste referendo está em discussão é saber se o povo português acha que uma mulher tem ou não o direito a decidir por si só, sem ter em conta a moralidade dos outros. E sim, aborta-se. É crime? Porquê? Vale mais a tua concepção da vida do que a minha? É aí onde quero chegar: existe um parlamento para alguma coisa, juristas em comissões parlamentares, gajos pagos e para ter os tomates suficientes para despenalizar o aborto (mas claro, coragem não é coisa que se veja quando toca a perder votos). Pôr o zé povinho a legislar diz muito da classe política deste meu Portugal.
Claro que não concordas, pá, por isso é que escrevi este post. Pena não irmos à festa da Atlânntico: ias tu ver o que era discutir!

Pedro, beijos. Ainda não é desta que a gente bebe um copo.
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De André de Soure Dores a 19.01.2007 às 19:11

Rita desculpe intrometer-me na intensa e saudável discussão com o Henrique, mas uma vez que houve um referendo anterior sobre esta matéria cujo resultado maioritário, ainda que não formalmente vinculativo, é novamente questionado seria um golpe muito "baixo" "aproveitar" esta maioria na AR e proceder-se à votação, dando uma valente machada na já enfraquecida figura do referendo. Se há tema que justifique uma consulta popular é este. Bem sei que é um referendo realizado numa democracia ainda em amadurecimento e onde a prática activa da cidadania não é a mais vigorosa. Agora não vamos repeti-la até o "sim" ter maioria e muito menos recorrer ao "truque" parlamentar para o fazer vingar.
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De Diogo a 20.01.2007 às 08:57

o argumento "abortar por si só sem ter em conta a moralidade dos outros" pode ser bonito e ter aplausos como têm os gritos ao género do "não à guerra" mas não adianta absolutamente nada. Se a moralidade for sempre dos outros, e não se reconhecer a alguem ou a algo a responsabilidade pelo estabelecimento dos limites dessa "moralidade", então qualquer acto passa a ter justificação porque desprendido de qualquer julgamento moral e apenas sujeito à auto-avaliação.

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