A divulgação do vídeo onde Paulo Casaca, e outros Deputados Europeus, “dançam” com Mujahedins do Povo Iraniano é feita com um propósito: dizer que Casaca baila com os terroristas. Para alem de falsa, a acusação revela má-fé e estupidez. Coisas que costumam andar associadas.
Paulo Casaca é, reconhecidamente, um dos apoiantes da resistência iraniana. Nunca fez disso segredo, muito pelo contrário. No entanto sempre que tenta divulgar as actividades dessa gente, esbarra com uma espécie de silêncio. Foi o que aconteceu, no ano passado, quando organizou um encontro em Lisboa, que passou com reduzida divulgação. No entanto, volta meia estes factos do domínio público são divulgados como se de algo suspeito se tratasse. O que é notório é contado com requintes de sordidez, e um facto público transforma-se numa actividade suspeita que alguma alma anónima “revela”. Há dois anos e meio, quando foi ao mesmo campo de Ashraf, Casaca escreveu sobre isso no Wall Street Journal. Mais público parece-me difícil. A única diferença, agora, é que desta vez há um vídeo que o mostra a “dançar” com quem já se sabia que “dançava”. Quanto a novidade e descoberta, estamos conversados. Mas há mais a dizer. Quem são os Mujahedins do Povo? Há uns meses,
na Atlântico, publiquei uma entrevista a Maryam Rajavi, a sua líder e escrevi isto:
“Maryam Rajavi e a resistência iraniana
A biografia oficial conta que Maryam Rajavi nasceu em 1953, formou-se em engenharia metalúrgica em Teerão e desde cedo participou nos movimentos de contestação ao regime do Xá, que matou uma das suas irmãs. Conta ainda que depois da Revolução de 1979, que depôs o Xá, Maryam Rajavi tornou-se numa figura destacada do PMOI (People's Mujahedins Organizations of Iran) entrou em eleições contra o regime de Khomeini - que torturou até à morte outra das suas irmãs - e participou nas manifestações de 20 de Junho de 1981, contra o governo fundamentalista. Em 1982 fugiu para França, onde viria a ser eleita líder do PMOI sete anos depois. Afirma ainda a biografia oficial que o NCRI (National Council of Resistance of Iran) a elegeu, em 1993, futura presidente do Irão para o período de transição - quando ele acontecer.
Mas a história desta mulher de improváveis olhos azuis, sorriso fácil, gestos suaves, com a cabeça sempre coberta por um lenço elegante é um pouco mais complexa. Para começar, falta contar que é a mulher, ou mais provavelmente a viúva, de Massoud Rajavi, durante muitos anos o dirigente máximo dos mujahedins e à volta de quem o movimento terá organizado uma quase culto da personalidade. Tanto que o seu paradeiro é desconhecido, supondo-se que na verdade esteja morto. De resto, todo o percurso dos Mujahedins, a principal força do NCRI é bastante confuso. No tempo do Xá foram acusados pelo regime de ser islamo-marxistas, apesar da quase impossibilidade lógica dos termos. Khomeini nunca terá querido a sua companhia, procurou a sua destruição por formas violentas e acusava-os de estarem ao serviço dos americanos, que por sua vez suspeitariam das suas eventuais ligações à China. Mas se assim era ou não é difícil provar. Certo é que foram aliados do Iraque de Saddam na guerra contra o Irão. Em 1997, depois da eleição do suposto moderado Katami, a administração Clinton colocou o grupo na lista de terroristas. O mesmo que a União Europeia viria a fazer, em 2002, durante a presidência espanhola. Não há, no entanto, notícia de qualquer acção armada do grupo nesse período.
Em Junho de 2006 as autoridades francesas fizeram um raid ao quartel-general do NCRI, em Auvers-sur-Oise, um subúrbio de Paris. Foi então aberto um processo judicial na sequência do qual a líder do movimento foi impedida de viajar para fora de França. Dia 16 de Junho, três anos passados sobre a espectacular intervenção policial, um tribunal de recurso revogou essa decisão. Maryam é agora a líder livre de um movimento cuja primeira luta é a sua remoção das listas de organizações terroristas estabelecidas pela União Europeia e pelos Estados Unidos da América.”
Entretanto o Tribunal de Justiça das Comunidades já recusou esta inclusão na lista de terroristas.
Paulo Casaca, tal como outros deputados europeus, mais da direita do que da esquerda, é, nesta matéria, um político com coragem que defende, às claras, aquilo em que acredita. A sacanice de que é alvo tem razões óbvias. A estupidez é fácil, mas não é necessária.
* Declaração de interesses: entrevistei Rajavi para a
Atlântico, não trabalho com Casaca, nunca falei com o deputado do PS (para além do banal Boa Tarde), sou amigo da sua assistente.