31 da Armada

Numa concepção óptima do que devem ser os desportistas de alta competição imaginamos os atletas como modelos exemplares a seguir pela sociedade dos cidadãos. Digo modelos porque são líderes de opinião inspiradores de muita gente que procura seguir-lhes o exemplo. Às vezes desde tenra idade.

Li aqui que o Ronaldo é o maior a jogar futebol, como se isso por si só devesse desculpar a falta de formação que um líder de opinião modelar para a sociedade não deve ter e o Cristiano Ronaldo tem. Li aqui que a Sofia não devia ter tido coragem para meter o dedo na ferida, quando o que está mal, e tem criado Ronaldos por este país fora, é o mesmo espírito que vi nestes comentários, que parece querer provar que basta a quem jogar futebol saber jogar futebol, porque se for o melhor será rei.

A Sofia, coitada, tentando manter a paz no sítio, afirmou que não disse que o rapaz devia ter lido os Lusíadas. Mas devia, isso tem que estar claro! Devia ter lido os Lusíadas e não só, como deviam todos os portugueses!

Não tenhamos ilusões, a culpa não é do Ronaldo, e todos sabemos isso. É do sistema que permite as graves assimetrias sociais, desde logo na educação e formação global dos atletas nacionais que não podem, se queremos ser um país dentro do mundo, fazer as figuras tristes que só vemos fazer aos nossos Ronaldos. É nossa, porque desculpamos o sistema.

Não vou tomar do mesmo chá que toda a gente toma aqui. Como dizia ao Vasco Lynce, nos tempos em que era Presidente do Instituto Nacional do Desporto, como assessor de comunicação, o problema do desporto português é que os desportistas são portugueses, e os portugueses são mal preparados em geral. Mesmo quando marcam golos!

Hip, Hip, Hurra!