É um exclusivo blogosférico do 31 da Armada. Depois da polémica da "dança com terroristas", o eurodeputado do Partido Socialista, Paulo Casaca, responde no 31 da Armada às acusações e explica a verdadeira natureza dos "Mujahedines do Povo".
Os irredutíveis gauleses do Iraque
Pessoa amiga iraquiana - continuando a fazer parte daquela que é agora a pequena minoria que sempre acolheu bem os EUA como esperança de os ver trazer a liberdade, a democracia e o desenvolvimento - confidenciou-me há dias, quando nos encontrámos no Iraque, o verdadeiro arsenal que as forças norte-americanas lhe tinham oferecido para sua defesa pessoal, do qual deixou quase tudo ao cuidado dos irmãos e guardou para si apenas uma pistola ligeira de defesa.
E o exemplo vale por uma verdade que todos conhecem: no Iraque, não há ninguém que não ande armado, pelas melhores ou pelas piores das razões, infelizmente, mais as segundas que as primeiras, com a abundância de terroristas, milícias, gangsters ou a chamada insurreição.
Todos? Não, realmente nem todos, para além do Curdistão, onde existe alguma normalidade, há um campo - "Medina Ashraf" - como lhe chamam hoje os iraquianos, localizado no meio do deserto, onde não entram armas e as únicas que existem estão à sua volta nas mãos das forças americanas.
Apelidados de terroristas, criminosamente bombardeados pelas forças aliadas sem nunca darem um tiro, desarmados e passados a pente fino por seis ou sete agências de investigação americanas - incluindo a CIA e o FBI - que certificaram que não existe um único que seja terrorista, os chamados Mujahedines do Povo, ou OMPI no seu acrónimo português, conseguiram montar uma espécie de aldeia de irredutíveis gauleses em que tudo se passa ao contrário da lei que vigora no resto do país.
Na Mesquita local, sunitas iraquianos rezam lado a lado com xiitas iranianos ou iraquianos, nas salas de reunião, árabes, curdos e turcomanos, cristãos e muçulmanos, membros de infindáveis partidos, clérigos de todas as religiões e tendências discutem livremente, faz-se a cultura da tolerância e do diálogo.
Infelizmente, as nossas diplomacias ocidentais não fazem muitas vezes ideia de qual é a realidade do Iraque, nunca se perderam nos meandros das estradas não sinalizadas, não tiveram encontros directos com as facções armadas, não sabem o que sentem, pelo que passam e o que querem os iraquianos.
Em conferência que realizei sobre o tema no Congresso dos EUA, fiz uma sugestão: quem não quiser acreditar em mim ou fazer o que faço para saber quem é quem no Iraque, peça aos militares americanos para falarem livremente das suas experiências, e escute-os.
Tenho a certeza que eles dirão que a força mais consistentemente contrária ao terrorismo, é a única que o Ocidente, à margem do direito, resolveu denominar de terrorista.
O Tribunal do Luxemburgo já repôs a legalidade na Europa, resta agora aos EUA seguirem o exemplo.
Ponta Delgada, 2007-01-21
(Paulo Casaca)