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o fedor das audiências

por Jacinto Bettencourt, em 06.02.07

Lembra-se, quem há muito segue o Gato Fedorento, como o mesmo evitava, propositadamente, temas de actualidade. Opção inteligente, concluo, não só porque o Gato não tinha porventura experiência para lidar com temas actuais, mas, sobretudo, porque o género non-sense era praticamente inédito em Portugal, e prometia, por isso, fazer furor.

Posto isto, confesso que estou muito triste com o que se passa com o Gato. Não consigo ver o Diz que É uma Espécie de Magazine, programa que parece bater recordes de audiências - sinal claro do seu valor intrínseco. Ora porque os Gatos estão pouco à vontade, as larachas são forçadas, e, em geral, tudo nos parece muito pouco espontâneo, ora porque - last but not least -, faltam dois elementos fundamentais: a elementar piada e um conceito - afinal, aquilo nem é um documentário nem uma modalidade de stand up comedy.

Mas basta de cinismo. O meu sofrimento é vasto, colossal, confesso. Quase coteja a dor que senti quando me comunicaram o casamento da Angelina Jolie com o canastrão do Pitt. Mas convenhamos: aqui entre nós, que constituímos a assistência anónima, comediantes há muitos; uns vão, outros vêem, não sem antes nos deixarem material suficiente para, entre tragos de bica matinal, e antes de pegarmos ao serviço, comentarmos a desgraça alheia. Em nome dos anónimos, portanto, resta agradecer, antecipadamente, esses momentos paliativos.

Mas fico triste, ainda, porque vejo hoje nos Gatos uns comediantes, jovens por sinal, e cheios de si próprios e motivados pelas audiências na exacta proporção inversa em que o espírito os vai abandonando, que se preparam para perder a noção do ridículo. Ora bem: no mínimo, isto da noção do ridículo merece um poste no blogue do Gato, um sketch do bloquista de serviço e um ou outro comentário iracundo de Zé Diogo Quintela (tipo porreiro). Deus meu: podiam, inclusivamente, ressuscitar o Meu Pipi! Por isso, e antes de mais nada, deixem-me explicar.

Um humorista que labora no negócio da produção, comercialização e entrega de humor, e que, mesmo assim, ambiciona ter graça durante umas boas décadas, tem que ter a noção do ridículo num duplo sentido: se por um lado, deve possuir uma capacidade singular de detecção do ridículo nos outros, já por outro, deve, a todo o custo, evitar cair num ridículo explorável pela concorrência.

Quanto à capacidade (digamos, profissional) do Gato, já todos percebemos como a respectiva produção detecta e perpetua, com enorme facilidade, o ridículo num pequeno sketch sobre o «não» de Marcelo, em gracejos sobre a “direita que quer nacionalizar úteros”, ou em pequenas críticas de Sá Fernandes à autarquia de Lisboa que Ricardo Araújo Pereira logo converte em humor de prime time. As audiências confirmam o fenómeno; a irreverência dos protagonistas promove-o.

Perante tudo isto, alguns fãs minoritários e algo desenxabidos, como eu, espantam-se com a incapacidade dos nosso estimados comediantes em deslindar algo de vagamente “ridículo”, por exemplo, nas atoardas habituais de algumas agremiações políticas, no perfil brando de uma Fernanda Câncio, ou na formosura e encanto de Daniel Oliveira. Nem sequer uma piada a favor do «não», relacionada com o glorioso e os perigos de uma crise demográfica, emitem. Nada. Não encontram. Perderam-no. Para mal de mim - não da Nação, como se vê pelas audiências -, e também do Zé Diogo Quintela (o tipo porreiro) que, embora apregoando a titularidade das respectivas ventas, mais não faz do que um frete ao Bloco de Esquerda e ao respectivo serviçal: El RAP, o humorista de agenda...

Já quanto ao ridículo daqueles que vivem do ridículo alheio, vejo que não temos senão assistido a manifestações gloriosas do respectivo arquétipo, ora num o sketch quase pessoalíssimo de RAP sobre os recentes apelos de uma frente reaccionária e minoritária de adeptos, ora nos comentários do ilustre Zé Diogo Quintela (um tipo porreiro), os quais, aliás, retomam muito do que o patrão havia já debitado há algum tempo. Tudo muito desajustado, muito desaustinado, excessivamente “peludo”, enfim, mas sob apanágio e ratificação das audiências.

E assim chegamos ao fim. Carpido texto o meu, em que constato como os nossos heróis teimam em tombar na insignificância habitual das respectivas vítimas. Por não entenderem que o apelo de alguns dos seus fãs em nada lhes coarcta a liberdade de expressão - apenas lhes pediram humor em vez de política descarada ao sabor de agendas eleitorais -, e por terem perdido tempo a preparar uma resposta às imbecilidades do público minoritário. Afinal, se um humorista não gosta de apanhar com tudo aquilo que o público atira, e não o consegue ignorar, resta-lhe mudar de vida - solução viável no toca a RAP (uma vereação em Salvaterra de Magos parece saída condigna), mas que, para Zé Diogo Quintela (esse tipo porreiro), traz dificuldades acrescidas: tudo depende do lado para onde a unanimidade se inclina, e da resolução, pelo mesmo, do intrincado mistério: antes de ser vida humana, que tipo de vida consubstancia o feto?


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De Jacinto Bettencourt a 07.02.2007 às 15:14

bem, aqui entre nós, há alguns portugueses estúpidos.

desde logo, aqueles portugueses que acham que alguém acha que não existem portugueses estúpidos.

mas passando em frente.

concordo consigo.

imagine só que concordo!

se calhar, digo eu, devia ir ler melhor o meu poste...

de facto, acho que há portugueses estúpidos.
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De Mario Coimbra a 08.02.2007 às 11:09

Caro Jacinto Bettencourt,

Imagine, que também eu concordo consigo.
Vejá lá, isto.

É uma estupidez minha pensar que não há portugueses estúpidos.

Se calhar, penso eu, devia ler melhor a minha resposta.

E eu que sempre pensei que era a Economia!!!!

Obrigado pelo seu tempo
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De Jacinto Bettencourt a 08.02.2007 às 12:21

Perfeito. Agora que descobriu a lei da reciprocidade sai certamente mais rico deste blogue.
Cumprimentos.
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De Verónica a 14.02.2007 às 02:29

"exmo sr." jacinto bettencourt eu sou a favor do NÃO, votei NÃO e NÃO fiquei minimamente ofendida com o sketch .
UM HUMORISTA NÃO TEM O DEVER DE SER APARTIDÁRIO! O humor é isso mesmo: liberdade de expressão, de forma ridicularizada.
Antes de criticar um questão, fundamente-a, para o bem da Humanidade...


P.s.1- considere a quantidade de vezes que utilizei a palavra "NÃO" neste post. E reforço: "NÃO " concordo com a sua "crítica" (se assim se pode intitular... mas tenho as minhas dúvdas).

P.s.2- Evite plagiar as estruturas frásicas dos comentadores deste blog. Fica pouco estético...

P.s.3- O ZÉ DIOGO QUINTELA É O MELHOR!!!
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De verónica a 14.02.2007 às 02:34

"exmo sr." jacinto bettencourt eu sou a favor do NÃO, votei NÃO e NÃO fiquei minimamente ofendida com o sketch .
UM HUMORISTA NÃO TEM O DEVER DE SER APARTIDÁRIO! O humor é isso mesmo: liberdade de expressão, de forma ridicularizada.
Antes de criticar um questão, fundamente-a, para o bem da Humanidade...


P.s.1- considere a quantidade de vezes que utilizei a palavra "NÃO" neste post. E reforço: "NÃO " concordo com a sua "crítica" (se assim se pode intitular... mas tenho as minhas dúvdas).

P.s.2- Evite plagiar as estruturas frásicas dos comentadores deste blog. Fica pouco estético...

P.s.3- O ZÉ DIOGO QUINTELA É O MELHOR!!!

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