Paulo Pinto Mascarenhas faz uma crítica que aponta a militância marxista (que todos reconhecemos, e que o senhor Ricardo Araújo Pereira não faz segredo), e sugere pluralismo democrático e uma contra sátira ao Dr. Francisco Lousã, pelo que me apercebi só podia estar a ser irónico.
Foi entendido como censura (algo que não encontrei no texto), e que PPM exigia a RAP a tal contra sátira. A sugestão era obviamente uma crítica, como todo o texto, com todo o direito que cada um tem de criticar o que bem lhe apetece.
As vozes ergueram-se para reclamar a intrusão de uma nova PIDE que se estava a instituir a coberto do senhor PPM, e que já não havia liberdade para coisa alguma, e que ninguém é obrigado a fazer humor de uma ou de outra forma, e que estava muito bem retratado, que a liberdade existe é para cada um dizer o que pensa, como e quando lhe aprouver, e sobretudo o humor, que valha-nos Deus, para muitos parece o que de mais sagrado temos.
Claro que cada um é livre para acreditar no que quer, e defender o que acredita. Nem vejo o texto do PPM ir contra essa ideia. A sugestão de pluralismo democrático não se aplica a um humorista, e hoje em dia pelos vistos nem a jornalistas, ou a órgãos representativos e de soberania.
Parece-me que actualmente o dever de um jornalista é o de vender jornais, o repórter faz uma reportagem de acordo com o que acredita, ou o que defendem os seus superiores, ou que lhes foi dito para defenderam, o cronista também anda por aí, não fugindo muito à regra.
Um Primeiro-ministro e um governo que fazem campanha e beneficiam um dos lados de um referendo em vez de adoptarem uma campanha de esclarecimento, indicando o caminho aos tais jornalistas, isso sim é vergonhoso e devia ser o suficiente para impugnar a legislatura.
Nada disto são novidades nas crescentes liberdades que levaram a uma total ausência de deveres. Todos são livres para defenderem aquilo em que acreditam, não me parece que pela posição que ocupam na sociedade, que todos devam ter a autonomia para fazer campanha, mesmo que dissimulada.
Falo com certeza dos representantes de instituições públicas, de órgãos representativos e de soberania, falo de órgãos de comunicação pagos pelo contribuinte como a RTP e a RDP, que devem apresentar um jornalismo isento e independente, sabendo à partida que a sua independência passa sempre por prestar vassalagem ao governo vigente. Mas não falo obviamente de pessoas particulares como comentadores políticos ou humoristas.
Sem duvida que a graçola dos Gato Fedorento foi um reflexo da sua militância pró-abortista, dissimulada numa sátira ao Dr. Marcelo. Que é a função deles diga-se. Atacar e satirizar o que acreditam estar errado. Se o que defendem é o desregramento e a anarquização ateísta do País, pois bem usam das armas que têm, para o caso – o humor.
Aqui, cabe ao bom senso e da direcção de um órgão estatal, diferenciar o que é humor, opinião de um comentador, notícia e o que é campanha eleitoral. Neste caso não me parece que tenham ultrapassado a abrangência de um órgão público de “informação”. Quando muito falta de bom gosto (coisa a que já nos devíamos ter habituado).
Já me diverti bastante com o humor dos Gato fedorento que na grande maioria das vezes é buçal e de piada fácil, um cómico de situação que chega a ser cansativo de tão idiota. Apesar da exaustão várias vezes arranca-nos uma gargalhada. Assisti a rábulas muito bem feitas de humor perspicaz, imitações muito bem feitas, das quais esta última a MRS é um exemplo.
Não se lhes pode exigir bom gosto ou bom senso, porque são os primeiros a admitir que não o têm. E aproveitar uma altura destas para lançar algo de tão polémico é uma estratégia óptima de vendas, e mais um degrau na escada dos ricos e famosos. Claro que quando não defendem o que fazem pelo que é, e se escudam em choraminguisses, demonstram a sua cobardia. Mas a nobreza de espírito e a valentia também não são requisitos de um cidadão (pelo menos nos tempos que correm). Só podemos ver os episódios que criam como o que são - sátiras humorísticas sem profundidade de conhecimento; se têm alguma pretensão interventiva há que salientar a fraca qualidade da pesquisa bem como a ignorância sobre os temas e pobreza de argumentos.