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pelo sim, pelo não - posts sobre o aborto [2 de 4]

por Alexandre Borges, em 08.02.07
Só por desonestidade intelectual algum dos lados nesta contenda não reconhecerá que, de parte a parte e, desde logo, também entre os seus, se propalaram, por estes dias, enormidades visíveis da Lua. De Lídia Jorge ao “The Silent Scream” distribuído nas escolas, passando pelos grafitti na sede do PS, pelas cartas de Setúbal, as barrigas pintadas, Castelo de Vide e um folheto do PS entregue nas caixas de correio que garante – pasme-se – que o número de abortos baixará se a prática for despenalizada até às dez semanas (porque a malta, certamente, até faz isto só para contrariar).
O “sim” ataca o “não” acusando-o de ser medieval, tendo-se, em contraponto, por moderno. Moderno como um metrossexual, como um par de ténis, como a Bica do Sapato. O “sim” diz que a Igreja não se pode meter no assunto. Não? E o Estado pode? Os partidos políticos podem? A igreja deve ser o quê, senão a fé e a doutrina? Apenas a missa, uma hora por semana? Como quem vai ao ginásio? Uma reunião dos acólitos anónimos? O “sim” diz que quem manda nas barrigas das mulheres são elas próprias, perpetuando uma falácia de anos. Se o feto é entendido como parte da barriga da mulher, que devemos passar a chamar ao parto? Cirurgia para a remoção dum órgão? E quando as crianças de quem assim acredita nascem que nomes lhes dão? Pâncreas? Fígado? Intestino Delgado? Caso seja menino? Vesícula? Bílis?, se for menina? O “sim” diz que não revê lei nenhuma, despenalização nenhuma, caso vença o “não”. Amua. Faz beicinho. Diz que, assim, não brinca. Faz tu sozinho. O “sim” tenta não ter problemas de consciência ignorando que, às dez semanas, o feto é, obviamente, vida humana. Ou poderá, porventura, dali crescer um pé de couve? Um esquilo? Um peixe?
O “não”, por seu turno, diz que ele é que é moderno porque respeita a vida. E, de novo, temos a discussão ao nível de uma colecção outono-inverno. O “não” diz que o aborto é crime, mas que não quer mulheres na cadeia. Portanto, é crime, mas quem o comete não é criminoso. Não, diz o “não”. Talvez a coisa se resolva com trabalho comunitário. Perdão? E vão fazê-lo com quem? Com o Luisão? O “não” diz que a sua resposta é a única que permite repensar a lei actual. Poder-se-ia admitir que sim, mas há poucas razões para o crer. O “não” ganhou em 98 e tudo ficou igual. A lei não é cumprida, nem por mulheres nem por médicos. Que é feito das malfadadas aulas de educação sexual? Com que frequência se ouve falar das consultas de planeamento familiar? Que é feito da revisão da penalização? O “não” acena com o valor da vida acima de tudo e não percebe que está satisfeito com uma lei que coloca, em determinadas situações, outros valores acima da vida. Não percebe, ou finge que não percebe, a incoerência e demagogia do seu argumento se pensarmos, por exemplo, nos métodos anti-conceptivos. Não impedirão eles vidas todos os dias? Sobretudo, o “não” exibe, frequentemente uma razão de uma arrogância intolerável num regime democrático: se despenalizarmos o aborto, haverá gente a fazê-lo só porque sim, porque estão com dor de cabeça, porque partiram um salto, porque são demasiado inconscientes para poderem decidir por si; porque são levianos; porque não dão valor à vida humana. Como tal, é claro, é preciso que se decida por eles. É óbvio. Só não entendo por que não se retira o direito de voto a essa gente tão pouco preparada para pensar pela própria cabeça.


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De Zé a 09.02.2007 às 12:00

Só queria dizer que os grafitis a porta do PS apareceram no dia a seguir a todos os "senhores" do "Sim" terem dito que o "Não" ia extremar a campanha.

N posso deixar de reparar que o método dos graffitis é um habitué do Bloco...

Pode ser apenas coicidência...

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