O maior sucesso da União Europeia é o efeito provocado pelos sucessivos alargamentos. A Portugal e Espanha, a oito países do que chamávamos Europa de Leste há vinte anos. E, noutra escala mas no mesmo sentido, a todos os países europeus que esperam um dia poder entrar. Muito mais do que o suposto e altamente discutível softpower europeu, é a perspectiva de adesão que tem provocado mudanças no Mundo. E mudanças para muito melhor. Estes sucessivos processos de adesão são a mais rápida e eficaz história de transformação democrática, reforma económica e progresso social em qualquer parte do Mundo nas últimas décadas. É esse o maior sucesso europeu.
Acontece que o seu potencial está – por enquanto – limitado pela sua própria definição. Só quem tem expectativas de aderir é que se reforma o suficiente para poder entrar. Foi assim connosco, com Espanha, com os oito de Leste mais os dois que chegam já em Janeiro. E assim será, melhor ou pior, com os Balcãs e, talvez um dia, com a Ucrânia. Mas, e o resto?
A capacidade europeia de provocar mudança no mundo tem sido este mecanismo, se ele se esgota geograficamente, o papel reformador da UE também termina aqui (esta tese, evidentemente considera que o efeito da UE no mundo fora do alargamento está muito muito longe de ser comparável tanto no passado como no futuro).
A solução passa – deveria passar, entenda-se – por procurar reproduzir os efeitos desse mecanismo, exportando, consequentemente, o mesmo sucesso reformista. Como? Com um novo projecto europeu, desenhado em potencial parceria com os nossos vizinhos (estou a pensar primeiro que tudo nos mediterrânicos). Resumindo: criar, num futuro de médio prazo, uma área de livre circulação no Mediterrâneo tão próxima quanto possível da lógica do modelo da UE, à qual possam aderir os países aqui à volta que cumpram os critérios de democracia, economia de mercado e respeito pelos direitos humanos (o essencial dos critérios de Copenhaga). Seria uma espécie de adesão (com direito a beneficiar dos Fundos Europeus, das políticas comuns e das agências europeias) em troca de reformas. Seria, incidentalmente e sem ser essa a sua maior virtude, uma solução que, se interessasse a Marrocos, a Israel ou à Tunísia, poderia talvez interessar à Turquia se tivesse de concluir que o processo de adesão estava num impasse insuperável.
Em vez de lamentar a ausência de uma política externa comum ou de um lugar único no Conselho de Segurança das Nações Unidas – coisa que, curiosamente, nenhum dos “europeístas” defende – a União Europeia poderia assim cumprir eficazmente o seu projecto de promoção da paz e do desenvolvimento. Exportar, expandindo, o nosso modelo, é o melhor que a União Europeia pode fazer a si e ao Mundo. Ter vizinhos ricos, com populações sem necessidade de emigrar custe o que custar, pacíficos, democráticos e constrangidos pelos benefícios é um bom projecto europeu. E nem sequer é completamente novo.
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Atlântico