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Eu percebo que o Bernardo Pires de Lima tenha ficado satisfeito com o resultado do referendo. Mas nada justifica a conclusão abusiva - fruto do seu incontrolável optimismo liberal - de que há toda uma geração, orfã de representatividade partidária, que "quer ser dona da sua vida privada".
A maioria das pessoas da "geração" de que o Bernardo fala quer apenas o que todas as outras quiseram e quererão: identificação com os valores maioritários e "correctos" do seu tempo, integração no grupo e exteriorização (nos costumes, na roupa, no apetrechamento tecnológico, na "ideologia" professada) da ideia vigente de "modernidade".
É óbvio que a geração mais nova (aquela que, não por acaso, é o alvo preferencial da publicidade - que juveniliza e infantiliza cada vez mais todos os produtos, toda a realidade, todos os horários) votou conforme o progressismo acrítico que é o espírito do tempo. Só que, para sua desilusão, o espírito do tempo nada tem a ver com o do Bernardo. Até parece que não os vemos na rua e na Universidade. O que a "geração" mitificada pelo Bernardo quer é o colo seguro do estado, um contrato de trabalho eterno, trezentos contos até ao fim da vida, culpar os americanos pela desgraça do dia e encher a boca de proclamações vazias.