por Tiago Geraldo, em 12.02.07
O referendo de 1998 criou a ilusão de que o conservadorismo social ou a «direita dos valores» ainda ganhava fosse o que fosse em Portugal. Essa ilusão acabou ontem (de resto, como uma interpretação sensata dos resultados de 98 deveria tê-lo indiciado também).
Não escondo que, mesmo contra todas as previsões, tinha a secreta e ingénua esperança de encontrar entre a direita uma visão (ainda) mais desempoeirada e liberal neste debate. Houve honrosas e importantes excepções. Globalmente, porém, é facto indesmentível que a direita mais representativa não saiu de onde estava antes nem mexeu uma vírgula perante um problema em que devemos tentar assumir um certo compromisso entre a liberdade, a convicção e a repressão do estado. Compreendo e acho perfeitamente legítimo que a direita se continue a distinguir por determinadas opções sociais, culturais e morais. Mas a gestão a fazer entre essas opções e o monismo legitimador do Estado deverá ser cada vez mais judiciosa.
Ainda que a nova vaga da direita liberal se diga ela própria tributária de valores modernos e dinâmicos, é certo que a oposição entre modernidade e conservadorismo é quase sempre traiçoeira e muitas vezes injusta. Ainda assim, foi essa a fotografia que insistentemente se tentou tirar neste referendo. E para que a direita não se torne a incarnação ideal desse país irreformável e interior, é conveniente que volte a repensar-se com um discurso mais arejado e plural.