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Pequenos medos (mudando de assunto)

por Henrique Burnay, em 13.02.07
Na discussão com o Gato Fedorento houve uma coisa que me impressionou. A certa altura Ricardo Araújo Pereira fala dos pequenos poderes. A sua existência não me impressiona, pelo contrário, o mero facto de existirem é virtuoso (o que pode ser negativo é o uso que se faz desse poder). O próprio Gato Fedorento é, hoje, um "pequeno poder" e isso, em si mesmo, é bom. A existência de pequenos poderes é uma virtude das sociedades plurais. Até aqui nada de mais. O que impressiona é a proliferação de "pequenos medos" - disclaimer desnecessário: aqui não confundo o Gato Fedorento, faço-lhes essa óbvia justiça, as minhas críticas foram e são outras.
 
A História de Portugal - e podemo-nos ficar apenas pelo período democrático do século passado - está cheia de "pequenos medos", de gente que não diz o que pensa porque tem medo de perder o emprego, gente que não revela as suas ideias porque teme ser desconsiderada, gente que teme, pura e simplesmente, ser gozada. A lista é grande. E a experiência dos blogs vem revelar outra coisa, que é o reverso do medo de dar opinião, mas mais assustador: o medo de dar a cara pela opinião que se tem.
O que me faz confusão não é facto de haver tantos anónimos nas caixas de comentários, é a banalidade do que justifica o seu medo que me faz impressão. Eu compreendo que um membro do governo use do anonimato para desancar no colega do ministério do lado (é pouco corajoso, mas compreende-se de que tem medo), ou que um empregado da Sonae não queira ser apanhado a criticar a OPA. Goste-se ou não, compreende-se o que temem. Mas nas caixas de comentários não. Na maior parte dos casos são comentários "banais". Gente que discorda, que concorda, que insulta um pouco, mas, na grande maioria dos casos, nada que dê direito a despedimento, espancamento ou infâmia. Não há uma única ameaça de consequência, pelo que nem de cobardia se trata. Têm medo de quê? Temo que seja deformação profunda.
Somos um país de pequenos medos e, até quando se trata de dar uma opinião banal, as pessoas temem dizer quem são. Mil vezes um grande medroso, um cobarde encartado, alguém que teme pela vida, pelo emprego, ou que tem medo que lhe risquem o carro, a este medo de si tão generalizado.   


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De lipemarujo a 13.02.2007 às 14:46

Henrique, noto que a questão da identidade na net te preocupa (sentido lato) (passo ao tu se não te importares, e isto do tu ou do você até que tem que ver com o assunto), e confesso que a mim também. Assino lipemarujo os meus posts e comentários, o que se pode considerar anónimo, mas por exemplo no meu profile está visível o meu nome, Filipe Pinto da Silva. Qual a diferença? Quem me conhece sabe que eu sou lipemarujo, quem não me conhece diz-lhe tanto um nome desses como um nick lipemarujo, e julgo que isto é a regra geral de quem usa um nick.
Os anónimos que insultam é óbvio que usam o anonimato por deformação e educação, não é medo nem cobardia, não vejo que agora iríamos fazer esperas a quem nos insulta em caixas de comentários (sobretudo em temas políticos, clubísticos ou religiosos) mas a maior parte dos nicks anónimos que existem na blogosfera são-no porque o são de facto. Um José Coimbra ou um lagarticha vai dar ao mesmo.
Mas concordo que quando se vais mais longe numa discussão, um nome fica sempre melhor.
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De Henrique Burnay a 13.02.2007 às 15:15

Meu caro Lipemarujo, sim, sim, sim. O nome ou o nick quase que tanto faz. A questão é da identificação. O teu nome ou o teu nick dizem-me o mesmo (e o meu a ti). O ponto é que a personagem Lipemarujo, que tem um blog e amigos que sabem quem ele é e textos que assina e discussões em que participa, é "alguém" identificável. Podia acontecer que por alguma razão nem quisesses ou pudesses fazer corresponder o nick ao nome, o problema não era esse, a personagem continuaria identificável e, sobretudo isso, as opiniões teriam um autor "conhecido". É do resto que falo.
Eu, por exemplo, tive um blog que assinava com um nick por razões profissionais. Mas, por isso, evitava certos temas e comentários. E, sobretudo, a personagem que assinava o blog assinava os comentários. Era, nesse sentido, identificável. Podia nunca na vida saber quem era o Lipemarujo, mas posso discutir o que essa personagem escreve. Nesse sentido não há aí anonimato.
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De a que se assume a 13.02.2007 às 15:55

gostei da posta henrique. Muito.
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De Miguel Louro a 13.02.2007 às 16:32

"Cresce e aparece", "Ninguém lhe pediu a opinião", ou outros comentários ou ideias, p.e. ir contra a opinião de uma pessoa mais velha, ou mesmo nas academias, duvidar sequer do que um douto prof esteja a dizer, são atitudes disseminadas desde o seio familiar até à escola, da mais tenra idade à velhice. Este é um dos grandes males da nossa cultura vs sociedade, a visão que temos dos mais velhos/ superiores hierarquicos que nos inibe de ter uma opinião. Obviamente isto descamba num processo mental pouco desenvolvido, face a culturas como a norte americana, onde desde miúdos, são incentivados, à mesa, na escola, no trabalho, a dizerem o que pensam, a favor ou contra a maré, dos mandantes. É mais ou menos isto.... Louro
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De ardinario a 13.02.2007 às 17:49

Granda post!!

p.s. - obviamente, vocês também são um pequeno poder
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De Jean-Paul Lares a 13.02.2007 às 20:51

Infelizmente, meu caro, parece-me que um vasto conjunto de “pequenos medos” deu origem a um “grande poder”. É tão difícil expressar uma opinião contrária ao “espírito do tempo” - por pacífica e sensata que seja a forma escolhida para a expressão da mesma – que as os defensores confessos dos valores dominantes, supostamente inteligentes deixam de ser capazes de distinguir notícia, opinião, humor ou acção política, mandando às malvas a democracia, a liberdade de expressão e, porque não, a honestidade intelectual. O meu problema, infelizmente (como acho que já percebeste), não é o medo, mas sim a falta de pachorra. Pior do que um cobarde, só mesmo um arrogante acomodado. É a minha miséria…
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De Anónimo a 13.02.2007 às 21:00

Pois eu cá discordo em absoluto de tudo o que escreveu.
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De Afonso Cabral a 15.02.2007 às 16:30

Caro Henrique Burnay,
A realidade é que há pequenos poderes; pequenos medos e pequenos cobardes. O anonimato é a caracteristica do pequeno cobarde. O problema é que neste nosso pequeno país temos imensos pequenos cobardes. E ele é pequeno em tudo: na forma como se agarra a uma borla; como se agarra ao boletim do euromilhões quando há jackpot; como inveja o salário de quem trabalha mais e é mais competente; como permanentemente diz mal do chefe e na sua frente é um yes man bajulador; como tem medo do filho malcriado; como está permanetemente a contar anedotas obscenas e é um completo impotente sexual; como espera duas horas na bicha (sim bicha, fila é no Brasil!) se sabe que a gazolina vai aumentar 1 cêntimo por litro; como tem medo de ter medo; como tem medo dos policias; dos porteiros; dos continuos; da sogra; dos advogados; do dentista; da doença; da morte! E PIOR DO QUE ISTO TUDO: o pequeno cobarde deste pequeno país tem medo de não ter opinião! Porra para quem tem opinião sobre tudo e sobre nada! Para isso já temos o JPP e o Anacleto (o escolhasdomarcelo ficou desclassificado com o assimnão). Já chega para tão pequeno país de tantos pequenos cobardes que se escondem atrás do anonimato como putos a atirar pedras por detrás de um muro á gata prenha do vizinho careca e miserável.
Mas a mais miserável cobardia do anonymous é a enorme presunção dele pensar que alguém o conhece ou dá qualquer valor ao que possa dizer (escrever) ou pensar.
Um abraço a todos e um muito especial ao Jacinto Bettencourt

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