31 da Armada

Maria de Belém disse que «nunca poderia assumir compromissos em nome do Governo, como é evidente», e que a seria uma intromissão da Assembleia da República «meter-se nas decisões» do Executivo.
Claro que não poderia assumir compromissos em nome do Governo. Nem foi isso que eu disse.

Maria de Belém afirmou também que «pessoalmente» sempre esteve convencida que «o professor João Lobo Antunes seria nomeado por alguma das outras entidades que não o Governo», como o «Conselho de Reitores ou a Academia das Ciências».

Acontece que foi a mesma Maria de Belém a dizer, como referi no Post, que «Eu própria falei na possibilidade de ele integrar a lista, mas como o Sr. professor era designado pelo Governo, essa hipótese nem se pôs».

Ou seja, Maria de Belém desmentiu ... Maria de Belém...

A questão é demasiado séria para insinuar que eu fico desiludido com isto ou aquilo.

O que aconteceu é já muito óbvio...

 

 

Não foi só Cavaco que ficou estupefacto. Paulo Rangel disse hoje peremptoriamente que o Governo se comprometeu a renomear Lobo Antunes e só por isso o PSD não o fez. Portanto, o Governo (Sócrates, Santos Silva ou Silva Pereira) tem de desmentir Paulo Rangel, sob pena de  dar razão às gravíssimas acusações deste (Rangel afirmou com todas asletras que o Governo faltou à sua palavra!).
No mais, quanto à comparação que faz sobre o respeito à verdade de Cavaco e Sócrares, desculpe mas qualquer pessoa normal não teria dificuldade em lhe dizer a qual deles compraria um carro usado, isto para utilizar um exemplo de escola...

O facciosismo e a cegueira são, de facto, doenças terríveis.
Repito: Paulo Rangel disse formalmente e sem reservas que o Governo assumira o compromisso perante o Parlamento de que iria reconduzir Lobo Antunes no Conselho Nacional de Ética.
Agora, das duas uma: ou o Governo desmente formalmente Paulo Rangel ou confirma-se o que já é visível: este Governo não tem palavra, não é confiável, assume compromissos que depois viola!
quanto a acusar Cavaco de tráfico de influência (???), é verdadeiramente abjecto o comentário.
O Pois pois, mais um nome anónimo de quem cobardemente não se identifica, não sabe obviamente quem é Lobo Antunes e o prestígio científico, académico e cívico que o mesmo tem (recordo que foi mandatário presidencial também de Mário Soares, isto para o caso da crítica rasteira insinuar que esta é uma questão de facções...).
Identifique-se e assuma as afirmações miseráveis que fez ou então não passa de mais um cobarde anónimo a soldo do governo!

 

Tem toda a razão: Lobo Antunes não teria de ser indicado pelo Governo e o executivo teria toda a legitimidade para o não reconduzir. O que o Governo não podia ter feito, como infelizmente parece que fez, foi ter dado indicação ao PS de que reconduziria Lobo Antunes, o que teve como consequência que, quer o PSD quer o PS (recorde-se as declarações de Rangel e também as de Maria de Belém dizendo que ela própria o proporia pelo PS), não o propusessem em devido tempo. Ora, só depois destes partidos apresentarem os seus candidatos, onde Lobo Antunes não figurava por ambos estarem convencidos de que o Governo o renomearia (à semelhança do anterior, diga-se) é que se veio a saber que o Governo, afinal, não o integrou nas listas de membros que ele próprio nomeia.
O Presidente só não é peça secundária neste caso porque todos ouvimos dizer da Presidência que este ficou "espupefacto" com a não nomeação de Lobo Antunes pelo Governo, dando pois a entender que este lhe teria transmitido a intenção de o reconduzir.
Mas a chave deste problema, parece-me, são as declarações de Rangel e de Maria de Belém: esta disse primeiro que não propôs Lobo Antunes porque ela "tinha a informação do PS de que ele seria proposto pelo Governo", para depos se contradizer, afirmando que julgava que ele seria proposto "por uma entidade que não o Governo", dando até dois curiosos exemplos. Claro que esta segunda afirmação resulta do facto de a primeira ter posto o Governo em xeque. Quanto a Rangel, é muito simples: ele acusou com todas as letras o Governo ter ter faltado à palavra e de ter violado um compromisso formal perante o Parlamento e agora resta esperar para ver se algum membro do Governo vem confirmar a versão de Rangel ou se o vem desmentir: mas não é aparecer um comunicado. Espera-se que o Ministro Santos Silva (Assuntos Parlamentares), ou o Ministro da Presidênia ou o prório PM, esclareçam esta questão, sob pena de legitimar a versão de que o Governo faltou à palavra dada.
Certo é que, num País onde não abundam personaldades da craveira de Lobo Antunes, é absolutamente lamentável que o mesmo tenha sido saneado por causa do parecer do CNECV sobre o projecto de lei do testamento vital (é a velha máxima coelhista: quem se mete com o PS leva!) e, para mais, com os contornos agora revelados.
Porque, na realidade, bastava ao Governo ter dito no princípio de Julho que não o reconduziria e seria o PSD (e o PS caso Maria de Belém tivesse força política para tanto, o que duvido) a fazê-lo.
Repare, Clara: isto não é teoria da conspiração, é apenas a fria análise de um acntecimento político - que só é irrelevante para o vulgo que não conheça as competências e a especiais responsabilidades no CNECV no âmbito da acção legislativa e administrativa do Estado, para em matérias de grande sensibilidade como são as que se referem à vida, à morte, ao progresso da ciência, à ética que deve presidir às próprias ciências médicas e de investigação, etc.