De Emanuel Saramago a 12.08.2009 às 03:55
Eu não disse que estamos bem, não estamos... Mas não é a trocar o Presidente pelo Rei que algo muda, nisso todos temos de concordar.
Existe Presidente e existe corrupção? Infelizmente sim, mas se ainda por cima essa figura não fosse escolhida por um factor hereditário estaríamos bem pior.
Vejo a Monarquia como um conto de fadas, sem mudança, sem melhorias, sem função.
De O que a minha mãe me deu a 13.08.2009 às 00:02
Bom...poucos desta banda dizem que querem meramente trocar o Presidente pelo Rei. Mas isto seria todo um blog inteiro, só para ensaiar uma tese!
Dependendo um pouco de uns pormenores, aqui e acolá, penso que os monárquicos se revêem numa reestruturação do sistema democrático parlamentar a duas câmaras, com uma câmara alta maioritariamente eleita uninominalmente e uma câmara baixa de cariz municipalista, ainda que assente na doutrina partidária. Obrigatoriedade de governos maioritários, PM eleito para o Parlamento e nomeado pelo Rei. Justiça tutelada pela câmara alta e sujeita a algum grau de escrutínio popular. Forte regionalização de cariz municipalista. Um laicismo teísta e inclusivo. Uma fidalguia meramente decorativa. Um estado de cariz social-democrata, responsável e responsabilizador, etc, etc, etc, etc... Dava todo um outro blog.
Existem toda uma série de estigmas ou papões republicanos que houve um dia um idiota que os apelidou de "ética republicana". Deus tenha esse idiota muitas décadas lá sem nós, pois que o que nos deixou foi uma série de preconceitos propagandistas. Um desses preconceitos é o reverso vindo da Bastilha de que os homens são todos iguais e por tal comportam-se todos da mesma forma, por se alimentam das mesmas motivações...ora nada mais errado. Um Rei e um Presidente não são faces duma mesma moeda, não se alimentam das mesmas motivações, não nascem iguais e garantidamente não se comportam da mesma forma. Um Rei simplesmente não tem necessidade de se corromper, porque não precisa...já um Presidente....lá está tem diferentes motivações a alimentar ou a alimentar-se. É Aqui é que o factor herediterário ganha 15 a 0 sobre qualquer escrutínio, especialmente num país de alves dos reis, valentins, isaltinos, fátimas, sócrates e afins.
Bem pior estamos há 99 anos em que a "ética republicana" nos deu coisas de que não precisavamos, entre tiros, assassínios, golpes, contra-golpes, intentotas e por fim brindou-nos com o Dr. Oliveira Salazar, que também ele lá passe muitas décadas sem nós, e os seus Presidentes de trazer por casa e castigou-nos com uma série de civis com uma lista civil maior que a do Rei de Espanha! Não gostaria de esquecer que ainda não nos deu nenhuma Presidente e a hereditariedade já nos deu duas Raínhas. Até na questão da igualdade entre sexos a Monarquia é superior.
Sonhe com fadas homem, mas sonhe mais alto. Deixe lá o Luís XIV no séc 17 e todo o conjunto de estereótipos preconceituosos acerca da Monarquia, de se o infante é tolinho ou se os genes são bons ou se o tacho é vitalício que essas coisas não têm fundamento algum.
De Artur Reis a 13.08.2009 às 18:07
No meio desta discussão toda já percebi uma coisa, para se chegar a rei é preciso ter um pai que já o seja. Ora no entanto, para que esta não se torne uma história do ovo e da galinha é preciso esclarecer como é que o pai lá chega!
Eu diria que a coisa acontece mais ou menos pela lógica de quem se lembra primeiro. Claro que depois há aqueles que se lembrando depois chegam lá primeiro porque têm mais força para isso do que os outros.
Posto isto, a conclusão a que se chega é que o Afonso Henriques era, na verdade, um grande espertalhão, embora na verdade não tenha feito mais do que herdar a vontade de seu pai (reinar, porque, claro está, apesar de natural da Borgonha sentia um forte apelo de portugalidade dentro de si, uma alma lusa chamemos-lhe, e nunca qualquer coisa a que chamaremos de "motivações a alimentar").
Ora ainda que se trate da Idade Média, a verdade é que, ainda assim, havia regras! Não era qualquer espertalhão que se tornava rei. O poder terreno emanava do poder divino e era concedido ao monarca pelo rei dos reis, sucessor dos Césares em Roma, o Papa. Carlos Magno, um senhor feudal na actual França (republicana, que desperdício) assim fez e conseguiu ser coroado rei.
Afonso Henriques, porque conseguiu manter alguma estabilidade neste pdeaço de terra na Ibéria lá conseguiu uma "Manifestis Probatium" que lhe deu esse título... temos Rei.
Entretanto os tempos mudam. Primeiro o Protestantismo e depois o Secularismo reduziram o poder papal (eliminaram-no?!?)!
Toda esta lenga-lenga para que se perceba que, entretanto, uma República passa facilmente a Monarquia, bastando para isso que o ditador do momento se lembre disso na manhã em que acorda. Napoleão fê-lo... Bokassa também!
Já Hitler limitou-se a chamar ao seu regime de Reino (o III, claro está), mas nunca se lembrou, ao acordar pela manhã, de dar o passo seguinte e se coroar rei. O outro, o "condutor" sonhava com a reedição do império, mas também nunca se lembrou de coroar imperador, embora imaginação não lhe faltasse!
Depois chegamos ao nosso velhinho "Botas", que aparentemente ter-nos-á sido oferecido pela República... o povo aceitou (este povo aceita qualquer coisa)! Acontece que, dizem-nos alguns livros (de pedreiros livres, certamente, malta que não descansa enquanto não nos impinge lá as ideias que inventaram na redoma em que vivem...) o velhinho de Santa Comba até foi apoiado por alguns monárquicos que, na esperança de que por cá acontecesse o que aconteceu em Espanha, lá lhe deram uma forçinha... em plena República! Não se faz!
A minha dúvida é somente esta: e se Salazar, de repente, se tivesse lembrado de, numa linda cerimónia em Vila Viçosa, coroar-se rei (sem coroa, claro está, não fosse Nossa Senhora da Conceição ficar ofendida com o velhinho seminarista). Podia! Poder não lhe faltou! Nesse caso o mal da ditadura que aqui nestes foruns tem vindo a ser atribuido à República passaria a ser atribuido à Monarquia?! Os anos do Franquismo em Espanha entram na conta da Monarquia ou contarão para a República?!
Será que foi mesmo o 5 de Outubro que nos deu um Salazar?! É que eu diria que não foi o 5 de Outubro que nos deu um 25 de Abril! Por essa ordem de ideias, foi a Monarquia que nos deu um Absolutismo... bem mais longo que o Salazarismo, não será?!? Pensem nisso!