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Muito se tem escrito por aí sobre a criação de impedimentos legais à candidatura de quem está, condenado, pronunciado e às vezes apenas suspeito da prática de crimes.
Já fui mais favorável à aprovação de uma lei nesse sentido, embora existam diferenças substanciais quando falamos num arguido ou em alguém que foi pronunciado ou condenado (ainda que apenas em primeira instância) e mesmo com essas diferenças devidamente analisadas, o problema de fundo permanece o mesmo.
O exercício da actividade política não ganha nada em ser moralizado pela força da lei, o trabalho (a verdadeira coragem) está a nascente: os partidos políticos têm de assumir desde logo uma postura moralmente recta e só podem fazer se souberem que terão de fazer sacríficios, no sentido que Marques Mendes deu à medida (embora nunca tivesse tido arte para a saber explicar) de fazer um julgamento político face a certos candidatos.
Esse julgamento político tem riscos para o líder e para o partido. Em Oeiras, por exemplo, teve consequências complicadas para o PSD.
Décadas de uma ligação quase umbilical entre o PSD e Isaltino Morais tiveram como consequência imediata após a decisão de Marques Mendes de não apoiar a sua escolha de sempre, uma divisão entre as estruturas locais, entre pessoas e finalmente no eleitorado.
Percebe-se que tantos anos de convivência levaram à criação de laços de amizade para além dos de conveniência, laços que ainda hoje causam atritos entre militantes do PSD.
Claro que uma coisa era a suspeita que pendia sobre Isaltino Morais e outra a sua condenação a 7 anos de prisão, para os militantes de Oeiras e para os eleitores esse "cobertor moral" desapareceu, por muito que Isaltino grite que o Tribunal o condenou sem ter em conta as provas - um disparate que se traduz juridicamente pelo facto de Isaltino não dar o mesmo valor às provas apresentadas que deu o tribunal, coisa que é perfeitamente justificável se lermos algumas das justificações dadas em tribunal para as questões levantadas pelo MP. Isaltino nunca viu mal nenhum no que fez, o tribunal viu.
Marques Mendes pode sentir-se melhor com a confirmação jurídica daquilo que sempre foi uma opção política mas não devia, a confirmação política ainda está para vir. Os eleitores vão olhar para Isaltino Morais sob a mesma luz? Isabel Meirelles (que conta com uma AD oeirense) poderá bater o autarca condenado?
Os famosos casos de António Preto e Helena Lopes da Costa (muito diferentes um do outro) criaram problemas para MFL e apesar da gritaria (algo cómica) de alguns moralistas de oportunidade, muito preocupados em justificar juridicamente o que foi uma opção política, o problema permanece: Não se pode avançar com A Verdade na boca sem chamar mentiroso ao adversário, sem individualizar e como se vê por causa de alguns pantomineiros de serviço, sem entrincheirar o PSD. Aqui também se tentou recorrer ao um “cobertor moral” ajudar a engolir as decisões tomadas por MFL, mas o julgamento será também político e terá lugar a 27 de Setembro.
Então logo se verá, o eleitorado não quer saber disto para nada ou quer, não vale a pena arrancar os cabelos sobretudo de quem colocou as questões ao nível que MFL quis, ao nível da Verdade.
“Eu sou pequenino
Não sei fazer nada
Só sei ir à despensa
Roubar marmelada.”
Vou mas é encher o jarro ao pipo e comer umas lascas de presunto.
Não se pode confundir a questão jurídica com a questão política (essa coisa de "os cidadãos julgar-me-ão" não faz sentido nenhum) até porque a questão daquele ponto de vista está resolvida nos nossos códigos, sem mais (aliás, alterar o regime jurídico em vigor limitando as candidaturas de pessoas que estejam a braços com um processo crime já em fase de julgamento poderia mesmo ser inconstitucional por violação dos princípios da presunção da inocência e da proporcionalidade).
A questão tem que ver com moralização e com ética, duas coisas que têm faltado (e muito) na nossa política dos anos mais recentes, em que profissionais sem brio e qualidade fazem carreira política (???), tornando-se especialistas em tudo o quanto é pequena corrupção. Isto, obviamente, ocorre em praticamente todos os partidos, com especial incidência nos dois maiores.
Nesse sentido, creio, seria conveniente que alguém que está já acusado (e não a ser investigado pois sabe-se como é fácil apresentar uma queixa crime) pelo Ministério Público pela prática de um dado crime não deveria ir a votos.
Juridicamente poderá não ser a melhor solução (desde logo tendo por base os já referidos princípios, nomeadamente o da presunção da inocência), mas como disse creio que não podemos confundir duas realidades distintas. A nossa política nacional precisava deste "banho de ética" porque não se trata de fazer o que é obrigatório mas aquilo que é o mais correcto.