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D. Duarte

por Paulo Pinto Mascarenhas, em 22.08.09

 

Existe alguma snobeira republicana contra D. Duarte em Portugal. Quando se fala da hipótese de uma monarquia parlamentar, alguns snobes republicanos tentam ridicularizar o chefe da Casa Real Portuguesa. A entrevista que hoje dá ao i é a prova que fazem mal.

 

Quando D. Duarte diz que "nos países que prezam a sua história, as bandeiras históricas são todas consideradas com a mesma dignidade e colocadas muitas vezes em conjunto", fala a voz da sensatez. Ou quando declara que o que o "preocupa mais é que ao haver 60% de abstenção numas eleições, damos uma importância excessiva a minorias muito militantes. Isto põe em causa o significado da democracia. Se as pessoas não votam por estarem desiludidas com a política, estão a deixar que alguns falem por eles." Ou ainda quando afirma que "em todo o Estado ou na administração pública não vejo um único carro fabricado em Portugal."

 

Mas as melhores opiniões são dadas sobre a justiça - "os deputados fizeram uma legislação que torna muito difícil a aplicação da justiça, por causa dos procedimentos, recursos e picuinhices que empatam a justiça e dificultam o seu exercício. E depois não funciona para ninguém. Nem nos grandes casos nem nos pequenos" - e sobre a separação que deveria existir entre política e cargos na administração pública: "devíamos seguir mais o modelo inglês, em que a administração é uma coisa e a política outra: as pessoas competentes que estão na administração ficam, independentemente dos partidos no poder."

 

Muito bem - e isto digo eu que sou um republicano, ainda que cada vez mais desiludido com o estado da república em que vivemos.

 

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A partir do ABC.


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De llbooks a 23.08.2009 às 15:09

eu não resumeria tudo a uma única entrevista. o problema de dom duarte e da chamada causa monáquica em  é muito mais profundo do que aquilo que o putativo rei de portugal possa dizer.  ‘A solução monárquica’ para os males do país, promovida por dom Duarte é, ela própria, pela sua natureza e discurso, uma visão que exclui, invés de incluir. A monarquia de que dom Duarte se diz porta voz, não é inclusiva, mas exclusivista… Não representa uma visão moderna, e por isso, necessariamente mais justa e inclusiva do pais, mas apenas a defesa de uma certa visão, beata e conservadora, integrista mesmo, do país. Assim, com este discurso e esta postura, que não se resumem a uma entrevista, mas representam o pensamento político ‘oficial’ da monarquia em Portugal, das últimas décadas, com este discurso, dizia, não é possível promover a monarquia como alternativa, mais justa e inclusiva, do actual estado republicano… O problema é o modelo de país que a monarquia quer protagonizar… dom Duarte tem uma visão para Portugal moralista, integrista e exclusivista. Algo que eu, pessoalmente, não posso aceitar por muita simpatia que o regímen monárquico me possa merecer. Mais: o problema de certos monárquicos, e de dom Duarte em particular, é o de não conseguirem fazer uma síntese útil para o país entre a tradição, o passado e a história, (que define muito do que é a monarquia), e a modernidade. Para ser alternativa a monarquia tem de oferecer ao país um modelo (politico e social ) mais justo, isto é, mais inclusivo, democrático e transparente do que o actual regímen republicano.. E não basta dizer, nas entrelinhas, ‘se nós fossemos poder seriamos mais honestos, menos corruptos’… porque este discurso, de boas intenções, estamos nós fartos. Nem o rei, por muito bem intencionado que fosse, seria capaz de libertar a nossa justiça (a única que pode condenar quem se serve do estado para fins próprios) da teia de interesses em que está enredada. Nem o rei, a corte ou a nação, seriam capazes de limpar a justiça portuguesa da corrupção endémica que a está corroendo, dia após dia e com ela a democracia no nosso pais… Há depois outro facto que não parece preocupar os monárquicos que está associação, absolutamente desastrosa para a promoção da causa monárquica, entre monarquia e nacionalismo… Talvez não fosse má ideia que os monárquicos portugueses fossem ler a história do liberalismo, os discursos do rei dom luís, por exemplo, e outros para se libertarem dessa sombra salazarenta que toma monarquia e nacionalismo como se fossem a mesma e única coisa. Se dom Duarte quer ser rei tem de ser capaz de provocar rupturas, epistemológicas, quanto mais não seja. Para isso é necessário saber pensar Portugal, para além das convicções pessoais, por muito meritórias, ou católicas que sejam…e para além desse discurso de que somos alternativas, porque temos as mãos limpas, ou porque somos moralmente melhores do que os outros.

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