"Chefe de Estado eleito pelos votos da direita..." - francamente não conheço ninguém de direita que tenha votado no sr. silva... mas a verdade é que só um comentador teve tomates para se conratular com a vitória do centro-esquerda nas presidencias... convençam-se de uma coisa, não é por o repetirem até à exaustão que vão transformar um pr esquerdalho e sem espinha num homem nem de direita nem às direitas... ou como salientou o Bernardino Soares ontem na SIC (só falta chamarem-lhe também de direita) o pr alinhou com todos os disparates xuxiaistas nas áreas económicas e sociais... e ainda há labregos a chamarem de direita ao gajo... sinto-me insinsultado...
De Respública a 25.08.2009 às 22:42
Claro que é de Direita, é Liberal, Conservador e desciplo de Hayeck e da Escola Austriaca, se ele for de esquerda vou alí e já venho.
Ah eu sou de Direita e votei nele.
Hayek de Direita? Vou ali e já volto. Se falassem de Edmund Burke na defesa das liberdades...
Os Liberais são os primogénitos da Esquerda!
"OS DEUSES DO LIBERALISMO"
"Lastly, those are not at all to be tolerated who deny the being of a God. Promises, covenants, and oaths, which are the bonds of human society, can have no hold upon an atheist. The taking away of God, though but even in thought, dissolves all; besides also, those that by their atheism undermine and destroy all religion, can have no pretence of religion whereupon to challenge the privilege of a toleration. As for other practical opinions, though not absolutely free from all error, if they do not tend to establish domination over others, or civil impunity to the Church in which they are taught, there can be no reason why they should not be tolerated."
John Locke “A Letter Concerning Toleration”
Um liberal não pode ter o mundo que quer. Um neo-liberal, figura típica da pós-modernidade, porém, já pode ter o que quiser. O que, porém, não pode fazer esta segunda figura é apresentar os liberais (que considera antecederem-no) como meros portadores do seu tipo de mundo. Os liberais, todos eles, postularam um mundo com um deus incognoscível, que seria um reflexo ou compatível com o do Deus das Escrituras, mas que adulteraram apresentando-o à luz de uma racionalidade e objectividade. À medida que o tempo passou, esse deus foi vítima de adulterações sucessivas, até se encaixar nas diversas manias do mundo moderno (autonomia individual, propriedade, bem-estar, comunidade), sempre apresentado como mero fruto dessa razão única e inapelável. Tudo isto é, claro, uma palhaçada a que vamos chamando modernidade, mas que não se compara com o circo que é a pós-modernidade, que se socorre das categorias da pseudo-racionalidade, o racionalismo, para afirmar a verdade do novo deus, o Desejo. No meio de todo este império do desejo, o neo-liberalismo apresenta o argumento liberal, mas amputado da sua Verdade. O liberalismo não foi criado por economistas ansiosos por prosperidade, como o neo-liberalismo, mas por filósofos, tendo claras implicações metafísicas. Retire-se a Locke a dissenção religiosa que desemboca na teoria da propriedade, a Kant os preconceitos protestantes que desaguam na religião racional da autonomia, excluam-se dos Founding Fathers as teorias que consagram um jusnaturalismo que constitui os direitos universais como conclusões de uma ordem natural, e o que fica? Nada. Dessa racionalidade, apenas uma forma e muito “curta” da verdadeira, o que sobra?
O liberalismo atacou a Igreja e os ateus. Uns porque viam para além da comunidade política, outros porque viam toda a racionalidade como mera expressão do desejo individual. Não é portanto por acaso que o liberalismo despreza a Igreja, tentando transformá-la em ideia igual a todas as outras e submetê-la à sanção estatal. Não é também por acaso que os liberais clássicos, se cá estivessem, fariam um grande “pogrom” com os liberais que temos. Tratar as ideias como se elas se adaptassem aos nossos desejos é um erro que os liberais não incorreram. Preferiram modificar a realidade. Já os neo-liberais acham que podem ter tudo.
Burke e os Subsídios para um Vitorianismo Português
No i do passado sábado o Prof. JC Espada deixou um resumo da interpretação neoconservadora do legado de Edmund Burke. O texto é interessante pela descrição das características essenciais da obra de Burke, mas sobretudo por um conjunto omissões que denunciam os propósitos de certa forma pseudo-britânica de justificação do liberalismo e que é responsável por que em Portugal não exista uma séria facção conservadora na opinião pública.
Pode parecer irrelevante, mas em verdade, Burke não era, em 1790, líder parlamentar ou intelectual dos “whigs”. Era um deputado em grande decadência de influência. Desgastado pelo arrastar do processo movido a Hastings e pela morte do seu grande benfeitor em 1792, ultrapassado pela ascensão de Fox, que o desprezava em termos de ideário (a proximidade, mesmo familiar, de Fox com as ideias dos “dissenters” e todo o tipo de “gauchismes” que Burke desprezava, é evidente), Burke não estava de facto no topo da cadeia alimentar. Foi precisamente na altura da Revolução Francesa que Burke voltou a um lugar de proeminência, influenciando a cisão nos “whigs” e dando real importância em termos governativos à sua acção.
Outro ponto importante descrito por JCE é a ideia de que para Burke a Revolução Francesa tem uma natureza diferente da inglesa de 1688. É perfeitamente correcto, mas insuficiente. É certo que para Burke 1688 é uma revolução lícita e a de 1789 o não é. Mas o que aqui falta explicitar é a forma como ambas exprimem sentidos diferentes para o que significa ser liberal. É por isso que não se percebe qual a diferença entre uns liberais e outros. E entre conservadores e liberais. Se no liberalismo aceitável existe um fundamento comunitário, como Burke sempre defende, como se pode aceitar o liberalismo dos mestres-pensadores do século XIX? Não iremos descobrir em breve que ou não há liberais ou não há conservadores? O desafio seria então encontrar um laivo de burkeanismo no pensamento de qualquer liberal contemporâneo.
Mas o mais importante vem na divisão das três teses essenciais da obra de Burke.
Burke não condena a revolução total, como afirma JCE. Condena totalmente a Revolução. A diferença é evidente. JCE implicitamente aceita que Burke legitimaria a revolução parcial, o que é um dano grave. Burke estabelece uma antinomia entre dois conceitos de mudança: Reforma e Revolução. Na primeira forma não há uma mudança de natureza, mas uma adaptação do contingente ao ambiente. Muda-se o exterior para que a essência não mude. Na Revolução, porém, muda-se a natureza do objecto, mesmo que a forma exterior se mantenha. É contra esta destruição da natureza contínua da identidade da comunidade, a possibilidade de se reinventar “sem mais” que Burke escreve, assumindo que esta reinvenção coloca o homem num estado de absoluto que gera o Terror.
O problema da Revolução não é, em Burke, ser dirigida por uma entidade centralizada (prefigurando o “descentralismo” de Popper ou Hayek) ou gerar consequências não pretendidas. Esse argumento é absurdo (se Burke não quisesse a Revolução pelas consequências não-pretendidas desta, não poderia defender uma ética de virtude que não se baseia em “consequencialismos”, mas na teleologia aristotélica ou não teria tentado restaurar a monarquia através de um “directório” da nobreza no exílio). O que Burke está realmente a dizer é que a Revolução não é mudar, ao contrário do que JCE afirma no texto (dizendo que Burke quer mudança e permanência), mas que a Revolução é uma mudança de outra natureza. É por essa razão que os neoconservadores são incapazes de discernir a diferença de importância do uso de roupa branca em Wimbledon e das prescrições Cristianismo. Tudo é permanência e tudo é mudança. Critério é que nem vê-lo.
Burke também defendeu uma política de “accountability”. Mas como é evidente essa relação não era uma política de representação imperativa, onde, como no nosso sistema, os deputados se encontram cada vez mais vinculados pelos desejos das massas populares. Representar não significa agir em nome, mas em prol de.
E como tal, a representação é feita com vista a bens que são externos ao indivíduos e que são compreendidos no núcleo de crenças que suportam a comunidade política e se consubstanciam na religião (aquilo que distingue o contrato político dos contratos privados). Isto significa que a relação de representação só existe quando impera um enquadramento de justiça que ultrapassa a vontade contratual de governantes e governados. Algo que muitos dos liberais que se consideram conservadores (a tal conservação do liberalismo) obliteram completamente das suas interpretação do irlandês.
Se esse contrato político é consubstanciado na própria Fé, como é que podemos falar da democracia como forma de preservar as instituições da sociedade civil em sentido burkeano, quando estas instituições têm a sua própria origem e fundamentação na sociedade anterior à Democracia?
Como é possível que JCE esqueça no seu texto que a destruição das estruturas da sociedade civil que a Revolução implicou, venha, segundo Burke, da destruição do Cristianismo operada por um conjunto de abstracções filosóficas de liberais e de princípios? E que os liberais-conservadores defendam como princípios estruturantes o liberalismo que se apoiam num conjunto de premissas com a mesma arbitrariedade da democracia?
É também interessante como o argumento "neocon" de que a democracia funciona como tese explicativa e fundamento da comunidade, que motiva a crítica central das Reflexões, os liberais-conservadores esqueçam como um pequeno pormenor da obra de um autor que terá apenas como virtude preceder autores menores como Hayek, Popper ou Polanyi.
Um dia trago aqui o que Burke escreveu sobre Hume no fim da vida...
De Respública a 26.08.2009 às 09:43
O rapazinho vai dar banho ao cão, ou então vai ler o caminho da servidão...
Nem mais, Cão de Guarda.
A direita que não há
por Jaime Nogueira Pinto, Publicado em 25 de Agosto de 2009
Há o ressurgimento dos valores tradicionais da direita, mas não há um partido onde as pessoas se sintam bem representadas
A direita continua desaparecida da vida política portuguesa. Como se o interdito "antifascista" lançado no 25 de Abril perdurasse. E dura e perdura. Apesar de passados 35 anos, que viram o fim da União Soviética e do comunismo, o descrédito do modelo socialista, o ressurgir das nações e da importância da nação e da religião - os valores da direita. E, the last but not the least, da reconhecida necessidade de um pensamento alternativo.
Porque há intelectuais e políticos de direita, militantes, publicações - e sobretudo eleitores - que se identificam com a direita. Mas não há um partido político onde estas pessoas se sintam representadas, sem ambiguidade nem oportunismo.
A esquerda antifascista e o poderoso bloco de crenças, políticas, cumplicidades e interesses que lhe está associado, mantém os seus adversários neste estado de servidão, numa cidadania de segunda classe. Para além da bandeira da liberdade económica (de pouca importância a partir do momento em que a China e a Rússia e todos os comunistas, menos os portugueses, passaram a capitalistas), a esquerda impôs os seus valores como os únicos admissíveis e discutíveis em democracia. E toda a gente se deixou intimidar e reduzir ao silêncio.
Isto não seria possível se os partidos geometricamente na direita não contassem com o voto útil e o mal menor, grandes institutos da democracia e da mentalidade de um povo que se crê manhoso e paciente. E nos períodos eleitorais é sensível à retórica ordeira e roncante, para impressionar o burguês.
No pós-25 de Abril e na repressão subsequente, fez sentido a recusa, à direita, de criar um "partido de direita", que seria um alvo cómodo e um abcesso de fixação para os antifascistas mais zelosos. E também para que as suas ideias pudessem ser passadas e espalhadas pelas várias forças políticas e não guardadas em redoma como um exclusivo de marca de origem.
Mas hoje há um crescente absentismo dos eleitores e estão em jogo, outra vez, entre a dimensão da crise financeira e a questão nacional, coisas muito importantes. E falta uma alternativa ao activismo bloquista, que aparece como único desafio ao sistema.
Assim talvez faça sentido perguntar se os valores e princípios, alternativos aos dominantes, não terão, para ser efectivamente defendidos, de contar com pessoas e organizações que os assumam tal e qual. E com inteligência, coerência e legitimidade.
Professor universitário