Por causa de tais alterações no corpo social formar-se-iam grupos sociais com alguma coesão, capazes de pensar no poder político e desejar alterações naquela instância de modo a desfrutar de novas vantagens. E isso só se deveria conseguir, em regra, com a alteração da constituição política ou, melhor, pela alteração da representação política. A composição do Parlamento deveria mudar, a relação numérica entre deputados ser alterada. O modo de acção das novas forças sociais é que merece atenção.
Exemplos desta ordem são fáceis de encontrar: quando os operários passaram a ter um certo peso demográfico nos países da primeira industrialização criaram movimentos laborais e partidos, ganharam coesão e caminharam para a revolução em movimentos utópicos ou para a participação em movimentos evolucionistas e reformistas. A história do Trabalhismo na Inglaterra ilustra este ponto. O forte movimento sindical entendeu que era necessário um partido, e pelo partido, líderes operários entraram no Parlamento. O Parlamento inglês mudou a sua composição e o operariado, melhor, os seus líderes, passaram a fruir de um lugar no seu seio, com todas as vantagens de fazer parte da classe política.
Outro exemplo encontra-se no movimento feminista. Sem se autonomizar em partido, o movimento conseguiu lenta mas seguramente obter representação política para as mulheres e inclusivamente no nosso tempo apresentar a teoria das quotas, para daí derivar o número de mulheres que devem ocupar cargos públicos, independentemente da sua competência. A participação das mulheres na vida operária e na administração, sobretudo no período das grandes guerras europeias, ofereceu uma plataforma para o movimento de libertação da mulher, que tem sofrido diversos reveses e retomas.
As forças sociais de que Mosca nos falou são realmente importantes para entender a mudança e perceber como ela chega à elite política. De facto, se a base social muda por alguma razão, o reflexo não se faz esperar. Não se trata de um automatismo, mas de uma flexibilidade. É de esperar que o novo grupo entenda a sua posição e a explore dentro de um tempo razoável, que é o tempo da tomada de consciência da sua singularidade, o tempo da criação da organização e o tempo da acção no terreno social.
Um dos movimentos mais recentes, o movimento dos ambientalistas, que se globalizou passando as fronteiras, desenvolvendo conceitos básicos de Terra única, de herança natural, de solidariedade total dos seres vivos num ambiente de todos, depois de algumas actividades iniciais, espectaculares, em defesa de certos animais, cujo dramatismo servia os media e os seus fins propagandísticos, chegou em muitos países à formalização em partido político, conquistando deputados e entrando inclusivamente no governo. Os partidos Verdes, como passaram a ser conhecidos, tomaram-se uma realidade e a natureza um capital que todos os outros partidos pretendem explorar em seu favor, mas de cujo valor se deram conta tarde demais. Foram novamente os movimentos que pescaram o tema, um tema novo, que depois seguiria para a agenda política com as consequências que conhecemos e podemos investigar em cada país.