Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Caro Pedro,
“Luminária” significa, entre outras coisas, “pessoa de grande ilustração e competência”. Sei que, não raras vezes, é um termo que se utiliza de forma pejorativa, normalmente acompanhado da ironia da praxe. Não foi essa a minha intenção. Utilizei-o no sentido de «proeminente», dada a visibilidade mediática de quem opina na têvê. E usei-o, também, num contexto lúdico-burlesco que a sonoridade do vocábulo encerra em si mesma. Nunca me passou pela cabeça ofender ou desqualificar quem quer que seja. Vá lá, Pedro: a malta da opinião televisionada e publicada tem que, de quando em vez, estar preparada para estas farpas inócuas dirigidas às suas personas «fazedoras de opinião» (termo horroroso, eu sei). Se te sentiste pessoalmente ofendido, deixo desde já o meu pedido de desculpas.
Mas vamos ao que interessa (ou ao que mais interessa). Dizes que apenas respondes pelas tuas convicções. Sabemos disso. Ou pelo menos eu sei, que já te «sigo» há algum tempo. O tempo suficiente para perceber com quem estou a falar (igualmente, Pedro, é um prazer falar contigo). Daí ter tido o cuidado de fazer a distinção entre a tua pessoa e a do teu «antagonista». Talvez não tenha sido claro, mas o meu ponto ia mais para a escolha de Vítor Ramalho. A escolha resultou num notório desequilíbrio: de Vítor Ramalho já se sabe o que se espera. A cassete é garantida. Teria sido óptimo caso a SIC Notícias tivesse convidado uma personalidade de esquerda, ou de centro-esquerda, que não se pautasse por uma visão absolutamente canídea relativamente ao partido ou à capelinha a que pertence. Aliás, que bom seria se houvesse mais Pedros Marques Lopes a opinar sobre política no espaço público, ou seja, que houvesse mais gente «desmilitarizada» que, apesar de não ceder às sua convicções políticas, soubesse ser minimamente equilibrada na forma e coerente no conteúdo, mesmo que isso significasse estar contra a sua suposta «família política» nesta ou naquela matéria (e repara: eu falei em «mais gente» e não «só», que do Dr. Azeredo quero distância). Em Portugal, é absolutamente obscena a forma como os políticos (militantes ou pseudo-independentes) marcam uma presença massiva nas têvês. Não há paciência para, por exemplo, a sabujice do Carlos Zorrinho ou do Vítor Ramalho. E refiro estes porque já nem a vergonha ou o pudor os faz disfarçar aquilo que começa a ser um clássico: a tendência acrítica, zelosa e adulatória por parte dos militantes ou simpatizantes do partido que está no governo/poder, para tudo caucionar, apoiar e defender, fazendo crer que não fosse o partidinho a que pertencem, que deu à luz o governinho sacrossanto que nos serve, tudo seria caos.
A Verdade? Não queria que me acusasses de paternalismo, mas o que é a Verdade em política, Pedro? O problema, ou melhor, o que caracteriza a política é isso mesmo: nem sempre o que é verdade hoje, é verdade amanhã. Lamento dizer aquilo que eu sei que tu sabes: a Verdade, em política, não é uma coisa constante, objectiva, imutável, universal. A própria evolução do mundo e os erros que se cometem provam isso à saciedade. Penso, e posso estar redondamente enganado, que «a política da Verdade» da Dra. Ferreira Leite está mais relacionada com o não prometer o que não pode ser cumprido e, acima de tudo, falar a verdade sobre o estado real do país. A verdade para a Dra. Ferreira Leite é não escamotear, disfarçar ou enfeitar a realidade. Coisa que este governo e o Eng. Sócrates tem andado a fazer há anos. O que me assusta no PS é a forma como, por exemplo, em relação aos números do endividamento, se tenta assobiar para o lado, avançando, ao mesmo tempo, com um programa brutalmente estatizante e oneroso para o país.
A questão do ADN explica-se de forma simples: vai levar gerações até se perceber o que significa essa coisa da liberdade (de escolher, de dizer «não», de optar, de tocar a vidinha sem beijar a mão do «pai») e o bem supremo que é não vivermos à mercê de um Estado que gasta mal o dinheiro e suga grande parte da riqueza produzida em nome de um common good que na prática não se materializa (veja-se o estado da Justiça, da Saúde, da Educação), e de governos que exercem um poder quase ilimitado sobre o cidadão (e este governo agudizou em muito essa situação), alicerçados num pensamento supostamente igualitário que convida a escolher a igualdade na miséria e na mediocridade à desigualdade na liberdade, e num conservadorismo quase autocrático. Esta democracia, no sentido lato, é pueril e trôpega, Pedro. Não é a Dra. Ferreira Leite que vai mudar qualquer coisa de significativo. Se mudar qualquer coisa, já seria salutar. Entre a Verdade/Mentira da Dra. Ferreira Leite, e a Verdade/Mentira do Eng. Sócrates – para já não me «oferecem» outras alternativas – não hesito um segundo. É lixado, mas é um facto: a política é o mundo do possível, do contingencial e do transitório. Como diria o outro, melhores dias virão. Abraço.