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Pedro

por Carlos do Carmo Carapinha, em 29.08.09

Caro Pedro,

“Luminária” significa, entre outras coisas, “pessoa de grande ilustração e competência”. Sei que, não raras vezes, é um termo que se utiliza de forma pejorativa, normalmente acompanhado da ironia da praxe. Não foi essa a minha intenção. Utilizei-o no sentido de «proeminente», dada a visibilidade mediática de quem opina na têvê. E usei-o, também, num contexto lúdico-burlesco que a sonoridade do vocábulo encerra em si mesma. Nunca me passou pela cabeça ofender ou desqualificar quem quer que seja. Vá lá, Pedro: a malta da opinião televisionada e publicada tem que, de quando em vez, estar preparada para estas farpas inócuas dirigidas às suas personas «fazedoras de opinião» (termo horroroso, eu sei). Se te sentiste pessoalmente ofendido, deixo desde já o meu pedido de desculpas.

Mas vamos ao que interessa (ou ao que mais interessa). Dizes que apenas respondes pelas tuas convicções. Sabemos disso. Ou pelo menos eu sei, que já te «sigo» há algum tempo. O tempo suficiente para perceber com quem estou a falar (igualmente, Pedro, é um prazer falar contigo). Daí ter tido o cuidado de fazer a distinção entre a tua pessoa e a do teu «antagonista». Talvez não tenha sido claro, mas o meu ponto ia mais para a escolha de Vítor Ramalho. A escolha resultou num notório desequilíbrio: de Vítor Ramalho já se sabe o que se espera. A cassete é garantida. Teria sido óptimo caso a SIC Notícias tivesse convidado uma personalidade de esquerda, ou de centro-esquerda, que não se pautasse por uma visão absolutamente canídea relativamente ao partido ou à capelinha a que pertence. Aliás, que bom seria se houvesse mais Pedros Marques Lopes a opinar sobre política no espaço público, ou seja, que houvesse mais gente «desmilitarizada» que, apesar de não ceder às sua convicções políticas, soubesse ser minimamente equilibrada na forma e coerente no conteúdo, mesmo que isso significasse estar contra a sua suposta «família política» nesta ou naquela matéria (e repara: eu falei em «mais gente» e não «só», que do Dr. Azeredo quero distância). Em Portugal, é absolutamente obscena a forma como os políticos (militantes ou pseudo-independentes) marcam uma presença massiva nas têvês. Não há paciência para, por exemplo, a sabujice do Carlos Zorrinho ou do Vítor Ramalho. E refiro estes porque já nem a vergonha ou o pudor os faz disfarçar aquilo que começa a ser um clássico: a tendência acrítica, zelosa e adulatória por parte dos militantes ou simpatizantes do partido que está no governo/poder, para tudo caucionar, apoiar e defender, fazendo crer que não fosse o partidinho a que pertencem, que deu à luz o governinho sacrossanto que nos serve, tudo seria caos.

A Verdade? Não queria que me acusasses de paternalismo, mas o que é a Verdade em política, Pedro? O problema, ou melhor, o que caracteriza a política é isso mesmo: nem sempre o que é verdade hoje, é verdade amanhã. Lamento dizer aquilo que eu sei que tu sabes: a Verdade, em política, não é uma coisa constante, objectiva, imutável, universal. A própria evolução do mundo e os erros que se cometem provam isso à saciedade. Penso, e posso estar redondamente enganado, que «a política da Verdade» da Dra. Ferreira Leite está mais relacionada com o não prometer o que não pode ser cumprido e, acima de tudo, falar a verdade sobre o estado real do país. A verdade para a Dra. Ferreira Leite é não escamotear, disfarçar ou enfeitar a realidade. Coisa que este governo e o Eng. Sócrates tem andado a fazer há anos. O que me assusta no PS é a forma como, por exemplo, em relação aos números do endividamento, se tenta assobiar para o lado, avançando, ao mesmo tempo, com um programa brutalmente estatizante e oneroso para o país.

A questão do ADN explica-se de forma simples: vai levar gerações até se perceber o que significa essa coisa da liberdade (de escolher, de dizer «não», de optar, de tocar a vidinha sem beijar a mão do «pai») e o bem supremo que é não vivermos à mercê de um Estado que gasta mal o dinheiro e suga grande parte da riqueza produzida em nome de um common good que na prática não se materializa (veja-se o estado da Justiça, da Saúde, da Educação), e de governos que exercem um poder quase ilimitado sobre o cidadão (e este governo agudizou em muito essa situação), alicerçados num pensamento supostamente igualitário que convida a escolher a igualdade na miséria e na mediocridade à desigualdade na liberdade, e num conservadorismo quase autocrático. Esta democracia, no sentido lato, é pueril e trôpega, Pedro. Não é a Dra. Ferreira Leite que vai mudar qualquer coisa de significativo. Se mudar qualquer coisa, já seria salutar. Entre a Verdade/Mentira da Dra. Ferreira Leite, e a Verdade/Mentira do Eng. Sócrates – para já não me «oferecem» outras alternativas – não hesito um segundo. É lixado, mas é um facto: a política é o mundo do possível, do contingencial e do transitório. Como diria o outro, melhores dias virão. Abraço.


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De Pedro Marques Lopes a 29.08.2009 às 23:20

Claro que não fiquei ofendido.
Obrigado pelas palavras gentis.

Um abraço

pedro
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De Legitimista Português a 30.08.2009 às 00:28

Boa noite Carlos do Carmo Carapinha e Pedro Marques Lopes,

Sobre questões com a "Verdade", esquecem-se que os  que anunciam que a Verdade de ontem, não seja a Verdade de hoje, não será mais do que o perigo que. se calhar, ambos partilham e que se chama relativismo, a pedra angular de todos os totalitarismos.
http://lusavoz.blogspot.com/search?q=verdade+moral (http://lusavoz.blogspot.com/search?q=verdade+moral)

A liberdade, ao contrário do que tantos “palonços” de direita e esquerda e declarações de direitos têm vindo a fazer, não tem um sentido político inequívoco e enciclopédico. Esta ocupa vários lugares consoante a tradição de pensamento em que se insere (como tudo neste mundo). Por essa razão aqueles que falam da Liberdade como algo que remonta aos gregos, romanos ou até aos fenícios, têm de conseguir estabelecer ligações não apenas com essas tradições, mas com as próprias tradições dentro dessas culturas que apontaram diferentes sentidos para o termo. A maior parte das considerações sobre a liberdade que emergem no mundo moderno, remontam quase sempre a posicionamentos que já se encontram no Mundo Antigo, reformulados e vestidos de filosofia (quando antes eram argumentos da sofística).

Na Teoria Política Contemporânea existem três grandes tendências para a definição da Liberdade e que correspondem, em traços gerais, à própria fronteira de delimitação dos campos políticos que povoam o panorama da nossa filosofia política. Os dois primeiros, a Liberdade enquanto Autonomia e enquanto Capacidade, são amplamente estudadas nas universidades que possuem programas de filosofia e teoria política e correspondem geralmente a uma interpretação liberal ou socialista, respectivamente, do fenómeno político. Enquanto a primeira se preocupa em determinar a fronteira delimitadora da acção do Estado, a segunda tendência procura encontrar formas do Estado permitir que os indivíduos tenham capacidade para satisfazer os seus desejos. Apesar de serem duas linhas de pensamento distintas, a derrota do socialismo enquanto ideia económica e a rendição do liberalismo político ao progressismo, criou uma unidade nesta tendência, que apesar de teoricamente insalubre e confusa, vai predominando enquanto discurso oficial do “Estado Social”.

A terceira tendência, quase não leccionada nas universidades dessa Europa, mas que ainda possui relevância nos EUA e nalgumas universidades católicas (em que não se inclui a Portuguesa), tem como preocupação os dois elementos de liberdade anteriormente observados, mas tem como principal preocupação a Fonte dos direitos, liberdades e do lugar do Homem na comunidade política. Esta tendência, que politicamente pode ser encaixada no Conservadorismo (no que não é historicista, imobilista, originalista, materialista, pelo menos), corresponde a um conjunto de elementos de reflexão sobre a natureza moral sobre a natureza do Cosmos. A maior preocupação desta forma de entender a Liberdade é a compreensão dos elementos que lhe conferem a sua autoridade, em especial a sua inscrição num conjunto de elementos que explicam uma verdade maior que o “político”.

Primeiro que tudo, esta tendência tem de se inscrever numa tradição de compreensão do Mundo que alcance para além das doutrinas que definem o homem como origem ou limite da compreensão humana, o que implica que o Homem tem, para ser livre, de se inserir numa tradição que não depende da sua vontade. Só através dessa aceitação, da mesma forma que o leitor iniciado aceita a autoridade do alfabeto ou da gramática, pode ele próprio compreender ele próprio qualquer narrativa moral. Sem esse reconhecimento da autoridade, ao contrário do que o liberalismo ou o socialismo pretendem, nenhuma liberdade pode florescer, porque onde o elemento de Poder que institui a Liberdade (quer seja Autonomia, quer Capacidade) provém de uma autoridade humana e da sua Vontade sem esta se encontrar orientada para a Verdade, existe um poder superior de uns homens sobre outros e não uma distribuição funcional entre uns e outros...
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De Legitimista Português a 30.08.2009 às 00:29

Os que detém o Poder adquirem um predomínio sobre os seus semelhantes que não é natural (em termos platónico-aristotélicos), uma vez que não têm uma vinculação com o elemento comum (o Bem), pela destruição dos elementos do Bem que constituem a essência da comunidade.

É evidente que dentro desta concepção coabitam vários tipos de liberdade. A liberdade de saber a que é que o Homem tem direito está implícita. Depois de compreendida e reproduzida, a Ordem firma uma concepção moral que, consciente dos limites da sua capacidade (ditada pela natureza deste mundo), dá ao Homem o seu legítimo lugar. Existe liberdade para a aprofundar no sentido de a aproximar da Verdade. Existe até liberdade para a afastar da Verdade, quando tal seja preciso para evitar males maiores. Essa possibilidade, lícita desde que mantida a referência à Fonte, provém da independência do “político” de que o Cristianismo se pode orgulhar e que impede que uma sociedade cristã (no verdadeiro sentido) se torne totalitária (onde o pecado e o crime são uma e a mesma coisa).

A Liberdade liberal e a socialista fundam-se nesse mesmo totalitarismo, consistente no predomínio da comunidade sobre a Verdade (como todas as pessoas que leram John Locke ou Karl Marx sabem), consagrados na Religião da Propriedade ou do Materialismo Histórico que forma o Progresso. A Liberdade Cristã, porém, pugna por uma liberdade que se funda na compreensão. Da mesma forma que só é livre de utilizar um utensílio quem domina a sua prática (constituída por uma tradição de meios e fins, p.ex: a arquitectura, a medicina, o xadrez), esta perspectiva defende que a verdadeira liberdade consiste em compreender o Mundo, para se libertar do erro.

Pode dizer-se que esta imposição é arbitrária. É, então, forçoso que se escolha. Os que propõem uma melhor compreensão e visão do transcendente, não têm hipótese senão erguer uma Nova Religião e assumirem-se como seus sumos-sacerdotes. Os que afirmam que o Bem e o Mal são características humanas, têm de estar conscientes da antiguidade dessa Tentação Primordial, sabendo da inevitabilidade da queda no eterno erro do Homem pelo Homem.

Existe alternativa?
http://lusavoz.blogspot.com/search?q=verdade+moral (http://lusavoz.blogspot.com/search?q=verdade+moral)
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De João Afonso Machado a 30.08.2009 às 00:45

Meu Caro Legitimista: que V. e eu somos monárquicos já ninguém duvidará. Mas não leve a mal que lhe diga: há que ser mais pragmático.
Eu tenho o maior respeito pelos filósofos. Mas, no palco em que nos encontramos, o seu discurso é tremendamente cerrado. Olhe que o Mestre Sardinha e os Integralistas, há 100 anos eram mais acessíveis.
Não arrisque que passem à frente na exposição das suas ideias. Lime o texto e sintetize-o. Com toda a consideração,
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De Legitimista Português a 30.08.2009 às 01:04

Ilustre,

Tenho pena, pois num momento em que nos enveredamos pelo combate político puro e duro, e numa nova frente, nos campos da história e da cultura (segundo António Gramsci, um tipo bastante actual - http://viriatos.blogspot.com/search?q=gramsci (http://viriatos.blogspot.com/search?q=gramsci) ), não se pode facilitar.
Percebo que muitos poderão estar saciados com "hamburguers", "fast food", façam bom proveito, mas se queremos disponibilizar pratos mais completos possível, há que disponibilizar o máximo de fundamentos possível.
O material exposto servirá para memória futura, para os que têm sede de conhecimento, para os que a partir desta pista, possam aprofundar por si com, mais uma vez, as coordenadas mais correctas, caso contrário não estaremos a contribuir para a Verdade.

Sei que vivemos em sociedades preguiçosas, egoístas, individualistas, o extremo oposto do conceito de Comunitário e do Bem Comum.

A bem da Nação
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De Rosa de Maio a 30.08.2009 às 01:56

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<P class=incorrect name="incorrect" <a>Legitimista</A> </P>
 Terrível pergunta! 
Teríamos que reinventar duas Metáforas:

A Metáfora da Expulsão do Paraíso, e a Matáfora de Caim e Abel.
 Até agora, passadas inúmeras Civilizações, umas mais ou menos conhecidas, outras demasiado remotas e que apenas podemos entrevêr, ainda não fomos capazes de reinventar nenhuma delas.
 Rosa de Maio

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