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Com aquele aguçado sentido do pragmatismo que sempre caracteriza os "fazedores", e com a tenacidade que deve ter herdado do seu avô Alfredo da Silva, levou uma vida a trabalhar para erguer, solidificar e impor um grupo económico.
De caminho, como tinha um olho mais aberto, uma atitude, e - sobretudo - um "tom" que o faziam evidenciar-se no quadro do capitalismo vigente antes de Abril de 74, preocupava-se: o imobilismo salazarista, primeiro, e a Primavera nunca cumprida de Marcelo, a seguir, levaram-no incansavelmente a ir dizendo de sua justiça. Falou mil vezes com Thomaz, discutiu outras tantas com Marcelo, acreditou na semente deixada pela Ala Liberal. Ficou desde aí amigo e "seguidor" de Sá Carneiro, mas foi perdendo as esperanças.
A revolução - que o apanha em pelo processo de internacionalização das suas empresas - deixa-o quase sem nada. José Manuel de Mello "vira a página" e recomeça a partir de onde pôde e como pôde.
Obrigado....
Não é uma apreciação de valor; é uma constatação de facto. Era a cultura da época. Salazar, e isso é público e foi postro em letra de lei, queria e condicionou a concorrência (estudem a legislação do condicionamento industrial da época e depois digam-me alguma coisa) protegendo o que ele chamava os interesses nacionais e, é claro, quem o ajudava politicamente, que ele não era parvo. Dirigiam-se-lhe directamente pedindo favores, como financiamentos da CGD, por exemplo, licenças para instalação de indústrias, e para impeder a concorrência, tanto de fora como de dentro. Recorde-se que o Alfredo da Silva era, para além de uma figura industrial, uma figura do regime, procurador à câmara corporativa, por exemplo. Se o império já era razoável antes do Estado Novo, não era nem pouco mais ou menos o que se tornou depois. Vejam os favores que mereceram em relação a monopólios de comércio e exploração de recursos nas colónias, por exemplo. Sabem o que era a Casa Gouveia?
Eu sei que gostamos destas figures míticas, providenciais, somos assim, mas não vale a pena olhar com demasiado paternanismo a figura do Alfredo da Silva ou dos Melos. Era homens que souberam aproveitar o que regime lhes podia dar. O seu “mérito”, a sua sabedoria e esperteza, inegáveis, está sobretudo aí.
Permita que discorde do seu ponto de vista.
Pegue em si, saia da cidade (ultraje!) e vá até ao Alentejo. Dirija-se ao Monte da Ravasqueira e pergunte pelo Pina ou por um dos outros mais velhos, alentejanos de gema, que ali trabalharam e foram “explorados” (na visão esquerda caviar) por José Manuel de Mello. Pergunte-lhes o que acham dos “maus tratos” sofridos antes do 25 de Abril e espere pela resposta. Na melhor das hipóteses ouve alguns versos acerca do “Príncipe” José de Mello… Na pior escorraçam quem diga mal de quem os "maltratou".
Visto no contexto social da época (Estado Novo), a CUF era mais que uma companhia inovadora. Era – escândalo dos escândalos! – progressista. E esta?
Não nos anos 50. Mas trabalhei nos anos 60-70. A CUF permitiu que terminasse estudos, sofresse por Portugal numa guerra que não era minha e cumprisse uma licenciatura. Fui "subtilmente convidado a sair" em 1979 (dado que já não havia saneamento).
Tive que emigrar para os EUA, refazer a vida que e voltar a subir a pulso. Felizmente correu bem.
Com o devido respeito, acho que tenho credibilidade para falar deste assunto.
Caxias? Não.
O meu texto é explícito quando afirmo que subi a pulso. Entrei com o antigo Quinto Ano. O resto foi sangue, suor e lágrimas.
Não. Não sou de direita. Mas tenho muito respeito por um grande industrialista, um Senhor, um grande HOMEM.
Ricardo, sobre o Belmiro, não faça ao Salazar a desfeita de dizer que o actual regime protege mais os interesses nacionais da industria instalada do que ele, nem lhe faça a desfeita de achar que o seu poder se equipara ao poder dos actuais governantes ;). É óbvio que, como diz, as relações com o poder são importantes. Mas não se compara uma época e outra, um regime e outro. Por alguma razão, eram diferentes e isso nem sequer é, repito, uma apreciação de valor, é um facto, tenha paciência.
Que é “uma história única que merece ser contada”, é óbvio. Que se conte a história toda, defeitos e qualidade. Que para além dos benefícios cociais, creches, etc, se fale também nos prejuizos ambientais, enormes, para a comunidade e os trabalhadores, no Barreiro, por exemplo, ou na repressão a quem não apreciava o paizinho dos trabalhadores (confesso que me irrita um bocado o paternalismo em relação a estas figuras, coisa, alias, bem portuguesa).
E quanto ao prejuizo para a CUF… parece-me que o balanço dos benefícios e prejuizos deu um razoável saldo positivo para a CUF, não?. Mais do que tinham? Aliás, mais do que lhes concederam? Nunca houve, e não haverá nunca, um grupo em Portugal com a dimensão relativa que eles tinham. O Belmiro é um dono de mercearia, comparado com eles. Não é com este regime que o homem chega lá…;)
Ah, é verdade, não me impressiona muito para aí além a história da devoção ao “principe” da parte dos trabalhadores da Herdade da Ravasqueira. Era uma excelente pessoa, simpatico e atencioso para com os trabalhadores da herdade? Ainda bem, pronto. Nem eu tenho nada de pessoal contra o homem. Eu falo genericamente da CUF e neste grupo sempre houve gente satisfeita e gente insatisfeita na CUF e demais propriedades da familia. Para a gente insatisfeita, o Alfredo da Silva sabia bem usar os meios do Estado, como a policia politica e a GNR, ou as milicias do regime, a Legião Portuguesa. Pode-se dizer que "tirou partido das condições" e "soube aproveitar as oportunidades"...
Pedro