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Isto de o mundo olhar para si próprio segundo a grelha dos EUA provoca graves injustiças. John Lennon, por exemplo, ficou para a posteridade com aquela aura de hippie que o ressentimento da contra-cultura americana dos anos 70 gostava de realçar. Um amigo (meu e desta casa) diz que os Lennon lhe causam o mesmo tipo de reacção negativa que a família Soares - o que faz algum sentido: ambos os nomes simbolizam uma espécie de aristocracia de outros tempos, incontestada por gerações passadas e largamente alheia à realidade actual. É pena. Lennon escreveu ou co-escreveu pelo menos 50 das 100 melhores canções de sempre (e sim, três das piores: "Imagine", "Give Peace a Chance" e "All You Need Is Love"). Qualquer melómano pop devia reconhecer a herança. Ela está absolutamente em todo o lado, da pop mais xaroposa à mais experimental, da mais popular à mais recôndita. A maioria, que nunca verdadeiramente conheceu os Beatles, é que ainda não percebeu.
Na impossibilidade de se ver Deus, ontem pudemos ver e escutar ao vivo, no Santiago Alquimista, o Seu Filho. Não é propriamente o seu Profeta. Não o quer ser nem nós queríamos que o fosse. Mas o Pai também lá estava. Na voz de timbre praticamente igual, nas feições, nas mudanças inusitadas de acordes.
Veio sem a orquestra com que toca no vídeo em baixo, sem os amigos Vincent Gallo e Beastie Boys, mas bebeu aguardente e espalhou alegria entre os presentes com a sua dor de corno feita álbum quase-conceptual.