por Henrique Burnay, em 27.02.07
O episódio das urgências é bem mais importante do que possa parecer. Até hoje, e com excepção significativa do caso das maternidades, ainda assim com outra dimensão, Sócrates tratou de transformar os seus confrontos em guerras entre o bem e o mal, o certo e o errado. De um lado, sempre um governo reformista, incapaz de se retrair perante os interesses instalados. Do outro, os ditos interesses instalados, os malandros. As sagas têm sido quase sempre iguais. Sócrates e os professores preguiçosos, Sócrates e os médicos gananciosos, Sócrates e os juízes calões, Sócrates e os funcionários públicos que ganham muito e não fazem nenhum. A estratégia foi quase sempre esta. Até agora. Desta vez do outro lado não estavam maus, ricos, famosos ou poderosos. Estavam uns desgraçados que o azar fez nascer e viver nos confins (ou nem tanto, o Montijo não é exactamente no fim do mundo).
E foi essa a novidade que obrigou Sócrates - ou Correia de Campos por ele - a ceder. Considerando que o Governo pensou antes de agir (uma presunção elidível), o caso das urgências revela que quando o adversário não é diabolizável, Sócrates cede.
Irremediavelmente, este foi o primeiro de muitos confrontos assim.