por Rodrigo Moita de Deus, em 27.02.07
Primeiro episódio
Eram 17:00 do dia 20 de Janeiro. No número 11 da Avenida António Augusto de Aguiar, Pedro Cruz subiu no elevador para ver as obras embargadas no apartamento. Levou duas pauladas e quinou. Paulo Cruz era um benfiquista ferrenho e excelente pianista. Reunia com os amigos às quartas-feiras para jantares e provas de vinho.
A mulher, Maria das Dores, não viu nada. Grande como um tonel, Maria das Dores preferiu subir setenta e nove degraus porque “sofre de claustrofobia”. Comoção geral. Pobre viúva. “Nem Pasolini se lembraria de fazer um filme destes”, declara com erudição o amigo da família José Castelo-Branco (o próprio).
Segundo episódio
O filho de Maria das Dores, David Mota (com dois “t”s), vem dos estados unidos consolar a mãe e chorar a morte do padrasto. De David dizem ser “um jovem brilhante, inteligente e que percebe imenso de moda”. Amigo do cabeleireiro Duarte Menezes, o jovem passeava-lhe muitas vezes o cão. Nem por isso teve vida fácil “O pai ajudou-o sempre mas queria distância por causa dos seus maneirismos e, o padrasto, não concordava com o seu estilo de vida tendo sempre ficado muito distante dele”, contou um amigo. Talvez por isso David Mota (com dois “t”s) instalou-se em Nova Iorque para trabalhar como produtor de moda na revista ‘Vogue’, com dinheiro que lhe foi dado pelo pai. Sim, o pai. David confidenciava aos amigos, "o seu progenitor não era um milionário, mas era um homem abastado que não lhe deixava faltar nada".
Terceiro episódio
Alguns dias depois do homicídio, a polícia descobre nas mãos do motorista a arma do crime ainda suja com o sangue do patrão. No extracto da conta de telemóvel de Maria das Dores, a chamada fatal para o serviçal poucos segundos antes do crime. Poucas dúvidas restavam: Maria das Dores era a mandante do crime. Em causa, o anunciado divórcio do marido que a deixaria sem cheta.
Quarto episódio
E pronto. David Mota (com dois “t”s), tem de regressar para os Estados Unidos. Não sem antes se queixar, em entrevista, de ter sido abandonado pelos amigos. Pedro Caldeira, o “leal companheiro” responde-lhe, também em entrevista: “não me interessa ter o David como amigo”. David era um homem cada vez mais sozinho. E sua mãe também. Até o cabeleireiro, Duarte Menezes, disse à imprensa que estava numa “pausa” na amizade. Pausa na amizade. A verdade é que a relação entre ele e a família Cruz/Mota (com dois “t”s) nunca mais foi a mesma desde que o pequeno David lhe trocou os passeios do cão por Nova Iorque.
Mais fiel foi José Castelo-Branco. Mesmo sabendo das acusações que faziam à amiga Maria das Dores, tratou de visitá-la na prisão de Tires. Fora do horário de visita e numa sala especial. Cortesia do director.
Quinto episódio
Fraco consolo. Poucos dias depois, nova punhalada nas costas de David Mota (com dois “t”s). Desta feita o próprio pai, senhor Mota (só com um “t”) que, em entrevista, nega ser “abastado”. Afirma ser um “simples professor” pouco incomodado com os “maneirismos” do filho mas chateado por este lhe ter palmado 150 mil euros para financiar a ida para Nova Iorque.
(queria agradecer ao
Correio da Manhã sem o qual nada disto teria sido possível)