por Alexandre Borges, em 30.11.06
Nunca me saíram bem. Disse um banal "Papá", ou arraçado disso, aí por volta da idade normal de cometer o erro de se começar a dizer o que se pensa. Uma vulgaridade. Tenho um amigo cujo filho disse "carro" e um outro amigo que alega ter exclamado, ele próprio, alto e bom som, "Chalana".
Não sei se acredite. Ou se não acredito por inveja.
Ainda hoje, tento convencer os progenitores de que, algures de entre aquela amálgama de sons salivados, brotava, aqui e ali, um evidente "Shéu", por vezes mesmo o nome completo do médio: "Shéu Han", mas a sua concordância lassa sabe-se a piedade.
Nos blogs, o nível de dificuldade aumenta: há quem grite, ao primeiro post, "Wittgenstein", ou "zeitgeist", "Alberto João", "Sócrates", "TGV", "muito meu amor", letras inteiras dos Smiths, contestações à Teoria da Relatividade Restrita, enfim. Um pagode (valha-nos ser tempo de discussão do aborto e poder bastar, sem mais complexidades, acenar com um "não" ou um "sim").
Podia pedir desculpa ao Paulo por nunca ter dado uso à 'invitation' para a versão blog da Atlântico. Ou, acompanhado de um sorrateiro toque de cotovelo, explicar ao Rodrigo que dei, por fim, com o registo para aceder ao 31, algures no meio do caos nervoso da caixa de e-mail. Podia pronunciar, muito aplicadamente, "Miccoli" ou "Katsouranis" ou "Mantorras, vê lá se atinas".
Mas, que diabo!, um conservador é um conservador. Se é uma primeira palavra que se pede, fique a de sempre: Papá!