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Avaliar o carácter de um político não é bizarria nenhuma. Nisso concordo com o Pedro Lomba. Mas a um político, e também a a um comentador, fica sempre bem ser comedido nos julgamentos de carácter. Porque com a medida que julgares, assim serás julgado.
Por exemplo, como é que se julga o carácter de um político que em disputa eleitoral no seu partido diz que uma medida fiscal proposta pelo seu adversário é irresponsável e demagógica, e um ano depois faz dela uma bandeira do seu programa eleitoral? Como é que se julga o carácter de uma pessoa que, enquanto candidata à liderança de um partido diz que se visse o nome de um seu adversário num boletim de voto, não votaria nele,e enquanto líder do dito partido o escolhe para candidato à maior câmara do País? Como é que se julga o carácter de um líder partidário que diz que, se o fundador do seu partido ainda fosse vivo, não faria diferente de si próprio? Face a cada um destes episódios, eu faço um julgamento negativo da atitude em causa. Mas prefiro não extrapolar para o carácter de quem as protagoniza. Porque com a medida que julgares, assim serás julgado.
No que respeita a julgamentos de carácter, o Pedro Lomba é mais intrépido do que eu. Sobre Passos Coelho, por exemplo, acaba de decretar que se trata de um intrujo de plástico. Esperar-se-ia que um veredicto tão peremptório estivesse solidamente fundamentado. Surpreendentemente, não. Pedro Lomba limita-se a avançar com uma suposta inconsistência temporal da posição de Passos Coelho sobre o TGV: em Janeiro seria a favor, em Dezembro contra. A partir daqui, constrói uma elaborada narrativa sobre como Passos abandonou as críticas a Manuela Ferreira Leite para lhe retomar as ideias. Ténue base para um julgamento de carácter. Mas com a medida que julgares, assim serás julgado.
Agora pergunto: como é que se julga o carácter de um comentador que, para sustentar um julgamento de carácter que faz, distorce o sentido das afirmações daquele que pretende julgar? É bem verdade que em Janeiro, Passos Coelho disse que "O TGV é um projecto estratégico que envolve compromissos assumidos por vários governos". Mas é falso que com essa afirmação pretendesse exprimir qualquer discordância com a proposta de suspender o TGV. Na realidade, poucos dias antes Passos Coelho afirmara que "o TGV não é um projecto para abandonar, porque é estratégico para Portugal, agora manifestamente não temos condições este ano e para o ano para avançar". Porque é que Pedro Lomba ignorou esta passagem: falta de carácter ou falta de google? Com a medida que julgares, assim serás julgado.