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Correio da História

por Rui Crull Tabosa, em 16.12.09

Terribil.
Eis como Camões definiu Afonso de Albuquerque.
Comandante militar, estratega geopolítico e soldado de Quinhentos, Albuquerque foi ainda integracionista convicto e percursor de um multiculturalismo sem complexos. Um líder nato.
Sob o seu governo, conquistámos Goa, Ormuz e Malaca, fechando quase por completo as portas do Índico à navegação árabe e ao comércio de turcos, genoveses e venezianos.
É sua a ideia de fazer um raid a Meca com a finalidade de raptar o corpo do Profeta, apenas o entregando caso os muçulmanos devolvessem Jerusalém à Cristandade. É também seu o plano de, por meio de levadas, desviar o curso do rio Nilo do Mediterrâneo para o Mar Vermelho, a fim de secar o poder do sultão do Egipto, que ameaçava os interesses portugueses no Oriente.
Proibiu o sati, o abominável costume hindu de sacrificar a viúva na pira funerária do marido morto. Prática a que os ingleses apenas no séc. XIX ousaram por termo.
Armas e balas eram, para Albuquerque, “a moeda em que El-Rei de Portugal mandava aos seus capitães” pagar impostos a Estados estrangeiros que reclamassem o senhorio de terras conquistadas pelos Portugueses.
Na última carta a D. Manuel, Albuquerque escreve, desgostoso, que “mal com os homens por amor del Rey, e mal com El Rey por amor dos homens, bom he acabar”.
Não sem que antes recomendasse ao monarca  o seu filho nos seguintes termos: “as cousas da Índia ellas falaram por mim e por elle: deixo a Índia com as principaes cabeças tomadas em vosso poder, sem nella ficar outra pendença senam cerrar se e mui bem a porta do estreito” de Áden.
Cumprem-se hoje exactamente 494 anos sobre a morte de Afonso de Albuquerque. E daqui a dois dias 48 sobre o fim do Estado Português da Índia. Que teve como um dos últimos heróis Aniceto do Rosário, morto a defender Damão em 1954.


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De JV a 16.12.2009 às 11:50

Prática a que os ingleses apenas no séc. XIX ousaram por termo
 
«Apenas no séc. XIX ousaram por termo»? Mas em que século se inicia  a presença colonial inglesa na Índia, caríssimo?
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De Rui Crull Tabosa a 16.12.2009 às 12:17

Caro JV,
Como bem sabe, os ingleses iniciaram o seu estabelecimento na Índia no início do séc. XVII, progredindo ao longo desse século e no seguinte, principalmente a partir do Golfo de Bengala, mas também na costa ocidental daquele subcontinente (lembre-se de Bombaim, cedida pelos Portugueses aos ingleses em 1661 a título de dote, como forma de eles não nos atacarem na nossa luta pela independência). É verdade que o domínio total ´do subcontinente indiano apenas se contretizou no séc. XIX, mas como referi, nos dois séculos anteriores eram já vastos os territórios sob domínio inglês.
Ora, Albuquerque proibiu o sati mal conquistou Goa, não esperando 100 ou 150 anos para o fazer, como sucedeu com os ingleses.
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De JV a 16.12.2009 às 19:57

Confesso que desconhecia que a presença inglesa na Índia começara antes do séc. XIX. Retrato-me pelo que disse.
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De J.P.Cardoso a 16.12.2009 às 14:32

Caro JV,

A presença colonial inglesa na Índia inicia-se no séc. XVII. Em 1612 estabeleceu-se o primeiro entreposto comercial inglês em Surat , e mais que não fosse com o casamento de Catarina de Bragança com Carlos II em 1662 Bombaim passou para as mãos da coroa Inglesa. Provavelmente estaria a referir-se ao domínio político completo de praticamente todo o subcontinente indiano que, esse sim, ocorreu durante o séc. XIX.

Cumprimentos,
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De Chico Esperto a 16.12.2009 às 12:20

Excelente nano-mini-micro-biografia!
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De Réspublica a 16.12.2009 às 12:56

São homens destes que fizeram e fazem falta em Portugal...
Quanto ao corpo do profeta mafamedade é complicado, é que segundo os islão ele subiu ao céu, não existe corpo... mas a ideia era interessante, cá por mim até acho que Israel o deveira fazer.
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De Insatisfeito a 16.12.2009 às 13:22


De 1503, início das actividades bélicas de conquista, até 1515, ano da sua morte, decorreram apenas 12 anos. Ao seu dispôr um número irrisório de homens para tão vastos domínios conquistados, de Ormuz a Malaca, e a intriga na invejosa e inútil corte real.

Graças a ele Portugal ficou um país poderoso e respeitado. Quiçá o nosso maior herói.

Com muito mais gente ao seu dispôr e mais tempo de governação Sócrates afunda e ridiculariza o país.
 

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De quatro_tempos a 16.12.2009 às 13:44

Resumindo:
Um manual de maus costumes .
Nem George Bush fez tanto em tão pouco tempo !
Missas e pirataria ............Amém
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De Rui Crull Tabosa a 16.12.2009 às 16:05

É sempre perigoso julgar o passado com os 'seus' olhos do presente.
De resto, sugiro que se informe um pouco mais sobre a figura de Albuquerque, em vez de atirar uma 'atoardas' para o ar, que só evidenciam um pacifismo de moda, ignorante e atrevido.
Lamento ter de lhe escrever isto.
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De fernando antolin a 16.12.2009 às 16:20

Apenas como precisão,Aniceto do Rosário tombou a defender o posto de polícia de Dadrá,jurisdição de Damão,como o era também Nagar-Aveli. Mas isso,meu amigo, são factos que são "para esquecer"...coisas dos tempos...infelizmente.
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De Rui Crull Tabosa a 16.12.2009 às 16:39

Agradeço a sua precisão que, de resto conhecia. Mas às vezes impera a 'ditadura' de não podermos estender muito a prosa e a referência aos enclaves de Damão alongaria ainda mais o texto.
Em todo o caso, permita-me registar com agrado o seu comentário, que os nossos mortos bem merecem.
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De quatro_tempos a 16.12.2009 às 16:42

"ignorante e atrevido."

Pronto . Está bem. A sua verdade é melhor que a minha !
Nada posso fazer !


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De Rui Crull Tabosa a 16.12.2009 às 16:53

Desculpe lá, mas comparar Bush a Albuquerque é profundamente ofensivo para o segundo que foi, basta conhecer a sua história, um grande cabo de guerra e um político de génio.
Reduzi-lo a missas (nem ele era especialmente 'beato', mas claro que era crente, como na altura era habitual. Daí eu falar dos olhos do presente).
E, francamente: pirataria, isso foi o que albuquerque combateu!!!
Como é possível ter uma visão assim da história?
Bem sei que neste tempo de mediocridade faz parte da moda descredibilizar heróis Portugueses. Eu nunca irei por aí...
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De quatro_tempos a 17.12.2009 às 13:44

http :/ recil.grupolusofona.pt bitstream /10437/546/1/413-430-Padroado-TEOTONIO.pdf
Se não temos a mesma visão que o Sr., somos medíocres !
E... mais não digo !
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De Rui Crull Tabosa a 17.12.2009 às 15:47

Fui ver a 'visão' que o sr. 4 tempos truxe: nas poucas referências a Albuquerque a que a obra por si linkada procede (e o objecto do post era Albuquerque e não a acção do Padroado no Oriente, a qual, de resto, deve ser motivo de orgulho), refere-se com crítica implicita um frade que "passava" informações militares aos Portugueses, como se tal fosse digno de reprovação: um frade cristão colaborar com cristãos contra muçulmanos! Faça o favor de interpretar o séc. XVI, não como os olhos do 'politicamente correcto' do séc. XXI, mas inserindo-se na época de que pretende falar. Sabe, daqui a umas décadas, também essas visões audaciosas serão julgadas.
Nem é uma questão de mediocridade. só de desonestidade intelectual ou, o que é lamentável, deignorância.

 
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De Velho da floresta a 16.12.2009 às 17:28

Nação que não comemora os seus maiores, perdeu o seu sentido da história. Honra a este e a todos os outros heróis da nossa história. Se Afonso de Albuquerque tivesse sido inglês (ou yankee ), quantos filmes já teriam sido feitos sobre ele.

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