Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Antípodas

por Rui Crull Tabosa, em 20.12.09

Acertou, Paulo Pinto.

Mas, começando pelo fim, numa coisa concordamos: eu vejo a História pelo prisma de Portugal e o Paulo vê Portugal pelo prisma da História.
E essa diferença, aliás bem apanhada, diz tudo.
Eu não sou neutro, não pertenço à arbitragem e nunca olharia para a minha Pátria com um olhar distante ou sem um sentimento de pertença.
 
No seu primeiro post refere que fui ao armário buscar “velharias”, que não reflecti sobre “o personagem” Afonso de Albuquerque, dei-lhe polimento, cantei o hino, etc. Argumentos? Não, meros preconceitos seus. Aprenda que pode haver Portugueses que nutrem admiração por outros Portugueses, como foi o caso de Albuquerque.
Depois, do alto da sua grandeza, ironiza escrevendo “que Portugal foi grande, oh tão grande, e depois desinchou, mirrou e murchou até chegarmos à apagada e vil tristeza, sigh! dos nossos dias.” Voltamos ao mesmo. O Paulo goza com Portugal e com a sua História. Como considerar de outro modo esta frase que evidencia tanta vergonha e desprezo pelo nosso passado colectivo, numa frase digna dos Monty Pyton…
Depois critica Camões “a forma como Camões definiu Albuquerque”. Ok. Argumento bestial, de que um e outro devem estar a dar voltas no túmulo. Desculpe lá, ó Paulo, mas enxergue-se antes de criticar o génio literário de Camões.
Põe em causa que eu tenha considerado Albuquerque um "integracionista convicto e precursor de um multiculturalismo sem complexos". Que foi outra coisa senão os casamentos mistos que Albuquerque tanto promoveu? Não conhece as inúmeras medidas de protecção que este dedicou a naturais de Goa contra os poderosos, fossem estes Portugueses ou orientais? Não sei, mas o que parece é que para si o multiculturalismo é os ocidentais permitirem tudo aos outros povos, pedirem desculpa a todo o momento, atitude que acaba sempre no desprezo com que os outros olham para nós (veja o caso dos muçulmanos, com os seus minaretes e burkas, e pergunte quantas igrejas se podem construir lá nos emiratos ou na Arábia…
Comparar Albuquerque a Gandhi é verdadeiramente o cúmulo do ridículo: outros tempos, outros costumes, outras políticas. Não percebe que não podemos olhar o passado com os olhos do presente? Então não percebe História, ao contrário do que garante. Depois, o Paulo não percebe nada do que escrevi: a ideia de Meca não era de saquear a cidade, mas de raptar o corpo de Maomé. Chantagear o sultão do Cairo? Que ideia? O projecto era o de desviar o curso do Nilo do Mediterrâneo para o Mar Vermelho e secar o Egipto. Coisa bem diferentes do que me atribuiu, mas que é natural que não atinja ou alcance. Para si, a referência que fiz a esses projectos foi uma ”enumeração parola”. É tão triste ser tão pequeno e gostar tanto de achincalhar aqueles que fizeram a História.
Aliás, se Albuquerque não morresse poucos anos depois, pode estar certo que as referidas operações teriam o mais largo alcance geopolítico. Mas, é verdade, isso não lhe interessa.
Quanto a Albuquerque ter acabado com o "abominável costume hindu" do sati, o Paulo apenas diz que “o hinduísmo estava evidentemente cheio de coisas "abomináveis" (a Europa cristã é que estava, nessa altura, cheia de coisas, talvez, "adoráveis", não?); valeu-lhes o bom Albuquerque, certamente por convicção feminista.” Portanto, goza o facto de uma mulher ser queimada viva na Pira funerária do marido. Sem comentários para esse seu politicamente correcto parágrafo de sarjeta.
Quanto à pirataria, não vale a pena. Para mim, piratas eram muçulmanos e outros bandos que infestavam o Índico (recordo-lhe que Macau passou à soberania portuguesa precisamente como prémio de termos acabado com a pirataria no Mar da China). Para si, não havia lá piratas. Eram “rivais” e “adversários”. “era gente que há séculos ali vivia. Eram piratas. Porquê? Porque eram inimigos do Terríbil.” Para si, os Portugueses é que foram invadir aqueles espaços, presumo que ilegitimamente. Não sei mesmo se, para si, Albuquerque não setia um pirata. Tanto pior para si. Mas adiante.
Depois verbera a colonização portuguesa. Como se não houvesse antropofagia na América do Sul, escravatura em África, exploração violenta de povos da Ásia por parte dos mercadores árabes, etc. Continue a rebaixar os portugueses e a História dos descobrimentos, que essa é uma pecha nacional, de que o Paulo é um bom exemplo.
Depois tem um momento de lucidez com a seguinte frase: “ Mas lá no fundo, no fundo, continuamos a roer-nos de invejazinha, não continuamos?” Pois é. A inveja de se não perceber e menos ter a coragem daqueles navegadores e conquistadores dos secs. XV e XVI, dá nisso: essa invejazinha pequenina de gostar de dizer mal de quem fez a História do nosso País.
Quanto às portas do Índico: O centro era Goa, Ormuz a principal entrada e saída de especiarias do Índico para as rotas da Arábia que as trariam para a Europa, e Malaca era um dos principais entrepostos orientais dessas mesmas especiarias. Não percebe que controlando esses pontos (com Áden) toda a navegação do Índico passava a depender dos Portugueses? Paciência. Olhe para o mapa.
Refere-se a Albuquerque como “um homem odiado por soldados, marinheiros, fidalgos, mercadores, exceptuando uma meia-dúzia de fiéis, era "um líder nato".” Santa paciência. Leia qualquer biografia de Albuquerque para conhecer as intrigas na Corte portuguesa, as cartas envenenadas que capitães despeitados escreviam a D. Manuel ou, até, a própria carta de D. Manuel em que este se mostra, embora já tardiamente, arrependido de ter substituído Albuquerque por Lopo Soares de Albergaria.
Enfim, no meio de tanto disparate anti-português lá reconhece que Albuquerque foi um génio.
Depois fala de ele ter uma “visão de conjunto do Índico, de que tudo aquilo era uma enorme placa giratória interdependente, e que Portugal, com poucos recursos humanos e materiais, necessitava de um plano estratégico global e integrado, que ultrapassasse a mera perspectiva local ou regional, para conseguir sucesso duradoiro.” Pois, isso tinha a ver com as tais “cabeças da Índia”, mas o meu amigo, uma vez mais, não percebeu.
No seu segundo Post, começa por escrever que eu “rosno”, etc. Não irei por aí. Posso discordar de si, mas não creio que deva dizer que o Paulo rosna, ladra ou emite outros barulhos impróprios do ser humano.
Faz depois considerações sobre as suas perspectivas da História ou sobre o papel de Portugal no Mundo. Que, como já disse, não são as minhas. Não vale a pena insistir, porque temos padrões e valores diferentes. Estruturalmente diferentes.
Quanto a outras considerações que fez, elas são de tão baixo nível que não merecem qualquer resposta. Mas resolva lá os seus problemas, partilhe-os com o psiquiatra e não com quem nada tem a ver com eles.
Quanto ao final, as “Coisas mais terra-a-terra:”
A famosa frase do "mal com os homens por amor del Rey", tem razão, não consta de carta mas da seguinte passagem da pág. 229, parte IV dos Commentários de Afonso Dalboquerque, ed. da INCM: “Afonso Dalboquerque como soube, que era chegado outro Governador, e seus imigos muito favorecidos delRey, alenantou as mãos, e deo a nosso Senhor, e disse:…
Depois, o Paulo diz que “Há-de o fervoroso blogger dizer-me exactamente onde está publicado o excerto da "carta" ("as cousas da Índia...") que menciona no seu primeiro post.” Cito uma vez mais os commentários, pág. 230 “E quanto às cousas da Índia não digo nada, porque ela fallará por si e por mim”. Satisfeito?
Continua o Paulo: “Gostava de saber onde se apoia para dizer que, até à viagem de Gil Eanes, se "dizia" que para lá do Bojador "só havia fogo e monstros marinhos": meu caro, basta ler alguns textos sobre o Infante D. Henrique (outro imperialista…) para descobrir que a crença popular via o Mar Tenebroso, que se encontrava além do Bojador, como “povoado de espectros, de fantasmas, de monstros horrendos e malfazejos” (Infante D. Henrique, de Mário Viana, 1937)
 E o Paulo prossegue: “Alguém me esclareça como é que, dobrando "as Tormentas", se descobre o Atlântico;” Não percebeu, lamento. Foi dobrando o Cabo da Boa Esperança que finalmente a costa Atlântica de África foi totalmente descoberta. Daí, pelos vistos, ser útil o mapa que céu juntei no outro Post.
Por fim, o Paulo desafia: “Que prove e que me convença de que o povo português "dominou durante décadas o Índico".” Eu sei que lhe deve custar, mas basta ler qualquer livro de História para saber que entre a primeira década de Quinhentos (Francisco de Almeida a Albuquerque) até meados desse século, efectivamente, os Portugueses dominaram as rotas do Índico (veja D. João de Castro, etc.)
Concluindo, não vale, de facto, a pena. As insinuações maldosas, pequenas, que teimam em denegrir Heróis nacionais, sempre existiram e sempre existirão.
Não é por acaso que a última palavra dos Lusíadas é a “inveja” E essa doença sempre existirá enquanto houver homens pequenos apostados em vilipendiar Homens grandes.
Assunto encerrado.


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

Sem imagem de perfil

De Anónimo a 21.12.2009 às 04:25

Já que não se cansa de encher a boca com o patriotismo, use o poeta que diz "A minha pátria é a língua portuguesa" e aprenda a decifrá-la, a ler. Quando tal acontecer poderá, finalmente, comentar os textos que lê. Porque de todo este chorrilho o que fica claro é que não percebeu patavina do que o PP escreveu. Mete dó.
Sem imagem de perfil

De Moluco a 21.12.2009 às 04:30

Lá está... mais um papagaiozito a repetir-se!
Esse "poste do 2º degrau" não tinha aparecido já da outra vez?
Olhe... é assim - é mesmo possível pensar um dia pela sua cabeça! Não é preciso subir degraus, basta sair deles, está a ver? É mesmo simples!
Imagem de perfil

De Rui Crull Tabosa a 21.12.2009 às 10:09

Agradeço o seu comentário, tem medo de dizer quem é.
A sua posição contrária ao 'patriotismo' é esclarecedora da sua visão de Portugal.
E pode ir dar conselhos para outra banda, que eu não respeito quem os dá mas não se identifica. Finalmente, guarde o seu 'dó' e faça com ele o que melhor lhe aprouver...
Sem imagem de perfil

De Anónimo a 21.12.2009 às 22:57

Ehehehehe

façam-me rir, façam-me rir ... que sempre que me lembro do governo que me impuseram...só me lembro do tipo que foi ao focinho do Berlusconi...

Educadinha

Comentar post