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O primado da política

por Vítor Cunha, em 03.03.07
Meu caro Pedro,

tens sorte em ter uma namorada consultora. Precisas, provavelmente, de encontrar uma outra, mas jurista especializada em operações de mercado. Conheço uma muito jeitosa. Call me.

Agora a sério: não acharias estranho que o Estado português decidisse mudar toda a sua orientação dos últimos anos precisamente porque Belmiro exigia? Qual a leitura possível? «Sócrates cede aos interesses»? Não achas que se o Estado tivesse mudado de opinião em relação à «golden-share» e em relação aos estatutos já não o teria feito antes? Repara, e seguindo o teu raciocínio, esta abstenção pode até ser um sinal do que aí vem. O que falhou aqui foi a forma como o ofertante quis condicionar o Estado. E isso não é admissível. Sócrates marcou pontos porque fez aquilo que tu, certamente defendes: fez vingar o primado do poder político.
Por fim, e voltando às contas, os 6 por cento da CGD não determinaram o desfecho da OPA. Eram necessários 22,4% dos votos; o «não» venceu com mais de 46%. Essa diferença é tão expressiva que não carece de comentário. O mercado funcionou e o mercado disse «não». Pelo menos desta vez o «não» ganhou.
Abraço para ti e um beijo para a tua querida namorada,