Meu Caro Vitor:
Lamento informar-te, mas o Pedro tem toda a razão. Esta OPA foi mais um sinal claro de que o actual governo convive mal com o liberalismo, tolera-o mas ainda assim é uma camisa-de-forças que por vezes lhe provoca urticária.
No final quem ficou prejudicado foi o consumidor: Ao contrário do que aconteceu na rede móvel, temos hoje uma das mais baixas taxas de penetração da Banda Larga, com os preços mais caros. Não temos ainda TV sobre ADSL, e o concurso de Televisão Digital tem sido sucessivamente adiado para proteger o negócio da PTM no cabo. Tudo porque a PT, caso único na Europa, detêm a propriedade das duas únicas redes de acesso a casa do consumidor: o cabo e o cobre. Assim sendo, atrasando a introdução de inovações tecnológicas protege a rentabilidade da operação. Esta é alias uma postura coerente com o Choque Tecnológico apregoado pelo actual governo.
Os novos operadores nunca tiveram condições para poder crescer em rentabilidade. A Oni conseguiu uma operação rentável em Espanha (que vendeu à Tele2) mas só recentemente obteve EBITDA positivo em Portugal. A Novis tem entre os seus accionistas a France Telecom com operações rentáveis por toda a Europa menos em Portugal e a Tele2 multinacional com grande expressão no norte da Europa e em Espanha, nunca conseguiu atingir em Portugal, resultados operacionais positivos. A Cabovisão, apesar de EBITDA positivo nunca conseguirá recuperar o Capex (investimento em infra-estrutura) que colocou por esse pais fora. A Vodafone, multinacional sobejamente conhecida, sempre evitou a entrada no negócio da rede fixa por falta de condições de rentabilidade. Será que são todos incompetentes e incapazes?
A PT é o melhor exemplo da manipulação da opinião pública que existe em Portugal desde que o mercado foi supostamente liberalizado, em finais da década de 90. Sob o pretexto de manter a PT em mãos nacionais, evitaram-se sempre as medidas que conduzissem a verdadeira concorrência e abertura do mercado.
A OPA era a oportunidade de ouro que este governo teria para acabar de vez com uma situação de monopólio no mercado de telecomunicações fixas em Portugal. A OPA era a oportunidade para abrir o mercado da rede fixa à livre concorrência. Mas, quem melhor que Mário Lino, um homem que há pouco mais de 10 anos defendia um modelo de economia centralizado e colectivista, para abafar a “mão invisível” que o País precisava
Por fim, estou com curiosidade de ver a posição do PSD do Dr. Marques Mendes sobre a posição do estado na OPA. O PSD também tem responsabilidades na matéria. Foi durante o consolado do Dr Barroso que a regulação mais protegeu o operador monopolista PT. Talvez por isso se tenha mantido tão calado sobre o tema. É que nestas matérias o PSD não diverge, substancialmente do PS nem na forma nem no conteúdo.
Saudações liberais,