por Laura Abreu Cravo, em 14.03.07
Tinha cerca de 4 anos. Na escola, um pequeno selvagem
(que pode perfeitamente corresponder ao padrão do calmeirão) tinha tentado atirar-me para fora de um parque de areia onde costumávamos brincar. Não contente por a coisa não lhe ter corrido de feição, atirou-me o conteúdo de um balde de areia à cara: olhos cheios de areia, berraria total e pais chamados à escola. O meu pai dispunha-se imediatamente a ir esganar o selvagem para defender a princesa. A minha mãe ficou impávida, disse que não teriam nada a dizer sobre o assunto e levantou-se para indiciar a saída. No caminho para casa explicou-me que tínhamos de “lidar com as nossas feridas de guerra”. Dois dias depois trepei para a estrutura de um baloiço (ou coisa semelhante) e atirei um balde de areia ao pequeno selvagem que passava lá em baixo. Note-se: não atirei o conteúdo de um balde de areia, atirei um balde cheio de areia lá dentro. E abri-lhe a cabeça. Se bem me lembro, não o tornei a ver na caixa de areia.
(i) Moral da história: o importante não é ser o leão, é ser a cobra.
(ii) A minha fraca capacidade de fazer juízos de proporcionalidade na ponderação de valores quando o valor em causa seja a minha segurança pode ter causado uma hipertrofia da minha veia diplomática? Claro que sim. Mas não estou cá para a corrida para o Nobel da Paz. Para isso há gente no mundo bem menos imperfeita do que eu.
(iii) Esta história não interessa nem ao menino Jesus? Admito. Mas qual de nós não teve já a impressão de que a blogosfera não é mais do que um enorme pátio do Liceu (ou uma caixa de areia de parque infantil)?