Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Anda tudo embevecido com Nick Clegg, mas convinha que fôssemos começando a pensar na senhora aqui em cima (superiormente fotografada por Annie Leibovitz). Será ela a nomear o futuro Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha - incumbência constitucional que, desta vez - coitada -, lhe poderá trazer mais incómodo do que tem vindo a ser habitual.
Os menos versados no funcionamento dos sistemas eleitorais de tipo uninominal, em que vigora a regra winner takes all (aqueles que ainda continuam escandalizados com facto de Bush ter vencido as eleições de 2000 sem ter sido o candidato mais votado), talvez se surpreendam com o teor desta peça do Guardian, onde se noticia uma sondagem de que resulta a possibilidade de, no dia 6 de Maio, o vencedor das eleições ser, não o partido mais votado, não o segundo partido mais votado, mas sim o terceiro partido mais votado.
(e que tal um comentário do Pedro Magalhães?)
A escalada dos Lib-Dems na intenção de voto - verificada desde o debate da última quinta-feira - impressiona pelos números, mas tem um efeito irrelevante no número de assentos parlamentares que o partido de Nick Clegg poderá acrescer aos que já detém. No entanto, Clegg poderá esperar um benefício evidente por outra via: a influência desastrosa que a sua prestação terá nos Tories, impedindo-os de obter os votos necessários à conquista de muitos dos marginal seats na posse do Labour - que poderá assim ver a vitória cair-lhe do céu.
Convém ter em atenção que a sondagem em causa faz uma distribuição proporcional dos resultados nacionais em cada um dos círculos uninominais, não traduzindo minimamente o intensíssimo esforço que os Tories (com o dinheiro do non-dom Lord Ashcroft) têm feito naqueles marginal seats. Seja como for, não há dúvidas de que a derrota do partido mais votado é uma possibilidade real.
Na Grã-Bretanha, a Rainha (ou o Rei) nomeia como Primeiro-Ministro (se o quiser fazer, porque, no rigor constitucional, o Reino não tem que ter um Primeiro-Ministro) quem for incontestavelmente reconhecido como líder do partido mais capaz de conseguir no Parlamento uma maioria estável (tendencialmente absoluta). E é aí, precisamente, que reside a vantagem de Nick Clegg. Se tanto os Tories como o Labour estiverem em condições de, em coligação com os Lib-Dems, formarem uma maioria estável, Clegg será a chave da solução governativa e vender-se-á caro.
Aparentemente, estará mais próximo de Gordon Brown, que já demonstrou abertura às suas propostas de reforma do sistema eleitoral. Há muito que Clegg reclama uma alteração dos princípios de eleição dos Membros do Parlamento, no sentido de um maior reconhecimento da proporcionalidade, alterações essas que tornariam os Lib-Dems definitivamente mais relevantes nos Comuns do que o são com o actual sistema (para os Tories, essa é uma non issue).
No entanto, será possível que Nick Clegg, em nome da justiça de atribuir aos partidos uma representatividade equivalente ao número de votos obtidos, esteja contraditoriamente disponível a tirar o governo ao partido mais votado e a entregar a sua liderança ao que fica em terceiro lugar (porventura até atrás do próprio Lib-Dem)?
Vão ser dias interessantes.