por Laura Abreu Cravo, em 19.03.07
Fiquei a saber, num jantar, em conversa com amigos que têm filhos em idade escolar, que, nas escolas, foi abolido o termo “castigo”. Quando se portam mal, os petizes são sentados num canto da sala onde devem pensar. Repito: pensar (não pensar naquilo que fizeram para depois concluir o que quer que seja sobre a bondade dos seus actos, mas tão somente pensar). Ora, se bem percebo, a cominação de uma tropelia passou a ser o incitamento a exercitar o cérebro. Como se pensar fosse uma coisa má, lesiva, impositiva e sem a qual se possa passar toda uma vida desde que a pequena criatura vá, a cada momento, cumprindo os mínimos olímpicos dos cânones civilizacionais.
Não sou apologista dos castigos físicos ou do terrorismo psicológico nas escolas nem no seio das famílias. Não me choca, todavia, a providencial palmada num descontrolado estafermo com tiques de ditador em momentos extremos. Acho que as crianças tem de crescer com noções de responsabilidade (que lhes deve ser incutida) e autoridade, disciplina e rigor (que devem saber identificar, reconhecer e respeitar), têm de ter referências de comportamento e valores e de saber distinguir o bem do mal. E cabe aos educadores (primordialmente em casa e, subsidiariamente, nas escolas) encontrar a metodologia adequada. Sem tareias, sem berraria, sem masmorras húmidas e trabalhos forçados.
Não pode deixar de me chocar que a preocupação do politicamente correcto possa estar a alimentar gerações futuras dotadas de apatia moral.
O “castigo”, seja pela privação de uma benesse ou do acesso a um divertimento ou pela imposição de uma tarefa menos simpática, sempre me pareceu uma forma moderada e pouco intrusiva de fazer com que o ser humano (em qualquer fase da vida) repense escolhas tortas. No futuro, as crianças não vão ter da vida a complacência dos educadores politicamente correctos e verão, inevitavelmente e sem dó nem piedade, reflectidas na própria pele, as piores consequências dos seus actos menos reflectidos ou pior conseguidos.
Mais: pensar não é, nem pode nunca ser um castigo. É uma necessidade básica como respirar e um prazer como comer uma boa refeição. E um castigo (se proporcional e adequado), pode, a longo prazo, ser uma coisa boa.
Por alguma razão Fiódor Dostoiévsky não chamou, a um dos melhores livros de sempre, Crime e Pensamento.