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Concordo no essencial com o Rodrigo, mas a jornalista Ana Sá Lopes não tirou qualquer conclusão: limitou-se a ouvir e a registar a opinião de um grupo de personalidades marcantes da direita católica sobre a promulgação dos casamentos gays pelo Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa é o único que diz que Cavaco Silva não sai prejudicado. Eu concordo.
Cavaco Silva fez aquilo que melhor serve a sua reeleição: no momento da verdade, mesmo que diga agora o contrário, a direita - mesmo a mais religiosa - não vai deixar de votar nele contra qualquer outro candidato das causas fracturantes, no caso Manuel Alegre. A não ser que seja suicida. Para ser reeleito, Cavaco não deve hostilizar o eleitorado ao centro e à esquerda, sobretudo quando se trata de batalhas perdidas. Se o Presidente vetasse o diploma estaria a dar mais uma semanas de alegria à esquerda fracturante culminando numa festa esquerda chic em pleno parlamento, quando fosse reaprovada a lei. Pelo que se leu em alguns blogues mais festivos, percebeu-se a desilusão por Cavaco lhes ter tirado essa oportunidade. Assim, foi ele que teve a última palavra sobre o assunto. Mais: se tivesse vetado, Cavaco estaria a oferecer de bandeja ao candidato Manuel Alegre a única bandeira capaz de unir as várias esquerdas nas presidenciais.
Finalmente, a direita - incluindo a católica - só se pode queixar de si mesma na forma como os casamentos homossexuais foram aprovados. Só se pode queixar de si mesma no modo como travou esse e outros combates culturais - nunca apoiou, por exemplo, os projectos editoriais que poderiam marcar a opinião num sentido diferente em Portugal, nunca soube explicar de modo mobilizador aos portugueses porque combatia os casamentos homossexuais. O mesmo, aliás, tinha acontecido com o aborto. Não se atribua por isso ao Presidente da República culpas e responsabilidades que não são dele - e alguns dos entrevistados pelo i bem podem limpar as mãos à parede.