por Tiago Geraldo, em 20.03.07
Portas voltou e trouxe novidades. Ainda que a turbamulta de «pórtistas» que o seguirá acriticamente até ao apocalipse não tenha mudado em absolutamente nada, Portas mudou – e devemos todos reconhecer-lhe pelo menos isso.
Onde tínhamos um Ministro às riscas de prestimosa e irrepreensível gravata, temos agora um Portas de camisas discernivelmente modernas, a que se acrescenta a dignidade e a masculinidade de uma abertura próxima do umbigo, somada ainda à exibição admiravelmente esclarecida de uma controversa opção depilatória.
Depois, onde tínhamos o Portas institucionalista, respeitador da estabilidade e normalidade democráticas, um político ciente e judicioso na gestão das regras do jogo (o
Henrique Raposo até costuma falar da importância destas coisas), temos agora um Portas convertido à democracia total, à vontade popular e, pela mão do democrata-cristão Hélder Amaral, à acção directa.
Regras processuais? Ora, ora – isso são desculpas de mau perdedor. Até porque as vozes que hoje exaltam a intocável majestade da maioria nem são as mesmas que costumam andar com Tocqueville debaixo do braço. E grande parte dessas vozes (com a relevante excepção do próprio Portas, deve dizer-se) também não são as mesmas que depois do último referendo acenaram ferozmente com a Constituição e a regra (processual) da não vinculatividade do mesmo por terem votado menos de 50% dos eleitores.