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Em política nada é eterno e por isso existe volatilidade no voto. Estou certo que não serás o único que votou Cavaco Silva nas anteriores eleições que não o irá fazer nas próximas. Mas se até posso fazer um esforço para compreender a decepção do não-veto na questão do casamento gay ou também do timing da sua intervenção no Verão passado prejudicando o PSD nas legislativas, não posso compreender a tua crítica à "concertação estratégica" do mandato de Cavaco Silva. Durante a campanhas das presidenciais de 2006, Cavaco sempre falou na cooperação estratégica com o governo, mesmo quando Augusto Santos Silva e outros socialistas berravam ao lado de Mário Soares que Cavaco iria promover um golpe de estado constitucional se fosse eleito PR. E eram esses mesmos que diziam que Cavaco Silva não iria deixar José Sócrates governar. Por isso acho que Cavaco cumpriu aquilo que dele se esperava: ofereceu a José Sócrates todas as condições para que governasse. Infelizmente este não soube aproveitar, e encaminhou o país para o abismo. Eu também teria preferido que Cavaco Silva tivesse actuado mais vezes junto do Governo, como o fez na altura em que o Sócrates e Lino juravam que o novo aeroporto de Lisboa seria na Ota. Mas não podemos esquecer que durante 4 anos Sócrates governou com um mandato claro dos portugueses. E, apesar de tudo, voltou a ser reeleito ano passado. O Presidente da República não deve ser o contra-poder do governo. Não é dessa forma que encaro o mandato presidencial e não foi nessa plataforma política que Cavaco foi eleito. Partilho as preocupações que enuncias sobre os problemas demográficos e da família. Mas esses atacam-se a partir de São Bento. E é para aí que devemos apontar baterias para mudar Portugal. Não é para a Presidência da República.
Há motivos para criticar Cavaco Silva. E certamente muitos militantes do PSD também têm razões de queixa. Em 2005 Cavaco Silva desiludiu muito boa gente do PSD quando recusou fazer parte de um cartaz ao lado de Santana Lopes na campanha para as legislativas. Recordo-me de ouvir muitas pessoas do PSD a dizerem que não iriam votar Cavaco nas presidenciais. No fim, a esmagadora maioria acabou por votar nele. Uns por genuíno entusiasmo, outros pela escolha do mal menor. O voto de muitos eleitores é muitas vezes decidido desta forma, não tenhamos ilusões. Neste momento é previsível que tenhamos quatro candidatos presidenciais (não acredito que esta roda viva de folclore à direita consiga apresentar um candidato minimamente credível): Cavaco, Alegre, Nobre e o do PCP. Dizes com convicção que Cavaco vai perder. Ou acreditas que ainda irá surgir um outro nome com força, ou então achas que entre Alegre e Nobre está o próximo Presidente da República. Em Janeiro voltamos a falar.